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      Gustavo Tapioca

      Jornalista formado pela Universidade Federal da Bahia e MA pela Universidade de Wisconsin-Madison. Ex-diretor de redação do Jornal da Bahia, foi assessor de Comunicação Social da Telebrás, consultor em Comunicação do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e do (IICA/OEA). Autor de "Meninos do Rio Vermelho", publicado pela Fundação Casa de Jorge Amado.

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      Lula sob cerco e a lição de Getúlio

      O ciclo perverso da política brasileira: qualquer tentativa de mudança real é cercada, sabotada e criminalizada

      Presidente Luiz Inácio Lula da Silva em fórum em Mônaco - 08/06/2025 (Foto: REUTERS/Manon Cruz)

      A marcha da insensatez avança. Ou os setores radicais se dão conta dos riscos que o país corre, ou será muito tarde para conter o desmonte. A advertência foi feita ontem (25) no JGGN por Luís Nassif em artigo com o título "Começou o cerco total ao governo Lula".

      No Instituto Conhecimento Liberta (ICL) Heloísa Vilela afirma que "no dia de ontem os parlamentares deixaram muito claro que para eles a eleição de 2026 já começou, e a luta de classe está colocada: o Congresso é o defensor da elite econômico-financeira do país."

      Também no ICL, em aula recente, o professor João Cezar de Castro Rocha lançou uma comparação inquietante: "o Brasil sob Lula vive hoje uma situação semelhante à de Getúlio Vargas em 1954.”

      À primeira vista, pode parecer exagero. Mas, ao olhar mais de perto, a analogia não só se sustenta como, também, revela o ciclo perverso da política brasileira, em que qualquer tentativa de mudança real é cercada, sabotada e criminalizada.

      Vargas e Lula: dois projetos, um inimigo - Getúlio, em seus últimos anos, governava com o país conflagrado. Após anos de políticas voltadas à soberania nacional, como a criação da Petrobras, e à inclusão social, como a CLT, viu-se acuado por setores da imprensa, pelas elites econômicas e por parte das Forças Armadas. Em 1954, seu suicídio teve a função trágica de barrar um golpe já em curso.

      Lula, em seu terceiro mandato, enfrenta um cerco semelhante: um Congresso hostil, dominado pelo centrão fisiológico; um mercado que reage com fúria a qualquer gesto distributivo; uma mídia majoritariamente contrária; e, talvez mais perigoso, uma máquina de desinformação movida a algoritmos, ódio e dinheiro sujo que age 24 horas por dia sete dias por semana nas redes. Ambos ousaram desafiar o mandamento silencioso da elite brasileira: “O Brasil é nosso e para poucos”. Democracia sob chantagem - A comparação com 1954 é ainda mais dramática quando se observa o isolamento institucional. Vargas perdeu apoio interno e viu o Exército se voltar contra ele. Lula, hoje, governa quase em minoria, cercado por chantagens políticas, uma oposição radicalizada e um Judiciário que, se por um lado conteve o golpismo bolsonarista, por outro exerce poder desproporcional sobre decisões de governo.

      Não há tanques na rua. Mas há um golpe permanente, de natureza digital, judicial e orçamentária. E o objetivo é o mesmo de 1954: impedir que o povo brasileiro tenha voz na condução de seu destino. O papel da comunicação e das redes - Em 1954, Carlos Lacerda e a Tribuna da Imprensa lideraram uma guerra de narrativas contra Vargas. Hoje, os "Lacerdas" são múltiplos, com perfis falsos, influenciadores pagos e campanhas de WhatsApp impulsionadas com dinheiro local e estrangeiro. A batalha deixou de ser apenas institucional — é também simbólica.

      Lula precisa enfrentar não só a elite econômico-financeira e o Congresso, mas também um ecossistema de desinformação que mina sua legitimidade diariamente, muitas vezes sem resposta à altura por parte do governo. Diferente de 1954, o Brasil de hoje ainda oferece algum espaço para resistência. Lula conta com respaldo internacional, com uma base popular relevante e com movimentos sociais articulados. Mas o tempo é curto, e o desgaste imposto pela máquina de sabotagem permanente cobra seu preço. A história nunca se repete literalmente, mas seus padrões se insinuam. O alerta de João Cezar de Castro Rocha é claro: ou enfrentamos esse cerco com lucidez, mobilização e coragem — ou veremos novamente a elite brasileira vencer pela chantagem, pelo caos e pela destruição do futuro.

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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