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Reimont Otoni

Deputado federal (PT-RJ), presidente da Comissão de Direitos Humanos, Minorias e Igualdade Racial da Câmara

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Respeitem a Memória e a História

Fascistas escondem a verdade e enganam o povo

São Paulo (SP), 21/09/2025 Manifestantes participam de ato contra a PEC da Anistia e da Blindagem, no MASP (Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil)

Nem mesmo a pressão das imensas manifestações deste histórico 21 de setembro, contra a PEC da Blindagem e a anistia espúria pretendida pelos bolsonaristas consegue inibir os fascistas. 

Agora, essa extrema direita delirante decidiu empastelar a História, para ludibriar o povo. Sugere que, no passado, a esquerda já pediu anistia. Dona Michelle usa até mesmo o nome e a foto do presidente Lula para mentir e enganar. Como distorcem os fatos! 

É importante esclarecer a sociedade. Sim, nós já pedimos Anistia, é fato. Fomos para as ruas em defesa da anistia. Mas que anistia pedimos? 

Não pedimos anistia para quem tentou e tenta golpe de estado, para quem conspira cotidianamente contra o país, para quem planejou o assassinato de um presidente e vice-presidente legitimamente eleitos e um juiz da Suprema Corte, para quem fere a Constituição e se recusa a responder por seus crimes. 

Pedimos anistia para os perseguidos políticos e seus familiares, afetados por uma ditadura cruel, imposta ao país por um golpe de estado pelos mesmos que hoje querem um novo golpe. Eles implantaram 21 anos de amordaçamento ao Brasil, com demissões, prisões, torturas, estupros, assassinatos, desaparecimentos forçados, censura, corrupção, endividamento do país, arrocho salarial, ataque às instituições.

Pedimos anistia para os perseguidos políticos e seus familiares, que tiveram que abandonar suas casas, escolas, amizades referências afetivas, emocionais e estruturais. Para os que perderam emprego, renda, estabilidade, a liberdade e, em milhares de casos, a vida. 

Precisamos lembrar o que foi o golpe civil-militar de 1º de abril de 1964. Não foi contra guerrilhas e guerrilheiros, como a extrema-direita insiste em repetir; não havia isso. Foi uma ação que derrubou o governo democraticamente eleito de João Goulart, que, segundo pesquisa do Ibope, na época, tinha 70% de aprovação às vésperas do golpe de 1964.

Com o golpe, a repressão deu a largada a uma onda de prisões de líderes políticos, militares, religiosos, artistas, sindicalistas, camponeses e todo e qualquer opositor. A primeira lista de atingidos pelo Ato Institucional nº 1 da ditadura, à qual seguiram-se várias outras, incluía mais de 3.500 pessoas. Nos primeiros meses da ditadura, 50 mil brasileiras e brasileiros foram detidos.

O Congresso Nacional foi imediatamente fechado, em um processo de extinção dos partidos políticos, que culminou em 1966, com a implantação do bipartidarismo. Cassaram o direito ao voto, tentaram silenciar a oposição. Dos 409 deputados federais eleitos, 166 foram cassados, em 1964. 

Quase 7 mil militares foram presos e desligados das Forças Armadas, sendo 35 mortos e desaparecidos; mais de 5 mil civis sofreram demissões, cassações e suspensão de direitos políticos; 1.800 civis foram comprovadamente presos e torturados, sendo 273 religiosos encarcerados por seu trabalho pastoral; ao menos 11 bebês e crianças foram presos e fichados, alguns deles submetidos ao horror de assistir às torturas impostas a seus pais; foram constatados 434 assassinatos sob tortura, seguidos de desaparecimento dos corpos.

São muitos os casos, absolutamente brutais e abjetos.

Foram milhares, repito, mas termino esse longo artigo lembrando Carlos Alexandre Azevedo, certamente o mais jovem prisioneiro político brasileiro, torturado e assassinado pela ditadura de 1964. 

Ele tinha apenas 1 ano e 8 meses quando foi preso no DEOPS de São Paulo. Seus pais, o jornalista e cientista político Dermi Azevedo e a pedagoga Darcy Azevedo, eram acusados pelo regime de dar guarida a militantes de esquerda. No dia 14 de janeiro de 1974, a equipe do famigerado delegado Sérgio Paranhos Fleury chegou à casa onde Darcy e o bebê se abrigavam e ela buscava ajuda para encontrar e tentar libertar o marido. Os policiais derrubaram a porta; no susto, o menino começou a chorar. Um dos policiais, irritado com o choro incessante, atirou-o ao chão, provocando ferimentos em sua cabeça. Carlos sangrou. Foi ainda submetido a choques elétricos, pancadas e sofrimentos que carregou por quase quatro décadas – sofria de fobia social, sem amigos, sem emprego. 

Carlos Alexandre “sangrou” a vida inteira. Suicidou-se em 2013, aos 40 anos de idade. 

Foi e é por essas pessoas que lutamos. Respeitem a memória e a história. Sem anistia para os golpistas!

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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