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Bepe Damasco

Jornalista, editor do Blog do Bepe

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PT debate volta do trabalho de base, mas que base e com que discurso?

As favelas e demais bairros pobres são ricos em cultura popular e esse pode ser um caminho, a porta de entrada para a esquerda dialogar

Militância e bandeira do PT (Foto: PAULO PINTO)

Assistindo pelas redes sociais aos debates entre os candidatos à presidência nacional do PT, me chama a atenção a defesa enfática que todos fazem da necessidade vital de o partido "voltar para as bases", retomando a luta social junto ao cotidiano do povo, que marcou o partido em passado recente.

Com razão, eles destacam a urgência de o partido voltar a combinar ocupação de espaços institucionais com inserção nas mobilizações populares por melhores condições de vida e trabalho.

Senti falta, porém, a exemplo do que acontece nas discussões do conjunto da esquerda sobre o assunto, de uma contextualização política mais precisa no tempo e no espaço.

É que o Brasil mudou de ponta a cabeça nas últimas décadas. E se reconectar com as bases da sociedade é algo bem mais complexo do que a mera decisão de revitalizar um partido político e fazê-lo retornar às origens.

O X do problema é: voltar para que base, com que discurso, tática e estratégia?

Nos anos 80, 90 e começo dos anos 2000, período da redemocratização do país, a militância se concentrava nos sindicatos, que atravessavam uma fase de forte crescimento e influência na agenda nacional; nas associações de moradores, que se multiplicavam pelo país e mobilizavam as pessoas para lutar de forma organizada por luz, água, transporte, habitação, etc; e no movimento estudantil, que embora tenha vivido seus melhores momentos na luta contra a ditadura, ainda mantinha algum poder de fogo. Prova disso foi o protagonismo dos cara pintadas na campanha pelo impeachment de Collor.

Hoje os sindicatos se enfraqueceram em tempos de individualismo exacerbado, de empreendendorismo de aplicativos e alvejados por uma reforma trabalhista que pulverizou a CLT. Já o movimento estudantil é uma caricatura do que já foi e a organização dos moradores é uma página virada da história.

Nos dias que correm, entraram em cena com maior capacidade de seduzir e mobilizar, principalmente os jovens, causas como a das mulheres, LGBTQIA+, combate ao racismo e preservação ambiental. 

A revolução das redes sociais impactou a vida de todo mundo, a ponto de ter se transformado em um instrumento decisivo tanto para o embate político mais imediato como para a conquista de corações e mentes, além de serem usadas também para os propósitos mais abjetos e nefastos, como fazem os fascistas.

Nos bairros periféricos, o povo se lixa para as lutas coletivas e as igrejas neopentecostais encontram terreno fértil para se disseminar, se tornando um fenômeno religioso-social-político. Em muitas dessas comunidades. os moradores ainda têm sua vidas garroteadas por traficantes e milicianos. 

O megadesafio, portanto, é como aterrissar nesse território para fazer "trabalho de base". 

O debate dá pano para manga.

Mas as favelas e demais bairros pobres, por outro lado, são ricos em cultura popular e esse pode ser um caminho, a porta de entrada para a esquerda dialogar com esse estrato popular.

Afinal, as galeras do baile funk, do hip hop, do pagode e do samba têm mais identidades com as visões de mundo da esquerda do que com a direita.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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