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Urariano Mota

Autor de “Soledad no Recife”, recriação dos últimos dias de Soledad Barrett, mulher do Cabo Anselmo, entregue pelo traidor à ditadura. Escreveu ainda “O filho renegado de Deus”, Prêmio Guavira de Literatura 2014, e “A mais longa duração da juventude”, romance da geração rebelde do Brasil

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Para o dia do escritor

Tantas coisas teria a falar dos ilustres, fundamentais e inesquecíveis que fecundaram a compreensão do Brasil e do seu povo

Para o dia do escritor (Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil)

Nesta sexta-feira 25 de julho, é comemorado o Dia Nacional do Escritor.  

Tantas coisas teria a falar dos ilustres, fundamentais e inesquecíveis que fecundaram a compreensão do Brasil e do seu povo. Os magníficos gênios que vêm de Machado de Assis a Graciliano Ramos, de Cecília Meireles a Clarice Lispector, e se fortalecem com o heroísmo pessoal e literário de Lima Barreto, Cruz e Souza, Carolina de Jesus, tantos e tantas, que as omissões involuntárias de nomes seriam um crime.

Sem me incluir entre esses homens e mulheres que honraram a espécie humana, pois não sou louco, apesar de todas as provas em contrário, me atrevo a divulgar dois momentos do que escrevo. No primeiro deles, este vídeo da recepção do romance “A mais longa duração da juventude” na loja da Golpe Store no Recife:  

"A Mais Longa Duração da Juventude" está na loja da Golpe Store e também no site  

No segundo, este breve trecho do romance “O que mantém um homem vivo?”, que escrevo nestes dias. 

“Para mim, escrever um romance é como o amor, semelhante ao verso da freira Tereza d‘Ávila, ‘morro porque não morro’. Melhor dizendo, à semelhança do amor que uma canção-poema cantava como uma pequena morte. Talvez, se cometo nova blasfêmia, melhor que o amor, porque supera esta hora, estes dias. E que vá para o inferno a dor, porque a escrita me leva ao céu, que espero seja apenas num sentido figurado. 

Então, devo dizer que a concentração para o romance me afasta de todos os deveres e obrigações práticas. Não pago o Imposto de Renda que devo, mas que por ser pobre devo. Não pago e caio na Dívida Ativa da União. A vontade que tenho é de gargalhar. Por que não a Dívida Artística da União? Mas caio na prosaica e perseguidora dívida sem remédio poético. Muito bem, ou muito mal. Concentro-me no que é justo, mas a vontade não satisfeita fora desta página me reclama. Pior, impõe o seu jugo de provação. E confesso, para publicar o romance anterior, deixei o corpo de .... (tão difícil foi, que reservo a sua revelação para o livro). Sim, o romance era mais importante que a morte. Assim me sinto até hoje, entre o remorso e a felicidade. Para que lado pende meu ser? A divisão justa para mim é impossível até agora. E para maior franqueza, escrevo que não quero jamais passar de novo por essa prova, de provação. Dirijo-me a Deus, afasta de mim esse cálice. 

Tal perseguição é real, por esta simples e complexa verdade: para um escritor, tudo que contraria o que ele chama de obra é perseguição. Perguntam as pessoas mais bárbaras: para que escrever? Perguntarão, os bárbaros educados: você vive disso? E respondo: mais que viver, é razão de viver”.  

E mais não digo. Recolho-me à minha exata insignificância, com um abraço fraterno aos possíveis leitores, amigos e camaradas. Fui, sou. 

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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