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Miguel do Rosário

Jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje

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Lula avança entre evangélicos e o centro, aponta Genial/Quaest

Pesquisa mostra avanço de Lula entre evangélicos e centro enquanto rejeição a Trump e Bolsonaro cresce no debate sobre tarifaço e golpe

Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

A nova pesquisa Genial/Quaest, divulgada hoje, mostra que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva consolidou vitórias simbólicas nos principais embates políticos recentes: a polêmica do tarifaço de Donald Trump e o julgamento de Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado.

Com aprovação estável em 46%, Lula não apenas manteve sua base social mobilizada, mas também avançou em segmentos estratégicos, como o eleitorado evangélico e, sobretudo, o centro político, que passou a rejeitar majoritariamente as teses bolsonaristas sobre o STF e as tarifas.

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Estabilidade em pesquisa raramente é um dado ruim, ainda mais quando os números estacionam em um patamar razoável, após uma melhora substancial – que foi exatamente o que aconteceu aqui.

Entretanto, não é apenas o diabo que reside nos detalhes. Também alguns anjos se escondem nas frestas. Além de manter alta aprovação (79%) entre seus próprios eleitores, Lula cresceu entre aqueles que não foram votar em 2022, o que é mais um sinal de que está conseguindo atrair o centro.

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Entre os eleitores com renda de até dois salários mínimos, sua principal base social, a aprovação de Lula permanece firme em 54%.

A novidade está entre os evangélicos: a aprovação ao governo Lula alcançou 35%, após meses de estabilidade em patamares mais baixos. A rejeição, embora ainda elevada, caiu para 61%, bem abaixo dos 69% registrados em julho, sinalizando uma mudança relevante em um segmento historicamente resistente à esquerda.

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O dado mais impactante, contudo, é a percepção social sobre o tarifaço.

Uma esmagadora maioria de 73% dos brasileiros considera que Donald Trump está errado ao cogitar sanções contra o Brasil sob o argumento de perseguição a Jair Bolsonaro.

Apenas 20% concordam com essa tese, núcleo que corresponde ao bolsonarismo mais duro.

Entre lulistas e a esquerda não lulista, 91% discordam de Trump. No centro, 85% também rejeitam essa narrativa. Mesmo na direita não bolsonarista, 53% se posicionam contra o tarifaço, e até entre bolsonaristas, 41% admitem que Trump está errado.

O movimento liderado por Eduardo Bolsonaro, articulando sanções nos EUA contra o Brasil, acabou associando a direita ao tarifaço. Essa é uma marca negativa que produziu desgaste até em sua própria base, visto que, entre a direita não bolsonarista, uma maioria de 53% rejeita a iniciativa de Trump.

A decisão de indicar Eduardo Bolsonaro como “líder da minoria”, anunciada pelo PL esta semana, vincula ainda mais a direita aos desmandos de Donald Trump, colando sobre todo o campo conservador a pecha de entreguista e traidor da pátria.

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Quando a pesquisa pergunta quem está “fazendo o que é mais certo” no embate sobre o tarifaço, Lula e o PT aparecem com 49%, contra 27% de Bolsonaro e aliados. Essa diferença de 22 pontos mostra a conquista do centro, onde 49% apontam Lula como o lado correto. Até mesmo na direita não bolsonarista, 14% reconhecem Lula nessa disputa, sinalizando uma fissura relevante.

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A defesa da soberania nacional é outro ponto de vantagem para o governo. Para 64% dos entrevistados, Lula está certo ao afirmar a soberania do Brasil frente aos Estados Unidos. Apenas 26% discordam.

O tema rachou a direita: 41% da direita não bolsonarista e 32% da direita bolsonarista apoiam a posição de Lula. A aliança comercial dos BRICS também é aprovada por 53% dos brasileiros, com maioria de apoio no centro e presença significativa até em setores conservadores — 35% da direita não bolsonarista e 22% dos bolsonaristas.

