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Emir Sader

Colunista do 247, Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros

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Não há direita não bolsonarista no Brasil

Deixou de haver a possibilidade de uma direita democrática no Brasil. A que sobrevive, hoje, é bolsonarista. O resgate da democracia ficou nas mãos da esquerda

Romeu Zema, Ratinho Júnior, Tarcísio de Freitas e Ronaldo Caiado (Foto: Reprodução/X/@RomeuZema)

O Estadão faz um apelo desesperado ao Tarcísio de Freitas para que ele se afaste do bolsonarismo. Porque o jornal conservador de São Paulo tem consciência que o bolsonarismo é caminho de derrota, favorecendo a reeleição do Lula.

Mas o apelo do Estadão encontra ouvidos moucos do governador de São Paulo. Ele correu a Brasília para abraçar Bolsonaro, quando este teve decretada sua prisão domiciliar. Agora se empenha, com todas suas forças, na busca de uma anistia, consciente da condenação segura de Bolsonaro.

Dessa forma, não há uma direita não bolsonarista no Brasil. Todos os próceres da direita e da extrema direita reivindicam a herança de Bolsonaro, porque, sem o apoio dele, acreditam que não têm força para concorrer contra Lula.

Mas, ao fazê-lo, se acorrentam, ao mesmo tempo, em uma tendência derrotada no Brasil e, agora, em processo de decomposição. A condenação segura de Bolsonaro não provocará nenhuma mobilização popular de resistência.

Ao mesmo tempo, o apelo à eventual aprovação de alguma forma de anistia tampouco é uma bóia de salvação para o Bolsonaro. O STF já declarou que o crime de golpe de Estado não está contemplado em alguma forma de anistia. Dessa forma, a direita não encontra uma via institucional para tentar resgatar Bolsonaro da inelegibilidade.

O que pretendem, mesmo com essa consciência, é dar uma demonstração de força, caso logrem uma maioria de votos no Congresso, a favor da anistia. E gerar algum tipo de confusão institucional, até que fique clara a inviabilidade da anistia, tanto pelo provável veto presidencial do Lula quanto pela provável definição judicial da inconstitucionalidade da anistia.

Mas com esse empenho pela anistia, Tarcísio pretende ganhar a confiança da família Bolsonaro, apesar de Eduardo Bolsonaro se lançar como candidato e criticar Tarcísio.

Assim, a direita brasileira já não é aquela do PSDB. Os tucanos, mesmo tendo aderido ao neoliberalismo pelas mãos de FHC, mantiveram sempre uma defesa da democracia. De repente, o PSDB praticamente desapareceu, restando solitário o Aécio Neves, depois que o governador do Rio Grande do Sul abandonou as hostes tucanas.

Dessa forma o projeto de uma social- democracia no Brasil, se esgotou; fracassou quando FHC, seguindo o caminho dos seus referentes europeus François Mitterrand e Felipe Gonzalez, aderiu ao neoliberalismo.

Deixou de haver a possibilidade de uma direita democrática no Brasil. A que sobrevive, hoje, é bolsonarista, de extrema direita. O resgate da democracia ficou nas mãos da esquerda, especialmente do PT e de Lula. A reeleição deste é obstáculo para impedir o eventual retorno da extrema direita ao governo, por algum candidato bolsonarista, possivelmente o Tarcísio de Freitas. 

Mas este, como já foi dito, está inevitavelmente preso ao bolsonarismo, para herdar o apoio que essa corrente ainda possa ter. Mas, ao mesmo tempo, está condenado a ser derrotado pelo Lula.

De tal forma, que às vezes Tarcísio afirma que prefere buscar a reeleição como governador de São Paulo, que considera mais segura, do se lançar contra o Lula. Mas, mesmo em São Paulo, vai ter que enfrentar a provável candidatura de Geraldo Alckmin, que já exerceu quatro mandatos de governador desse estado, mesmo ainda como tucano.

Todos os outros eventuais candidatos da direita – os governadores do Rio de Janeiro, do Rio Grande do Sul, de Minas Gerais, entre outros – preferem se reservar para se candidatar em 2030, quando não terão que enfrentar Lula. Mas, na dependência de um sucesso do novo governo de Lula, este teria força para eleger seu sucessor, como já fez com Dilma.

Se sabe da preferência de Lula por Fernando Haddad como seu sucessor. Desta vez Haddad poderá contar com a participação direta de Lula na sua campanha, o que não aconteceu anteriormente, quando Lula estava preso.

O futuro do Brasil depende, assim, do sucesso de um quarto governo Lula. Este, por sua vez, não poderá simplesmente dar continuidade à prioridade das políticas sociais. Terá que romper com a centralidade que o capital especulativo continua a ter na economia, passando do antineoliberalismo ao pós-neoliberalismo.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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