Lições sabidas com a operação da PF
É hora de abandonar clichês sobre crime organizado e reconhecer o papel do Estado na engrenagem da violência
Há quem peça desculpas tardias por apoiar tiranias e violações de direitos humanos no genérico. Há formadores de opinião que deveriam se responsabilizar pelas vidas perdidas e pela perversão e retrocesso da segurança pública por inventarem e divulgarem o que nunca existiu, atrasando e desmoralizando, por décadas, políticas públicas sérias com mentiras como “Estado ausente”, “Estado paralelo”, “comunidade carente”, “máfia”, “infiltração do crime no Estado e na economia”. Sabemos, faz 75 anos, que é a política que organiza o crime. É o Estado que funciona como agência reguladora do crime, para o bem e para o mal. É o Estado que arrenda territórios favelados para o crime e fecha os olhos para o dinheiro sem lastro no asfalto.
É a rede político-econômica criminal, itinerante e translocal, condição de sua existência, que tem por contrapartida lavar dinheiro em carreiras eleitorais e igrejas produtoras de capitais político e simbólico aquém e além das fintechs. É o Estado que demarca a fronteira conveniente e conivente entre o legal e o ilegal, que é, por natureza, borrada e acontece na vida real misturada. Dinheiro não tem moral nem caráter: circula sujo, se lava e se suja. Aprendemos isso com a sociologia dos anos 1950. Faltaram a essa aula de crimes de colarinho branco e redes criminais? Está na hora de sair desse clichê pseudocientífico e desse cacoete jornalístico parado nos anos 1950. Faz 75 anos que as crendices sobre crime organizado são fake science!
As platitudes explicativas seguem reprodutoras de uma ignorância ilustrada, com projeto autoritário de poder financiado pelo crime que dizem combater. Xô, cloroquina da segurança! Se queremos, de fato e de direito, fazer segurança pública democrática a sério, é preciso romper com os parceiros governamentais e eleitorais como o PCC, o CV etc. Parabéns à PF, cuja política de polícia tem se mostrado maior que as políticas nacional e estaduais de segurança pública, que seguimos sem saber seus fins, meios e modos!
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.