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No tema do golpe, 55% acreditam que houve tentativa de golpe de Estado, contra 38% que negam.

Ainda mais grave para Bolsonaro: 54% consideram que ele participou do plano, enquanto 34% discordam.

A percepção sobre o processo judicial contra o ex-presidente também mudou. A parcela que vê perseguição política caiu de 52% em agosto para 47%, enquanto os que acreditam em imparcialidade cresceram de 36% para 42%.

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A avaliação sobre o impeachment de Alexandre de Moraes mostra um deslocamento importante da percepção social sobre o papel do STF. Hoje, 36% defendem o impeachment, contra 46% em agosto. Já os que rejeitam essa ideia subiram de 43% para 52%. O apoio à permanência de Moraes é esmagador entre lulistas (87%) e também majoritário no centro (56%). Até na direita bolsonarista, 24% rejeitam o impeachment. Isso confirma que a pauta é minoritária no conjunto da sociedade, embora ainda seja dominante na base mais fiel da direita.

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O perfil da amostra mostra um eleitorado relativamente equilibrado: 18% se identificam como lulistas, 14% como esquerda não lulista, 31% como centro, 21% como direita não bolsonarista e 13% como bolsonaristas. Apenas 3% não souberam se posicionar. Isso indica que o bolsonarismo permanece numericamente inferior aos demais blocos e que suas bandeiras mais radicais estão isoladas no cenário nacional.

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No conjunto, a pesquisa Genial/Quaest confirma a estabilidade da aprovação de Lula e expõe a fragilidade das principais bandeiras da oposição. O tarifaço foi rejeitado, a narrativa do golpe se voltou contra Bolsonaro e o impeachment de Alexandre de Moraes perdeu força. Ao mesmo tempo, Lula ampliou sua legitimidade ao conquistar o centro em pautas estratégicas como soberania e BRICS. O resultado é um realinhamento simbólico que fortalece o campo democrático e isola as posições mais radicais da direita.

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Como venho defendendo há algum tempo, uma pesquisa precisa ser lida à luz de outros indicadores. Quando a aprovação do governo caminha na mesma direção de outros indicadores políticos e econômicos, a pesquisa ganha em solidez e coerência. É o que vemos agora.

O bolsonarismo perdeu a batalha simbólica em torno do julgamento no STF e do tarifaço. E agora está associado a uma agressão americana ao Brasil considerada arbitrária e injusta. Donald Trump, aliado de Bolsonaro, é malvisto pela maioria esmagadora dos brasileiros. A questão da soberania, por sua vez, conquistou a opinião pública, magnetizando o centro e dividindo até mesmo a direita.

A entrada do julgamento de Bolsonaro e do embate com Trump no debate político empurrou o centro para o governo Lula. Se esse apoio for consolidado, o caminho para uma vitória em 2026 fica mais desimpedido. As ameaças vindas de Trump e de seu secretário de Estado, Marco Rubio, tendem a reforçar ainda mais esse movimento, pois a maioria da população está alinhada com o governo contra as pressões externas.

O bolsonarismo, ao buscar apoio de Trump para que este sancione o Brasil, se isola. A recente escolha do PL ao indicar Eduardo Bolsonaro como líder da minoria aprofunda essa percepção de que a direita traiu o país e ajuda a empurrar o centro para Lula.

A conjuntura econômica também é favorável.

A inflação caiu expressivamente em agosto, com destaque para alimentos e energia. O programa Gás do Povo reduziu o preço do botijão e ganhou popularidade. Setembro registrou deflação acompanhada de aumento no consumo, cenário raro e positivo.

O desemprego, por sua vez, caiu a 5,6%, o melhor patamar da história, e a pesquisa Quaest confirma que a população percebe maior facilidade em encontrar emprego.

Esses fatores criam as bases de uma aprovação sólida, porque sustentada por uma conjuntura política favorável e fundamentos econômicos robustos.

Abaixo, mais gráficos interessantes para se entender a conjuntura.

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* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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