Fux, a história lhe cobrará o preço do seu egoísmo
A omissão de Fux no episódio da Lei Magnitsky revela falta de empatia e reforça a cobrança que a história lhe fará
No próximo dia 29, a Corte Suprema do país (STF) verá a posse de mais um presidente: assumirá o cargo o ministro Edson Fachin, tendo como vice o ministro Alexandre de Moraes. Posse para ninguém faltar. Apesar disso, os dois têm se empenhado em convidar pessoalmente figuras de destaque da República. Já foram ao gabinete do presidente do Senado, Davi Alcolumbre, se preparam para uma visita ao do presidente da Câmara, Hugo Motta, e esperam conseguir fazer o mesmo, ou seja, entregar em mãos o convite da posse ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Sai da ribalta o ministro Luís Roberto Barroso, que andou deixando vazar a sua vontade de pendurar a toga, até que, em 18 de agosto, em evento em Cuiabá (MT), desmentiu a boataria. Na ocasião, questionado diretamente, rebateu de pronto: “Não, não vou me aposentar, não. Estou feliz da minha vida”.
Parece que sim. Quem o viu à mesa no final do julgamento de Jair Bolsonaro, no nosso 11 de setembro, não tem motivos para duvidar.
O clima que havia azedado na véspera, quando o país enfarou de ouvir a voz monocórdia do ministro Luiz Fux, por 13 horas, mastigar palavras que abriam uma avenida de possibilidades para a defesa dos réus (principalmente Bolsonaro), recobrou a leveza com o texto marcante e personalizado da ministra Cármen Lúcia. Porém, o que se viu em seguida foi a chegada do presidente da Casa, Luiz Roberto Barroso, que foi convidado por Alexandre de Moraes a imediatamente ocupar um lugar à mesa. Sim, todos já contaram esta cena, mas ela precisa ser “fatiada” para ficar no conceito Fux, a fim de dar-lhe a importância devida.
Naquele momento, com o país de olhos grudados na mesa do STF, onde estava sendo decidido o marco entre o passado e o presente, entre a democracia e o desleixo com os seus princípios, a presença de Barroso à mesa foi um reforço na simbologia da data, do julgamento, do desfecho. Não sem nos esquecermos que, na plateia, ao lado da irmã de Cármen Lúcia (Maria Luiza), estava o decano Gilmar Mendes, que também ali não teria função, a não ser a de aplaudir a decisão final.
Ambos, porém, atestaram a necessidade de referendar o papel da primeira turma. Perceberam a importância de marcar a desnecessidade do Pleno em uma votação com autoridade de desfazer qualquer dúvida a respeito dessa “preliminar” das defesas, que procuravam desqualificar a seriedade e o compromisso com aquele juízo.
Destogado – seu papel era um improviso cívico –, foi para a mesa exercer a função de “secretário de luxo” do ministro relator, Alexandre de Moraes, como se com ela estivesse. Ali, investido mais do gesto de solidariedade e de responsabilidade para com a ocasião, anotou, fez contas sobre a dosimetria e tratou de ecoar, sem precisar dizer muito, que o Supremo Tribunal Federal estava ao lado dos quatro integrantes da Primeira Turma, serrando fileira em torno da defesa da soberania.
Sim, mais do que a democracia e o fim do autoritarismo, a presença do presidente do STF naquela mesa desafiava as ameaças externas de que aquele julgamento deveria ser interrompido IMEDIATAMENTE. Seu gesto era mais que respaldar os votos, chegar junto e apoiar o desfecho. Luís Barroso, a despeito de estar na lista de Donald Trump, atual presidente dos Estados Unidos, como um dos ministros que poderiam ser atingidos pela Lei Magnitsky (e já com o visto cassado), preferiu dizer ao país e ao mundo – se é que aquele lá é mesmo o centro do mundo: dane-se o Mastercard.
Tanto Gilmar Mendes quanto Luís Roberto Barroso – se polêmicas já despertaram no passado – acertaram o passo com o presente, inscrevendo-se na importante nesga da história.
Ninguém viu um gesto, uma palavra, uma explicação sobre o fato de Luiz Fux não ter sido citado em hora alguma como passível de punição vinda dos EUA. Dois outros do STF, sabe-se bem por que não estão no cardápio de Trump. Quanto a Fux, por mais que seus posicionamentos sejam conhecidos (à direita), não veio a público tentar um disfarce – tal aquele que ele já usa –, quando o colega Moraes foi atingido pela escalafobética Lei Magnitsky. Zero solidariedade, zero empatia, zero de indignação. Pois lhe damos zero no comportamento. A história lhe cobrará o preço de tamanho egoísmo.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.