Mulheres palestinas e a intenção premeditada de destruí-las na guerra de extermínio em Gaza
Ataques a mulheres e crianças em Gaza evidenciam que o objetivo de Israel vai além do militar: é apagar o futuro de um povo pela destruição de suas gerações
Neste artigo, discutirei a guerra não declarada contra as mulheres palestinas em Gaza, que são vítimas diretas e indiretas de uma guerra de extermínio, muitas vezes reduzidas à expressão “danos colaterais”, algo que não ocorreria sem o conflito. Os danos colaterais, tanto imediatos quanto de longo prazo, sofridos pelo povo palestino na Faixa de Gaza são incontáveis, diversos e extremamente perigosos. O mais significativo entre eles é a destruição quase total do sistema educacional. Estudantes universitários não conseguem se formar, crianças e adolescentes não conseguem continuar seus estudos ou avançar de uma série para outra, e crianças em idade escolar não conseguem frequentar o jardim de infância e, posteriormente, iniciar o ensino fundamental. Tudo isso significa a destruição das gerações futuras, transformando-as em pessoas desempregadas, com deficiências ou obrigadas a emigrar.
Lançarei luz sobre o sofrimento de mulheres e meninas em idade fértil, em especial, para demonstrar como esse segmento da sociedade tem sido submetido à destruição física, psicológica e também ao comprometimento de seu futuro. Como o estado psicológico dessas mulheres tem sido abalado, a ponto de perderem toda a privacidade e as condições mínimas para lidar com necessidades básicas da vida durante a menstruação, a gravidez ou o parto? O sofrimento torna-se ainda mais agudo para uma mulher após dar à luz. Ela enfrenta o desafio existencial de manter a criança viva, garantir nutrição adequada para o crescimento saudável e obter os soros necessários para protegê-la de doenças, além de providenciar suprimentos básicos de higiene, fraldas e cremes essenciais para evitar o surgimento de bolhas, infecções de pele e outras doenças que se espalham rapidamente entre as crianças, como diarreia, icterícia e meningite.
Os números, por si só, não revelam toda a verdade.
As Nações Unidas estimam que mais de 28 mil mulheres e meninas foram mortas em Gaza desde o início da guerra, em outubro de 2023 — uma média de uma mulher e uma menina por hora em ataques israelenses. Entre as vítimas estão milhares de mães, deixando para trás crianças e famílias devastadas.
Das duas milhões de pessoas temporariamente deslocadas em Gaza, mais de um milhão de mulheres e meninas enfrentam níveis catastróficos de fome e deslocamento, altas taxas de mortalidade e uma grave falta de mecanismos de segurança e proteção. O Fundo de População das Nações Unidas, principal agência da ONU responsável pela saúde reprodutiva, alertou que uma geração inteira de mulheres está sendo destruída por assassinatos contínuos, deslocamento forçado, privação de alimentos e medicamentos, colapso dos sistemas de saúde, além do estresse psicológico e da opressão que acompanham essa situação, os quais estão atingindo proporções catastróficas.
Novos dados referentes aos primeiros seis meses, de janeiro a junho de 2025, divulgados pelo Ministério da Saúde de Gaza, revelam um quadro devastador do impacto dessas condições sobre a vida de mulheres e recém-nascidos em toda a Faixa de Gaza:
No primeiro semestre de 2022, os hospitais de Gaza registraram 29 mil nascimentos. No mesmo período de 2025, apenas cerca de 17 mil nascimentos foram registrados — uma redução de 41%. Essa queda acentuada, após três anos, não teria ocorrido sem a guerra e seus horrores.
Duzentas e vinte mães morreram durante esse período — mais de 20 vezes o número total de mortes maternas registradas em todo o ano de 2022.
Em relação às mortes neonatais, pelo menos 20 recém-nascidos morreram nas primeiras 24 horas após o nascimento.
O risco de mortalidade neonatal aumentou em aproximadamente 33% na mesma faixa etária em comparação a 2022.
Dos nascidos nesse período, 5.560 bebês vieram ao mundo prematuros, com baixo peso ou precisaram de internação em unidades de terapia intensiva neonatal.
Essas estatísticas evidenciam os graves desafios enfrentados por mães e recém-nascidos em um ambiente onde os cuidados de saúde são sistematicamente prejudicados e onde a fome e a privação de necessidades básicas contribuem para esses desfechos alarmantes.
