O que move Tarcísio, o queridinho dos "faria limers"
Quando um governador se omite diante de uma tentativa de golpe, pede anistia ao golpista e silencia diante de agressões à soberania, ele já fez sua escolha
O governador de São Paulo, Tarciso de Freitas que vive pedindo anistia para Bolsonaro, pode ter participado, no Palácio da Alvorada, da reunião em que o ex-presidente apresentou a minuta do golpe.
A suspeita foi levantada na quarta-feira (16) pelo advogado Jeffrey Chiquini, que defende o ex-assessor Felipe Martins. Durante uma sessão com o ministro Alexandre de Moraes, o advogado solicitou que fosse confirmada, com o colaborador Mauro Cid, a presença do governador na reunião golpista.
Ainda na quarta-feira, Tarcísio negou a suspeita e afirmou que quando a lista de entradas no Alvorada foi divulgada e nela constava o seu nome, partidos de esquerda pediram à Procuradoria-Geral da República que analisasse o caso. Mas, segundo o governador, nada teria sido confirmado nas imagens e o assunto teria morrido ali.
Tarcísio, no entanto, confirmou que esteve diversas vezes no Palácio para visitar o ex-presidente. Nos dois últimos meses do mandato de Bolsonaro, disse ter ido ao Alvorada nos dias 15 e 19 de novembro, e 10 de dezembro. A reunião da minuta golpista ocorreu em 7 de dezembro de 2022.
Ao ser lembrado por Alexandre de Moraes de que as dúvidas poderiam ser esclarecidas através da análise das imagens gravadas pela segurança do Palácio, o advogado Jeffrey Chiquini prontamente questionou:
“Quais imagens? Aquelas que desapareceram ou aquelas disponíveis de forma seletiva?”
Como determina o princípio jurídico “in dubio pro reo”, Tarcísio, até o momento, não pode ser acusado de ter participado da reunião golpista.
Mas isso não impede que se façam alguns questionamentos sobre o posicionamento do governador em relação à tentativa de golpe contra o Estado Democrático de Direito.
Tarcísio passou 16 anos no Exército, onde se formou engenheiro pela Academia Militar das Agulhas Negras. Ou seja, não era apenas um quadro técnico no ministério: assim como Bolsonaro, também era militar de formação.
Durante os quatro anos do governo Bolsonaro, o então ministro da Infraestrutura esteve sempre nos palanques ao lado do ex-presidente. Inclusive em 7 de setembro de 2021, quando Bolsonaro, aos gritos, afirmou que não mais cumpriria decisões do ministro Alexandre de Moraes. Será possível que o governador nunca tenha desconfiado que Bolsonaro planejava uma intervenção militar? Por que apenas Tarcísio não teria sido sondado sobre o plano de ruptura democrática?
Nas frequentes visitas ao Alvorada, em nenhum momento Bolsonaro falou de seus planos ao amigo?
Tarcísio achava normais e aceitáveis os acampamentos golpistas em frente aos quartéis, inclusive em São Paulo, estado que governa?
Qual papel estaria reservado a Tarcísio se o golpe tivesse sido concretizado?
Desde que se tornou governador, Tarcísio subiu em todos os palanques para defender o amigo golpista. Mais que isso, hospedou Bolsonaro várias vezes no Palácio dos Bandeirantes, inclusive na véspera do depoimento de Bolsonaro ao STF, mês passado. Qual teria sido a atuação de Tarciso na preparação de seu hóspede para responder às perguntas sobre a tentativa de golpe de estado?
Porque o chefe do Executivo paulista optou por uma reação rápida demais e desastrosa sobre a taxação anunciada por Donald Trump contra o Brasil?
Não é preciso muita perspicácia para responder boa parte dessas questões. Tampouco é necessário esforço interpretativo para compreender que a lealdade de Tarcísio a Bolsonaro vai muito além da gratidão. Ela é ideológica. É política. E, sobretudo, uma maneira de deixar pouco claras suas relações com os golpistas.
Quando um governador se omite diante de uma tentativa de golpe, sobe em palanques pedindo anistia para o golpista e silencia diante de agressões à soberania nacional, ele já fez sua escolha.
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