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      Arnóbio Rocha

      Advogado civilista, membro do Sindicato dos Advogados de SP, ex-vice-presidente da CDH da OAB-SP, autor do Blog arnobiorocha.com.br e do livro "Crise 2.0: A taxa de lucro reloaded".

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      Somos 99%: procura-se uma nova jornada de junho? Esqueceu-se de seus resultados?

      Vive-se um momento de intensa luta política e de classes no Brasil e no mundo

      Donald Trump e Lula (Foto: Reuters | ABR)

      Vive-se um momento de intensa luta política e de classes no Brasil e no mundo. Os enfrentamentos são cada vez mais globais; os movimentos e construções precisam ser estratégicos, combinados, com táticas que fortaleçam uma resistência política, social e econômica, com todas as contradições que a elas estão associadas. Não tem como errar, nem criar situações que, ao invés de fortalecer, nos dividem e podem nos enfraquecer diante de inimigos mais do que poderosos, destruidores e disruptivos.

      Esse texto é uma reflexão sobre os últimos doze anos e algumas de suas características, para contribuir com o debate na esquerda e entre os setores progressistas.

      Passados doze anos das famigeradas jornadas de junho de 2013, o Brasil ainda vive uma grande incerteza política e institucional. As tais jornadas, que se iniciaram por uma justa reivindicação contra o aumento das tarifas das passagens de ônibus/metrô nas capitais (R$ 0,20), depois viraram um movimento dominado por algo desconhecido ali: as forças de extrema-direita.

      Uma das maiores contradições daquela luta é que Dilma foi a maior vítima — justamente ela, que mais havia ajudado a refrear aumentos maiores das passagens com a diminuição da CIDE dos combustíveis. No entanto, não por mero acaso, Dilma acabou no olho do furacão da enorme manipulação.

      O “não é só por R$ 0,20” virou tudo:

      1. Escola padrão Fifa
      2. Hospital padrão Fifa
      3. Defesa do MP
      4. Não vai ter Copa

      O que se iniciou pela esquerda serviu de plataforma contra o PT, Dilma, e a esquerda foi alijada do comando. Deu no que deu:

      1. Pariu a extrema-direita
      2. Lava jato
      3. Golpe
      4. Criminalização da Política
      5. Prisão de Lula
      6. Eleição de Bolsonaro
      7. Fim da CLT
      8. Retrocessos institucionais

      Foram nove anos de pancadaria sobre a democracia. Até setores de centro foram emparedados. Um refresco foi a campanha pela liberdade de Lula e sua recandidatura, com uma dura eleição de Lula — mesmo depois do desastre que foi o governo Bolsonaro, as 700 mil mortes da pandemia, por muito pouco ele não venceu as eleições.

      Logo se seguiu uma atabalhoada nova tentativa de golpe fracassada, com planos de matar Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes, que culminou com o 8 de janeiro. De toda sorte, abriu-se a possibilidade de embates políticos mais duros com um Congresso de ampla maioria da extrema-direita. Mesmo com todas as dificuldades, o Governo Lula III foi abrindo caminhos nessa imensa dificuldade, dessa quadra histórica iniciada em 2013.

      Esse fôlego institucional foi se perdendo, proporcionalmente à queda de aprovação do governo. O que permitiu o reagrupamento completo da extrema-direita, que resiste à condenação de Bolsonaro e dos líderes da intentona de 8 de janeiro. Passou a acenar com uma “anistia” e ameaça ao STF. Em outra mão, a extrema-direita resolveu abrir a disputa de 2026 à base da chantagem institucional, via Congresso, derrotando o Governo Lula em temas sensíveis, como a taxação dos bilionários.

      No pior momento do Governo Lula III, com a derrota no Congresso — que foi acachapante —, antes preparada por uma série de derrotas na derrubada de vetos presidenciais aos muitos “jabutis” que o Parlamento põe em Medidas Provisórias e Projetos de Lei, entre as derrubadas, a mais importante era sobre a diminuição do valor da energia elétrica e isenção para a população de baixa renda.

      Um caos?

      Contraditoriamente, foi a semana em que o Governo Lula III melhor conseguiu se comunicar com a população e apontar exatamente onde está o centro do problema: o Congresso, os sabotadores do país. Nas redes sociais, as menções ao Congresso foram negativas em mais de 90%. Colou na testa dele que a derrubada do IOF favorece aos bilionários, aos especuladores e às bets (jogos eletrônicos que causam dependência).

      A isso se somou o ataque de Trump contra a soberania do Brasil, exigindo o fim dos processos contra Bolsonaro, sob ameaça de um tarifaço que inviabiliza as exportações para os EUA, o segundo maior mercado para produtos brasileiros. Mais uma vez, uma boa reação do Governo Lula faz mudar o humor negativo, e se sente um novo momento da disputa política presente e para 2026.

      É no bojo desse pequeno avanço, depois de 12 anos de muitas dificuldades, uma parte desse campo progressista, de esquerda, lança um movimento “Somos 99%”, algo aparentemente correto, pela natureza da divisão da sociedade brasileira, dos poucos bilionários (56 para ser exato) e mais uns 140 mil que se constitui a camada burguesa que em tudo manda e dirige na real o Brasil, por vias direta ou indiretamente.

      Não obstante, frente ao ataque de Trump, além da recomposição de forças, na luta pela hegemonia da sociedade, esse movimento passa a ter um caráter que pode colocar o governo em situação pior do que a de 2013, pois, institucionalmente, a situação é mais caótica.

      De certa forma, alguns parecem querer emular 2013 — o que efetivamente conspira não contra o 1%, mas contra os 99%.

      O debate é complexo. Muitos desse campo embarcam sem entender todo o contexto, como se nada tivesse passado desde 2013 — de onde saiu o R$ 0,20 e quem efetivamente venceu!

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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