Por que só agora conto esta história?
Tereza Cruvinel conta que lança novo livro na expectativa de servir para a história da comunicação pública e o debate público
Levei 14 anos para escrever sobre o processo de criação da EBC e da TV Brasil, experiência importante para mim, mas principalmente para a história da comunicação pública no Brasil. É desta experiência que falo no livro que lançarei hoje a partir das 18hs30min no velho Beirute da 109 Sul: Memória de um desafio – A guerra da TV pública e a criação do sistema EBC. Ele sai pela Tagore Editorial com 208 páginas que falam daquele processo que foi ousado, sofrido e inédito.
Muita gente já me perguntou porque demorei tanto. Tento responder.
Há alguns dias, cumprimentando o jornalista André Basbaum por sua nomeação para a presidência da EBC, escrevi- lhe uma mensagem dizendo que, para mim, a EBC era como uma filha zanzando pelo mundo de déu em déu. Ora maltratada, ora ameaçada. E que a nomeação dele acendia minha esperança de um novo impulso à empresa que criamos com tanta luta. Este plural não é majestático. Inclui muita gente.
E a lista começa, naturalmente, com o presidente Lula, pela decisão de criá-la, seguido por Gilberto Gil, que liderou o Fórum da TV pública, por Franklin Martins, que foi tão decisivo como ministro-chefe da Secom. Da obra coletiva participaram ex-diretores como Helena Chagas, Orlando Senna, Delcimar Pires, Roberto Gontijo, Luis Henrique Martins dos Anjos, Marco Fioravante, Mario Borgneth, Ricardo Collar e dois que já nos deixaram, José Roberto Garcez e Leopoldo Nunes. E também outros que vieram em segundo momento, como Roberto Faustino, Nereide Beirão e Rogério Brandão.
Como esquecer Luiz Gonzaga Belluzzo, tão construtivo como primeiro presidente do Conselho Curador? Impossível citar os funcionários que vieram da Radiobrás e da ACERP e os que entraram depois, de carreira ou comissionados, bem como os apoiadores que nunca trabalharam na EBC, como os cineastas e produtores audiovisuais, alguns dos quais foram bons parceiros. Silvio Tendler, presente!
Embora o projeto de escrever o memorial da EBC fosse antigo, só comecei a fazer isso quando acabou o governo Bolsonaro, e com ele a fase de destruição da EBC, iniciada sob Temer. Ou seja, só comecei a escrever (o que exige também conferir informações do passado) em 2023, com a posse de Lula e a promessa de reconstrução nacional. E da EBC.
Interrompi as primeiras páginas em 2016, após a violenta intervenção de Temer, que eu vivi como jornalista da casa, não sendo mais presidente da empresa. Como outros, fui enxotada. Depois veio o pior com Bolsonaro, que aprofundou o desmonte e ameaçou acabar com EBC, através de venda ou extinção. Falar da vitória inicial que tivemos no meio daquele naufrágio não fazia o menor sentido.
Com a volta de Lula, achei que era hora. Nem tudo foi corrigido até agora, e também por isso o debate sobre a comunicação pública precisa ser retomado. A realidade digital disruptiva, com seus algoritmos e redes sociais desgovernadas, também pede este debate. Que pode a comunicação pública fazer nesta nova realidade?
Em 2023 escrevi uma parte do livro em Nova York, na primavera de lá, quando passei um mês na casa de meu filho, Rodrigo, que então servia na missão brasileira junto à ONU. Em Brasília, o ritmo caiu, mas prossegui. Dei outro impulso ao trabalho em julho de 2024, quando passei alguns dias no Rio durante os encontros temáticos do G-20. Fora de Brasília a dispersão é menor. Com o livro pronto, em abril deste ano comecei a revisão em Quito, onde passei uns dias com Marcela e Rodrigo, que acabava de ser removido para lá.
Desde então, cuido da edição. Franklin e Helena contribuíram com bons prefácios. O professor Venício Artur Lima, meu mestre na graduação e no mestrado, fez uma apreciação generosa na contracapa, juntamente com meus colegas de EBC Helenise Brant, Fioravante e Luis Henrique. A professora Regina Lima (UFPA), ex-ouvidora, tão bem sintetizou o livro na orelha. Na Tagore Editora, Vítor Tagore Alegria e Rafaela Anselmo foram dedicados, incansáveis e pacientes, e sou-lhes também grata.
Agradeço ainda ao Brasil 247 e à TV247, nas pessoas de Leonardo Attuch, Florestam Fernandes e Dayane Santos (pois a lista inteira seria longa) pelas oportunidades de divulgação do lançamento.
Sei que o livro alcançará um nicho específico de leitores mas espero que ele tenha utilidade como registro para a história da comunicação pública e sirva ao debate.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.