Após o fim do cessar-fogo em março, o sofrimento das mulheres dobrou, principalmente após retornarem às suas casas destruídas, muitas vezes sem marido, pai ou filho. Por exemplo, apenas na primeira semana após o término do cessar-fogo, entre 18 e 25 de março, 830 pessoas foram mortas, incluindo 174 mulheres e 322 crianças, enquanto outras 1.787 ficaram feridas.
Não se trata apenas de números; cada indivíduo é um ser humano com ambições, sonhos e relacionamentos. Todos os dias, durante aquela primeira semana, uma média de 21 mulheres e mais de 40 crianças foram mortas. Não se trata de “danos colaterais”; trata-se de uma guerra cujo impacto recai majoritariamente sobre mulheres e crianças, que representam quase 60% das vítimas — um testemunho claro dos objetivos da entidade sionista por trás desta guerra de extermínio.
De acordo com o Direito Internacional Humanitário, toda mãe e toda criança têm direito a um parto seguro e a um início de vida saudável. No entanto, o que testemunhamos é a negação sistemática desses direitos fundamentais, empurrando uma geração inteira à beira do colapso, com sobreviventes frequentemente marcados por deficiências permanentes.
Todos os hospitais e unidades de saúde de Gaza estão fechados ou operando de forma parcial. Sua capacidade de manter mães e recém-nascidos vivos está cada vez mais comprometida. Setenta por cento dos medicamentos essenciais estão indisponíveis, e metade de todo o equipamento médico encontra-se danificado, limitando severamente o acesso a cuidados neonatais críticos. O colapso dos sistemas de referência, aliado à redução extrema dos serviços de ambulância e à grave escassez de transporte, impede que mulheres grávidas recebam cuidados pré-natais ou cheguem aos hospitais para dar à luz, transformando complicações tratáveis em mortes evitáveis.
Apesar das necessidades extremas, a ajuda humanitária continua enfrentando sérios obstáculos e sendo impedida de entrar em Gaza por todas as travessias. Por exemplo, apenas o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) possui 170 caminhões carregados com suprimentos essenciais — incluindo unidades de parto em contêineres, medicamentos para a saúde materna, aparelhos de ultrassom e incubadoras portáteis — retidos na fronteira desde o início de março de 2025.
Que explicação haveria para essa matança desenfreada, senão a continuidade do genocídio humano? A incapacidade de permitir acesso humanitário irrestrito e sustentado, sem depender de pontos de distribuição armada supervisionados por Israel e pelos Estados Unidos, só pode ser interpretada como um meio de multiplicar e perpetuar, de forma indireta, a matança.
E quanto às mulheres que ainda não foram mortas? Elas estão vivendo vidas normais à sombra da morte? Mulheres e meninas sitiadas e sob constante ameaça de violência enfrentam níveis extremos de medo, trauma e exaustão. Nessas condições, o sofrimento psicológico é generalizado. Dados da ONU mostram que 75% das mulheres sofrem de depressão frequente, 62% não conseguem dormir e 65% apresentam pesadelos e crises de ansiedade. Contudo, com acesso limitado a cuidados, a maioria é deixada sozinha para lidar com a situação. Além disso, essas mulheres, mesmo deprimidas, precisam cuidar de seus filhos. Em Gaza, 77% das mulheres são as principais responsáveis por alimentar e cuidar das crianças.
Concluindo, enfatizamos que a saúde mental das mulheres em Gaza está em colapso. Mulheres grávidas, mães e meninas são particularmente vulneráveis. O fardo emocional de sustentar as famílias recai quase inteiramente sobre elas. A guerra contra a saúde das mulheres em Gaza não é apenas física; é também mental, emocional e psicológica.
Para que qualquer guerra seja legalmente considerada genocida, dois elementos devem estar presentes: a prática do genocídio e a intenção premeditada de cometê-lo. Não encontro evidência mais clara desses dois elementos do que o assassinato sistemático de mulheres e meninas e a intenção deliberada de destruí-las. Destruir mulheres significa destruir a sociedade — sem margem para ambiguidades — e é exatamente isso que a entidade racista de colonização chamada Israel busca.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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