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      Maria Luiza Franco Busse

      Jornalista há 47 anos e Semiologa. Professora Universitária aposentada. Graduada em História, Mestre e Doutora em Semiologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, com dissertação sobre texto jornalístico e tese sobre a China. Pós-doutora em Comunicação e Cultura, também pela UFRJ,com trabalho sobre comunicação e política na China

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      Quarto poder de quinta

      Deve ser muito difícil governar um país com um tipo de imprensa de quinta categoria

      Jornalismo (Foto: Fábio Rodrigues-Pozzebom/ABr)

      Não falha. Foi o liberalismo inglês que criou o conceito de Quarto Poder como identidade da imprensa no século XIX. De lá para cá muita prática e teoria rolaram e o trabalho de informar que estaria a serviço do bem público foi apropriado pelo interesse particular dos donos das mídias massivas. Ou, como observou estudioso de assunto, os meios de comunicação passaram a ser playgrounds privados.

      Mas não é brincadeira, a coisa. Que o diga o governo do presidente Lula, alvo permanente dos ataques da imprensa corporativa. A viagem da delegação brasileira à Rússia e à China vinha frustrando as pautas das redações. Estava dando tudo certo na programação oficial. Na Rússia, Lula foi recebido como o chefe-de-Estado que afirma a soberania de seu país. Veio a coletiva de imprensa e o jornalista enviado por meio corporativo acionou a adversativa: “mas o senhor não acha que sua vinda à comemoração da derrota do nazismo pelos soviéticos pode aborrecer os Estados Unidos?”. “Então não se pode fazer mais nada(...). É muita pequenez, muita pequenez”, respondeu o presidente. A resposta desarticulou a edição preparada para mostrar como a ida à cerimônia colocava o Brasil em risco de retaliação do governo Trump.

      Na China tudo também ia de bem a melhor. Trinta e seis negócios encaminhados e 27 bilhões de dólares já garantidos para serem investidos no Brasil. Entretanto, os jornalistas brasileiros empregados dos meios corporativos cavaram notícia. Janja foi acusada que causar desconforto diplomático no jantar com o presidente Xi Jinping.

      Os presidentes conversavam sobre as consequências políticas do papel da impressa e das redes sociais junto à opinião pública. Janja participava da conversa e deu o exemplo da plataforma chinesa TikTok que no Brasil era usada pela direita e pela extrema-direita para disseminar desinformação e notícias falsas. Como bom chinês que não é missionário do internacionalismo comunista e nem quer ensinar ninguém a fazer a revolução, Xi sugeriu que proibissem ou regulamentassem a rede. Lula concordou e pediu ao presidente anfitrião que enviasse ao Brasil especialista em regulamentação das redes para que trocassem informação e conhecimento. Xi se prontificou e assim ficou acordado. Embora tivessem pouquíssimos convidados presentes, a história vazou contada pelo gosto do freguês e foi parar na rede de uma jornalista também servidora da mídia corporativa. A moça dizia comungar com a opinião do colega de que a primeira-dama “perde a linha porque o marido permite”.

      Na coletiva do presidente Lula seguida ao jantar, o jornalista enviado para cobrir a viagem mandou a pergunta sobre o que já dava como certo. Lula esclareceu que a pergunta partiu dele e que Janja comentou o caso do TikTok que vinha sendo usado no Brasil como ferramenta para reafirmar preconceito contra mulheres e promover práticas violentas individuais e coletivas entre crianças. “Não foi Janja, fui eu que perguntei” disse o presidente, acrescentando que ela sempre terá voz porque “minha mulher não é cidadã de segunda classe”.

      Deve ser muito difícil governar um país com um tipo de imprensa de quinta categoria.

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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