“Que medo vocês têm de nós”
Viva a arte, sempre na linha de frente pela democracia
Um deputado federal do PL, gaúcho, militar, acaba de apresentar um projeto de lei cujo único objetivo é amordaçar artistas e agentes culturais, cassar a cidadania de milhões de brasileiras e brasileiros que trabalham com a Cultura.
Nenhuma surpresa. A extrema direita odeia a arte e a cultura; quer subjugá-las, torná-las uma coisa amorfa, submissa, alienada e alienante.
O tal parlamentar propõe uma lei destinada a proibir que artistas e agentes culturais façam qualquer crítica a políticos e autoridades em produções que recebam recursos de programas públicos de fomento. É censura deslavada e inaceitável, já que a Constituição Federal de 1988 proíbe expressamente a censura de natureza política, ideológica e artística no Brasil.
A liderança e a presença extraordinária de artistas nas manifestações contra a PEC da Bandidagem e os projetos de anistia para livrar a cara de Bolsonaro e seus cúmplices na tentativa de golpe atiçaram a sanha dos fascistas.
Por isso, espalham mentiras e injúrias. Por isso, querem eliminar a essência da arte, que tem raízes seculares na crítica social e política e sempre foi um poderoso instrumento de reflexões e mudanças. Como dizia o poeta russo Vladimir Maiakovski (1893-1930), "a arte não é um espelho para refletir o mundo, mas um martelo para forjá-lo."
A arte, toda arte, é essencialmente transformadora; e isso os fascistas temem – “Você corta um verso, eu escrevo outro (...) Que medo você tem de nós, olha aí”, já dizia o belo samba “Pesadelo”, de Paulo César Pinheiro e Maurício Tapajós.
Eles não suportam e temem a Cultura. No dia 2 de abril, um dia após o golpe de 1964, a Rádio Nacional do Rio de Janeiro, a maior emissora de uma época em que a TV engatinhava, foi invadida e ocupada pelos militares – 118 radialistas foram imediatamente afastados e indiciados em um IPM [Inquérito Policial Militar], 300 profissionais foram interrogados, 36 foram sumariamente demitidos e proibidos até de entrar no local, alguns foram presos ou exilados. Entre eles, grandes nomes da época, como o ator, apresentador e contrarregra Gerdal dos Santos, os atores Hemílcio Fróes, Mário Lago, Wanda Lacerda, Rodney Gomes, Ísis de Oliveira, Jonas Garret e Gracindo Júnior, os autores Oduvaldo Vianna e Dias Gomes, os novelistas Mário Brasini e Teixeira Filho, os maestros e compositores Alceu Bocchino e João de Sousa Lima, o humorista e compositor Jararaca, o sambista e pintor Heitor dos Prazeres, os cantores Nora Ney, Jorge Goulart e Marion, o médico e radialista Paulo Roberto.
Durante os 21 anos de ditadura, artistas foram perseguidos, presos, torturados, censurados ou exilados, em uma lista que incluiu nomes como Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Geraldinho Azevedo, Rita Lee, Geraldo Vandré, Taiguara, Nara Leão, Bete Mendes, Augusto Boal, José Celso Martinez Corrêa, Lygia Clark, Hélio Oiticica, Glauber Rocha, Leila Diniz, Ferreira Gullar, Vinícius de Moraes, Elis Regina, Raul Seixas, Jards Macalé, Jorge Mautner, Henfil, Ziraldo, Millor Fernandes e Jaguar, entre centenas de outros; impossível citar todos.
Mas nada os intimidou. A arte e os artistas sempre estiveram na linha de frente da defesa da Democracia, contra o autoritarismo, contra todo e qualquer excesso dos poderosos. Na célebre Passeata dos Cem Mil, lá estavam Chico, Gil, Caetano, João da Baiana, Clementina de Jesus, Pixinguinha, Marieta Severo, Dina Sfat, Tonia Carrero, mais uma vez, entre centenas de outros. Nos atos contra a Anistia aos Golpistas e contra a PEC da Bandidagem, lá estavam ainda uma vez os artistas, na linha de frente.
Como já disse, nada nunca os intimidou. Não será agora, que um extremista cujo único objetivo é lacrar e aparecer nas mídias e nas redes, conseguirá.
Viva a Arte e a Cultura! Viva os nossos artistas!
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.