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Marcelo Zero

É sociólogo, especialista em Relações Internacionais e assessor da liderança do PT no Senado

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Prêmio Nobel da Guerra

"María Corina Machado não é pacifista e nem democrática", alerta o colunista Marcelo Zero

Líder da oposição venezuelana, María Corina Machado fala a apoiadores em Caracas, Venezuela 23/01/2024 (Foto: REUTERS/Leonardo Fernández Viloria)

Sempre fez parte, ao contrário de Henrique Capriles, por exemplo, de uma oposição de extrema-direita, e propunha, junto com Rodolfo López, como solução para o conflito interno da Venezuela, o processo denominado de “La Salida”, cuja centralidade estava nas famosas “guarimbas”, destinadas a provocar um clima de guerra civil na Venezuela, com o intuito de forçar, pela violência, a saída de Maduro.

Também boicotava os processos eleitorais, numa época em que não se contestava sua lisura, atestada, entre outros, pelo Centro Carter.

Pior, pedia (e pede) intervenção militar e econômica dos EUA contra seu próprio país, como faz hoje Eduardo Bolsonaro.

Em 21 de março de 2014, a então deputada radical María Corina Machado tentou criar um fato político, em reunião da OEA. Foi inscrita como representante-adjunta do Panamá (uma clara ilegalidade) para entrar na sessão.   

Os relatos indicam que ela se sentou à mesa como membro da representação do Panamá e que o embaixador do Panamá teria garantido que ela não se pronunciaria sobre a Venezuela. Não obedeceu. Fez um discurso pedindo intervenção externa na Venezuela para derrubar Maduro.

Perdeu o direito à palavra por decisão dos Estados membros. Além de não sensibilizar nenhum dos governos da região, ainda deu argumento para os deputados mais exaltados exigirem a sua cassação por representar um país estrangeiro em uma reunião internacional.

Não gosto do Maduro, como já deixei claro em artigos recentes, até mesmo porque não tem a dimensão política de Chávez e, a meu ver, traiu, nas últimas eleições, alguns princípios da Revolução Bolivariana, um processo que era profundamente democrático e transformador. Chegou mesmo a agredir o Brasil, que procurava contribuir para uma saída democrática para esse vizinho tão importante.

Mas esse prêmio a uma típica fascistóide latino-americana, no momento em que Trump ensaia um ataque militar contra Venezuela, em nome do “combate ao terrorismo” e de uma mentira deslavada (Maduro seria o chefe de um grande cartel de drogas- algo desmentido pela própria agência de combate às drogas da ONU) representa uma ameaça a toda a região.

É um incentivo ao conflito, à guerra e às intervenções externas. Não é um estímulo à paz e à negociação, no contexto da nova Guerra Fria geopolítica.

Na realidade, incentiva a nova e belicosa Doutrina Monroe, conduzida por Marco Rubio, que odeia todos os regimes progressistas da América Latina, inclusive o brasileiro, e que quer “livrar” a região, o “patio trasero”, o quintal, de toda influência chinesa, russa ou, em suma, não estadunidense.

É um prêmio à guerra e ao alinhamento incondicional ao Império hobbesiano de Trump.

Lamentável.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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