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      Gustavo Tapioca

      Jornalista formado pela Universidade Federal da Bahia e MA pela Universidade de Wisconsin-Madison. Ex-diretor de redação do Jornal da Bahia, foi assessor de Comunicação Social da Telebrás, consultor em Comunicação do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e do (IICA/OEA). Autor de "Meninos do Rio Vermelho", publicado pela Fundação Casa de Jorge Amado.

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      O calcanhar de Aquiles do governo Lula

      Falta ao governo uma comunicação eficaz

      Luiz Inácio Lula da Silva - 03/06/2025 (Foto: REUTERS/Adriano Machado)

      Lula é, sem dúvida, um dos maiores comunicadores populares da história do Brasil. Mas seu governo, paradoxalmente, sofre de um velho problema que se repete: falta de comunicação eficaz. E não é por ausência de realizações. O que falta é transformar ações concretas em narrativas que toquem o povo, mobilizem a base e enfrentem o bombardeio da extrema-direita. Com as eleições de 2026 no horizonte e as redes sociais fervendo, esse é um ponto que precisa de atenção urgente.

      Comunicação que não chega aonde precisa

      O governo Lula já fez muito. Voltou a investir em programas sociais, retomou obras paradas, subiu o salário-mínimo, valorizou o meio ambiente, resgatou o papel do Brasil no mundo. Mas quem sabe disso fora da bolha? Pouca gente.

      O problema está na forma como as conquistas são comunicadas. É tudo muito técnico, institucional, distante da linguagem do povo. O governo até publica nas redes, faz vídeos e discursos, mas falta traduzir isso para o cotidiano das pessoas, para o WhatsApp da manicure, o TikTok do entregador, a live do pastor. A política precisa emocionar. Precisa falar do feijão no prato, da água limpa, do aluguel que voltou a caber no bolso.

      Quando o silêncio é fatal

      Outro ponto crítico: o governo demora demais para reagir às crises. Enquanto a extrema-direita espalha fake news em tempo real, o governo responde horas depois — às vezes dias — com notas frias, textos longos e linguagem burocrática.

      Basta ver o que acontece quando surgem boatos sobre o BNDES financiando ditaduras, a mentira do PIX, a tentativa de culpar o governo pelo escândalo do INSS. Essas mentiras se espalham aos milhões, e quando o governo reage, o estrago já está feito.

      Essa lentidão na resposta passa a impressão de que o governo não sabe se defender ou, pior, que é culpado. Em tempos de guerra de narrativas, quem demora perde.

      Falta de alinhamento interno

      A comunicação do governo também sofre com a falta de unidade. Um ministro diz uma coisa, outro diz o contrário. Um fala de ajuste fiscal, outro fala de gasto social. Um tenta agradar o mercado, outro o movimento social.

      Essa confusão dá margem para a imprensa tradicional plantar crises onde não há, e pior: passa a imagem de um governo perdido, desorganizado, sem direção. Comunicação eficiente começa dentro de casa. Se os ministros não falam a mesma língua, como esperar que o povo entenda?

      A extrema-direita já está em campanha

      A situação fica ainda mais grave quando olhamos para o campo adversário. A extrema-direita não saiu de cena em 2022. Ao contrário: segue organizadíssima. Produz conteúdo diário para TikTok, Instagram, YouTube, WhatsApp. Usa humor, medo, religião, desinformação — tudo junto — para construir um mundo à parte. Um Brasil imaginário onde Lula é uma ameaça e Bolsonaro é um mártir.

      Eles sabem usar as redes como ninguém. Não falam em prestação de contas: falam em emoções, fé, família, segurança. Criam identificação com o povo enquanto o governo se limita a relatórios e notas técnicas.

      Com Bolsonaro inelegível, outros nomes vão surgir. Mas o bolsonarismo como força política continua vivíssimo — e online.

      Redes sociais: campo de batalha central

      Não se trata mais de “usar redes sociais”. Trata-se de entender que a disputa política em 2026 será decidida nas redes. Quem dominar o TikTok, o WhatsApp, o YouTube, dominará o voto da juventude, das mulheres trabalhadoras, dos evangélicos e da classe média cansada da política tradicional.

      A comunicação digital precisa sair da bolha institucional. É preciso:

      • Produzir conteúdos simples, emocionantes e diretos;
      • Investir em influenciadores populares e canais alternativos;
      • Reagir rápido às fake news;
      • Ocupando espaços digitais com linguagem acessível, memes, vídeos curtos, humor e sensibilidade social.

      A esquerda tem conteúdo, tem projeto, tem história. Mas precisa falar a língua da rua, sem medo de disputar símbolos e afetos.

      Sem comunicação, não há vitória

      É simples: não adianta fazer se ninguém fica sabendo. A política hoje se ganha tanto nas urnas quanto nas telas. Se o governo quer vencer em 2026, precisa colocar a comunicação no centro da estratégia — e não como acessório.

      A comunicação não é só ferramenta. É trincheira. É nela que se disputa o que é verdade, o que é justo, o que é possível.

      Se o campo progressista não acordar para isso, vai continuar perdendo o jogo antes mesmo do apito inicial.

      Gustavo Tapioca é jornalista e MBA em Jornalismo pela Universidade de Wisconsin-Madison


      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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