Reimont Otoni avatar

Reimont Otoni

Deputado federal (PT-RJ), presidente da Comissão de Direitos Humanos, Minorias e Igualdade Racial da Câmara

94 artigos

HOME > blog

Investigar Silas Malafaia é perseguição religiosa?

Líderes religiosos não podem se esconder atrás da fé para escapar da Justiça

Investigar Silas Malafaia é perseguição religiosa? (Foto: ABR)

Será Silas Malafaia um perseguido religioso, vítima de intolerância por ser pastor, como ele tem vociferado nas redes sociais? Ou trata-se de um cidadão brasileiro investigado por burlar decisões da Justiça e atuar em um esquema criminoso de conspiração e de supressão da democracia?

Falo como um homem de fé religiosa, profundamente comprometido com os princípios do Evangelho, que prega o amor ao próximo e abraça os mais necessitados, que defende a justiça, a paz, a compaixão e o amor. Sou católico, franciscano, defensor dos Direitos Humanos, incluindo o direito à liberdade religiosa ou à não-religião.

Hoje, estou profundamente preocupado com a distorção das palavras do Cristo ao qual me consagrei.

Que cristão atira em um trabalhador, mata um irmão e vai para a academia de ginástica malhar? Que cristão defende que pessoas em situação de rua sejam rebocadas como carros defeituosos? Que cristão apoia milícias e traficantes em nome de Cristo? Que cristão integra um projeto político de dominação e exclusão, alimentado pelo racismo, pela aporofobia, pelo preconceito, pelo machismo, pela misoginia e por todos os vieses de intolerância?

As religiões, e cada religião em si, como toda a sociedade, abrigam inúmeras correntes de pensamento, incluindo as ultraconservadoras, intolerantes e negacionistas. Muitas dessas correntes se apropriam do nome de Deus para espalhar a submissão e anular o pensamento crítico dos fiéis; para dominar o outro e garantir a sua própria prosperidade, inclusive material. Agora, reivindicam também imunidade e impunidade eternas. Isso não tem qualquer fundamento.

Reflitam: de 2016 a 2019, foram registradas 167 denúncias de violência sexual cometidas por lideranças religiosas contra fiéis. Deveriam ficar impunes? Não! Um deles foi condenado a 45 anos de detenção por valer-se de autoridade espiritual para abusar de quatro mulheres em situação de vulnerabilidade emocional e psicológica. A lei prevaleceu.

Silas Malafaia não está sendo perseguido por sua atuação religiosa, por suas orações ou pregações. Está sendo investigado por participação em possíveis crimes de coação e obstrução da Justiça, em processos que envolvem organização criminosa acusada de tentar a abolição violenta do Estado Democrático de Direito. Os indícios que sustentam a investigação foram encontrados no pen drive que Jair Bolsonaro tentou esconder da Polícia Federal. Nele, foram registradas trocas de mensagens que nada tinham a ver com a fé e a religião. Em algumas delas, inclusive de áudio, Malafaia usa linguajar chulo e debochado, comemora sanções contra o país e beira o obsceno. Não há qualquer relação com orientações espirituais. Ele se comporta como mentor e linha de frente de uma conspiração contra a Justiça e contra o Brasil.

Agora, em tom apocalíptico e descontrolado, Malafaia subverte a realidade e tenta usar a religião como escudo, para se colocar acima de tudo e de todos. Em vez de postar-se como um servo de Deus, usa Deus como um servo dos projetos pessoais de Bolsonaro.

Isso é inadmissível.

Toda atividade carrega responsabilidades. Para um líder religioso, essa responsabilidade é ainda maior, porque tem a missão de levar a palavra de Deus para centenas, milhares e até milhões de pessoas, que confiam e seguem o que diz.

Por isso, pode e deve ser investigado. Se comprovado, que seja julgado dentro dos princípios legais que regem o país.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

Artigos Relacionados

Carregando anúncios...