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      Sara York

      Sara Wagner York ou Sara Wagner Pimenta Gonçalves Júnior é bacharel em Jornalismo, licenciada em Letras Inglês, Pedagogia e Letras vernáculas. Especialista em educação, gênero e sexualidade, primeiro trabalho acadêmico sobre as cotas trans realizado no mestrado e doutoranda em Educação (UERJ) com bolsa CAPES, além de pai, avó. Reconhecida como a primeira trans a ancorar no jornalismo brasileiro pela TVBrasil247.

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      IA humanizada: o imperativo ético para um futuro inclusivo e conectado

      Uma análise ética e sociológica propõe que a inteligência artificial considere identidades, gerações e relações humanas na construção do futuro

      (Foto: Reprodução )

      A Inteligência Artificial (IA) deixou de ser um conceito futurista para se tornar uma força onipresente, redefinindo as bases de nossa sociedade. Contudo, para além dos algoritmos e da capacidade de processamento, é imperativo que a compreendamos por meio de lentes sociológicas complexas. Como especialista em tecnologia e sociologia, proponho uma reflexão sobre a intrínseca relação entre a IA e as dimensões da interseccionalidade, intergeracionalidade e intersubjetividade. Ignorar essas camadas humanas é construir um futuro tecnológico com bases frágeis e potencialmente injustas.

      IA e interseccionalidade: amplificando ou desafiando desigualdades? - A interseccionalidade, conceito cunhado por Kimberlé Crenshaw, nos ensina que as identidades sociais (raça, gênero, classe, sexualidade, deficiência etc.) não operam isoladamente, mas se entrecruzam, criando experiências únicas de privilégio e opressão. No universo da IA, essa lente é vital.

      Sistemas de IA são treinados com vastos volumes de dados que, invariavelmente, refletem os vieses e as desigualdades históricas de nossa sociedade. Se os dados de treinamento são predominantemente masculinos, brancos e cisgêneros, por exemplo, a IA pode falhar em reconhecer ou até mesmo discriminar indivíduos com outras identidades. Vemos isso em algoritmos de reconhecimento facial que erram mais com pessoas negras ou trans, em sistemas de análise de crédito que penalizam minorias ou em ferramentas de recrutamento que reproduzem padrões de contratação enviesados.

      O desafio aqui é duplo: primeiro, reconhecer que a IA não é neutra; ela herda e amplifica os preconceitos humanos. Segundo, desenvolver estratégias para mitigar esses vieses — desde a curadoria de dados mais diversos e representativos até a criação de algoritmos que sejam auditáveis e transparentes. A interseccionalidade nos força a perguntar: para quem essa IA está sendo construída e quem ela está deixando para trás? Uma IA ética deve ser uma IA interseccional, capaz de desnaturalizar e combater as opressões — e não de perpetuá-las.

      IA e intergeracionalidade: pontes ou lacunas digitais? - A intergeracionalidade refere-se às interações, influências e dinâmicas entre diferentes gerações. A IA impacta cada geração de maneiras distintas, criando tanto oportunidades de conexão quanto potenciais lacunas.

      Para as gerações mais jovens, os “nativos digitais”, a IA é uma ferramenta intuitiva, parte integrante de seu cotidiano. Eles a utilizam para aprendizado, entretenimento e socialização. No entanto, para gerações mais velhas, a IA pode representar um desafio de adaptação, exigindo novas literacias digitais e, por vezes, gerando sentimentos de exclusão ou obsolescência.

      A IA tem o potencial de ser uma ponte intergeracional, por exemplo, por meio de assistentes virtuais que auxiliam idosos em tarefas diárias ou plataformas de aprendizado que adaptam o conteúdo para diferentes níveis de familiaridade tecnológica. Contudo, se não houver políticas públicas e iniciativas de inclusão digital que considerem as especificidades de cada geração, a IA pode aprofundar as divisões, criando uma nova forma de exclusão social para aqueles que não conseguem acompanhar o ritmo da transformação tecnológica. A questão é: como podemos garantir que a IA beneficie todas as idades, promovendo a troca de conhecimentos e experiências entre elas?

      IA e intersubjetividade: a construção da realidade compartilhada - A intersubjetividade é a capacidade de compartilhar experiências, significados e compreensões com outros, formando uma realidade comum e mutuamente reconhecida. É a base da empatia, da confiança e da coesão social. A ascensão da IA, especialmente dos modelos generativos, levanta questões profundas sobre como nossa intersubjetividade será afetada.

      Quando interagimos com chatbots que simulam conversas humanas, ou com IAs que geram textos e imagens realistas, a linha entre o que é “real” e o que é “sintético” pode se tornar borrada. Isso impacta a confiança nas informações, a autenticidade das interações e a própria formação de uma realidade compartilhada. Se a IA pode “alucinar” fatos ou gerar desinformação em escala, como podemos manter um terreno comum de verdade e significado?

