O ataque de Trump a Alexandre de Moraes é uma afronta à soberania do Brasil e acende alerta global
A soberania não pode ser seletiva. Ou é para todos ou não é soberania. E o Brasil, neste momento, precisa defender a sua
A inédita sanção dos Estados Unidos contra um ministro da Suprema Corte brasileira expõe a crescente instrumentalização da política externa norte-americana para fins ideológicos. Ao mirar Alexandre de Moraes, figura central no enfrentamento ao golpismo bolsonarista, o governo Trump fere diretamente a soberania do Brasil e abala um pilar essencial da estabilidade internacional, o respeito à independência judicial. O mundo inteiro observa com temor um precedente que, se normalizado, poderá voltar-se contra qualquer país, inclusive os chamados “aliados”.
Um precedente perigoso e inaceitável
Na última semana de julho de 2025, o governo dos Estados Unidos, liderado por Donald Trump em seu segundo mandato, impôs sanções ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal do Brasil. Acusando-o de “abuso de poder” e “violação de liberdades civis”, os EUA revogaram seu visto e congelaram ativos sob jurisdição americana. A justificativa usada foi a de supostas arbitrariedades no tratamento judicial dado ao ex-presidente Jair Bolsonaro e seus aliados. Trata-se de uma ação sem precedentes diplomáticos.
Nunca antes na história moderna um juiz supremo de um país democrático foi alvo de sanção por um governo estrangeiro em razão de suas decisões judiciais. A mensagem é clara: os EUA sob Trump passaram a interferir diretamente na atuação de magistrados de países soberanos, desde que contrariem interesses ideológicos da Casa Branca.
O que está em jogo não é apenas o Brasil
A retaliação contra Moraes não é um gesto isolado. Ela está inserida numa estratégia mais ampla de Trump, que inclui tarifas punitivas de 50% sobre café, carne bovina, suco de laranja e até aeronaves brasileiras. Ao mesmo tempo, seus aliados no Congresso como Marco Rubio articulam novas pressões contra outros ministros do STF. A ofensiva tem por objetivo enfraquecer a Corte e oferecer apoio externo a Jair Bolsonaro, que enfrenta graves acusações de tentativa de golpe de Estado.
O problema é que essa cruzada ideológica atinge um nervo vital da democracia: a independência do Poder Judiciário. E, por extensão, gera insegurança jurídica. É aqui que entra o sistema financeiro global — normalmente silencioso diante de tensões políticas, mas agora visivelmente desconfortável.
Se o precedente se mantém, qualquer juiz que aplicar leis internas contra interesses de potências estrangeiras pode ser alvo de retaliações econômicas e pessoais. A proteção diplomática de magistrados, até aqui um tabu nas relações internacionais, está sendo rasgada em praça pública.
Um alerta que ecoa além da política
Não se trata apenas de defender Alexandre de Moraes. Trata-se de defender o direito de qualquer país de ter instituições autônomas. O silêncio cúmplice de setores da elite brasileira, especialmente do mercado financeiro, pode sair caro.
Porque se hoje a punição é contra um juiz que incomoda os interesses bolsonaristas, amanhã poderá ser contra um procurador, um regulador ambiental ou um presidente do Banco Central que imponha limites a capital especulativo internacional. É um jogo perigoso e quem hoje aplaude, amanhã pode ser o alvo.
Vale lembrar: a estabilidade de um país não é garantida apenas por seus indicadores macroeconômicos, mas por suas instituições. Quando um poder estrangeiro decide sancionar juízes de outro país por decisões legais, o pilar da previsibilidade institucional desmorona.
Brasil não pode se ajoelhar
A resposta do governo Lula foi firme, mas precisa ser acompanhada por uma reação institucional à altura. O Congresso Nacional, mesmo com suas divergências com o STF, deve entender que a agressão externa a um dos poderes da República é um ataque à própria democracia brasileira.
É preciso lembrar que Alexandre de Moraes não atua em nome próprio, mas como representante do Supremo Tribunal Federal. Sua atuação no enfrentamento às tentativas de ruptura democrática foi essencial para conter o golpismo de 2023 e 2024. Atacá-lo é atacar o Estado Democrático de Direito.
O Brasil precisa unificar vozes em defesa de sua soberania. A mesma soberania que tantos usaram para defender interesses econômicos precisa agora ser invocada para proteger sua institucionalidade. Não cabe ao governo dos Estados Unidos e muito menos a um governo com histórico de ruptura democrática como o de Trump julgar os rumos da Justiça brasileira.
Não é sobre Moraes. É sobre o Brasil.
Em tempos de desinformação e manipulação, é fácil personalizar conflitos e reduzir tudo a figuras individuais. Mas o que está em jogo aqui é muito maior do que Alexandre de Moraes. É o direito do Brasil de conduzir seus processos democráticos sem tutela externa.
É também um alerta ao mundo. Se a punição de juízes se tornar prática aceitável nas relações internacionais, daremos adeus a um século de construção institucional baseada na soberania, na legalidade e na autonomia dos povos.
A soberania não pode ser seletiva. Ou é para todos ou não é soberania. E o Brasil, neste momento, precisa defender a sua.
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