Quando setembro vier

Desinformação, desigualdade e crise ambiental formaram a pauta do encontro em defesa da democracia realizado no Chile entre os presidentes do Brasil, Colômbia, Uruguai e o chefe de governo da Espanha, além do mandatário do país anfitrião. O presidente Lula foi o relator do documento final do evento ‘Alto Nível Democracia Sempre, assinado pelos quatro participantes após reunião de um único dia realizada na segunda-feira, 21 de julho.

O documento aponta que “vivenciamos uma nova ofensiva antidemocrática”  porque “a democracia liberal não foi capaz de responder aos anseios e necessidades contemporâneas”, destaca a urgência de ações concretas e reconhece que o combate à desinformação e a regulamentação das plataformas digitais são fundamentais “para devolver ao Estado a capacidade de proteger seus cidadãos”, assim assegurando a transparência de dados e a governança digital global que são “a chave para o debate público livre e plural”.

Nesse mesmo dia, a cerca de 6h30 de voo de Santiago, a capital chilena onde se deu a Cúpula ‘Democracia Sempre’, era realizada na Venezuela a Segunda Jornada de Inteligência Artificial na Universidade Internacional das Comunicações_ La Universidad Internacional de las Comunicaciones_ em que se discutiu o tema ‘Quem constrói os algoritmos do futuro? Visões críticas do Sul’. O evento foi mais uma das etapas preparatórias para o Congresso Internacional que vai acontecer em outubro próximo em Caracas, capital da República Bolivariana.

Segundo Martín Román, organizador da Jornada e professor da LAUICOM, estão sendo esperados acadêmicos, estudantes, pesquisadores, autoridades e dignitários de todos os países interessados em “consolidar nossa visão do Sul Global sobre esse novo processamento de informação que são redes neuronais digitais capazes de determinar formulações de políticas públicas para organizações comunitárias e profissionais, iniciativas laborais e mercado empresarial de trabalho”. De acordo com Román, por ser mais do que uma ferramenta tecnológica a IA deve ser objeto de estudo e análise das ciências sociais pelas perspectivas educativa, sociológica, legal e geopolítica.

Voltando ao documento ‘Democracia Sempre’, o texto convoca à reflexão “sobre o estado da integração regional e do mundo”, segue dizendo que a “América Latina e o Caribe são uma força positiva na promoção da paz, no diálogo e no reforço do multilateralismo”, e afirma que “neste momento em que o extremismo tenta reeditar práticas intervencionistas, precisamos atuar juntos. A defesa da democracia não cabe somente aos governos. Requer participação ativa da academia, dos parlamentos, da sociedade civil, da mídia e do setor privado”.

A julgar pela convergência de intenções e propósitos firmados em separado por cada um dos eventos, a Venezuela também poderia ser signatária do ‘Democracia Sempre”. A ausência se explica porque o país caribenho não foi convidado.

Mas, o documento da cúpula pela democracia finaliza sinalizando que a “caminhada continuará em setembro, com outro evento em Nova Iorque, à margem da Assembleia Geral da ONU, envolvendo mais países latino-americanos, europeus, africanos e asiáticos”. Mais países, oh,oh, desse modo, quem sabe, de ‘pasito a pasito, suave suavecito, nos vamos pegando poquito a poquito’, como diz a letra da música Despacito que chegou lá e foi só sucesso.