      Além disso, a intersubjetividade humana se constrói na complexidade das emoções, da intuição e da experiência vivida. A IA, por mais avançada que seja, não possui consciência ou emoções. O risco é que, ao delegarmos cada vez mais interações a sistemas de IA, possamos empobrecer a profundidade de nossas conexões humanas e a capacidade de construir empatia genuína. O desafio ético aqui é garantir que a IA seja uma ferramenta para enriquecer a intersubjetividade humana — e não para diluí-la ou substituí-la.

      Como professora de Informática na Educação do curso de Pedagogia EaD da UERJ, observo essa tensão de perto. As provas e trabalhos online vêm cada vez mais com uma “assinatura maquínica”, o que podemos chamar de plágio algorítmico. É notável quando alunos que demonstram dificuldades em expressar um registro de reclamação de nota, por exemplo, apresentam uma avaliação impecável, com linguagem e estrutura que destoam de sua escrita habitual. Isso reflete como a IA não apenas altera nossas ferramentas, mas também ressignifica o que esperamos da falibilidade humana e da infalibilidade tecnológica.

      É um fato notável que, nesses tempos, nossas regras e percepções tendem a ser mais complacentes quando o erro é “maquínico”. Paradoxalmente, ser humano e cometer falhas relacionais tem se tornado um campo em que a exigência de assertividade e perfeição é cada vez mais imprescindível. Essa dicotomia reflete como a IA não apenas altera nossas ferramentas, mas também ressignifica o que esperamos da falibilidade humana e da infalibilidade tecnológica.

      Convergência e o chamado à ação - Essas três dimensões — interseccionalidade, intergeracionalidade e intersubjetividade — não são isoladas; elas se entrelaçam na complexa tapeçaria da vida humana na era da IA. Uma IA que falha em reconhecer a interseccionalidade de identidades pode, por exemplo, criar sistemas que alienam gerações mais velhas de minorias, minando sua capacidade de participar da vida digital e de construir significado em um mundo mediado pela tecnologia.

      A IA não é apenas um avanço tecnológico; é um espelho de quem somos e de como organizamos nossa sociedade. Para construir um futuro verdadeiramente humano e inclusivo, precisamos de uma IA que seja:

      • Consciente de seus vieses e projetada para a equidade
      • Acessível e benéfica para todas as gerações
      • Uma ferramenta que enriqueça a conexão e a compreensão humanas, e não que as diminua

      Isso exige um esforço multidisciplinar: engenheiros, sociólogos, filósofos, legisladores e a sociedade civil devem colaborar. A governança da IA não é um luxo, mas uma necessidade ética.

      O futuro da IA não está escrito; ele está sendo construído por nossas escolhas hoje!

      Que essas escolhas sejam guiadas pela sabedoria, pela empatia e pelo compromisso com a dignidade de cada ser humano — e os seus/suas.

      Lista das 5 melhores IAs gratuitas, com base nas informações mais recentes e em sua utilidade geral:

      1. ChatGPT (OpenAI) Para que serve: Responde a perguntas, escreve textos (e-mails, artigos, roteiros), traduz, resume, gera ideias e até analisa código. Por que é bom: Pioneiro em IA generativa de texto, oferece uma interface intuitiva e compreensão contextual impressionante. A versão gratuita já é muito poderosa.
      2. Google Gemini (Google AI) Para que serve: Similar ao ChatGPT, gera e traduz textos, responde a perguntas e tem a vantagem de fazer buscas em tempo real na internet. Por que é bom: Sua integração com a busca do Google o torna ideal para tarefas que exigem informações recentes. É gratuito e acessível.
      3. Canva (com IA integrada) Para que serve: Cria designs para redes sociais, apresentações, documentos etc. A IA gera imagens, remove fundos, cria layouts e otimiza elementos visuais. Por que é bom: Muito fácil de usar, com diversos modelos e recursos gratuitos. A IA acelera o processo criativo e permite visuais de alta qualidade.
      4. Otter.ai Para que serve: Transcreve reuniões, palestras, entrevistas e conversas em tempo real, gerando textos pesquisáveis. Por que é bom: Essencial para estudantes, jornalistas e profissionais que precisam de registros escritos. A versão gratuita tem bom volume de transcrição mensal.
      5. ElevenLabs Para que serve: Transforma texto em fala natural e expressiva, com variedade de vozes e suporte a múltiplos idiomas. Por que é bom: Ideal para criadores de conteúdo, podcasters e desenvolvedores de audiolivros. A versão gratuita permite experimentar a tecnologia.

      Essas ferramentas oferecem uma gama impressionante de funcionalidades que podem otimizar seu tempo, impulsionar sua criatividade e ajudá-lo em diversas tarefas — tudo sem custo inicial.

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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