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Davis Sena Filho

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Florianópolis, prefeito da exclusão, fascismo, preconceitos e imigrantes europeus respaldados pela intolerância

O Ministério da Justiça, o MPF, o MP e a Justiça de Santa Catarina deveriam acabar com a farra do prefeito sem noção e pleno de preconceitos e sectarismo

Imagens da cidade de Florianópolis (Foto: Abr)

Os preconceitos, o sectarismo e a violência fedem como chorume. Santa Catarina se tornou o centro do reacionarismo e do extremismo de direita no Brasil, mas também da corrupção, porque 28 prefeitos foram presos nos últimos quatro anos, todos de direita ou de extrema direita e ligados ao bolsonarismo. O último prefeito preso é o da importante e poderosa cidade de Criciúma. Uma prisão realizada recentemente, no dia 3 de novembro, sob a acusação de corrupção, dentre outros crimes.

Santa Catarina se tornou o pior dos piores dos estados da Federação onde os fascistas vicejam e comemoram retrocessos e malefícios contra a maioria da população como se tivessem ganhado medalhas e troféus. Contudo, as prisões de 28 prefeitos apenas retratam o porquê de Santa Catarina ter em sua capital, Florianópolis, um prefeito que está a barrar as pessoas e a usar subterfúgios dignos do fascismo para que inúmeros brasileiros não entrem na cidade, porque para o prefeito eles não são dignos de transitar pelas ruas e calçadas da cidade turística e pelo que se percebe dedicada apenas àqueles que têm dinheiro ou muito dinheiro e de preferência que sejam “brancos”.

Por isso, digo e repito: não se dialoga e nem se cumprimenta fascistas; não se negocia com a barbárie. O fascismo se combate, se derrota, bem como se expulsa da vida política de uma cidade, de um estado e de um país. Se você vacilar quanto ao combate aos fascistas, pode ter a certeza absoluta que você será calado, demitido, preso, torturado, exilado e morto. A história está repleta de exemplos do que fizeram e fazem os fascistas e os nazistas, que apenas se satisfazem com ditaduras e a infelicidade geral dos outros, a tristeza como modo de vida. Fascista se derrota, porque ele odeia a democracia, o estado de direito, a justiça social, os direitos sociais, as diversidades e as diferenças, que existem naturalmente em todas as sociedades. Fascismo é morte!

Florianoreich ou Florianópolis, como queira, é a capital do estado brasileiro de Santa Catarina, cujos moradores em grande parte são descendentes de imigrantes que vieram da Europa, muitos deles em condições financeiras e materiais precárias, humilhantes e, digamos, lamentáveis, porque não tinham onde caírem mortos e aqui, na Terra Brasilis, tiraram a barriga da miséria, receberam lotes de terras e ajuda estrutural, apesar de que muitos foram explorados e sem direitos trabalhistas e sociais, principalmente os que foram trabalhar em lavouras de café, mais do que os que se tornaram colonos e donos de pequenas terras.

Contudo, os chamados “gringos” tiveram apoio governamental, realidade que não foi concedida aos trabalhadores negros, ex-escravizados ou descendentes de escravos, que após a libertação não tiveram acesso a nada, a não ser irem para as ruas, ocupar as periferias e os morros. E deu no que deu, mas isso é outra história de injustiças e perversidades contra aqueles que chegaram muito antes dos imigrantes europeus e ajudaram, e muito, a construir o Brasil, de Norte a Sul, de Leste a Oeste, bem como ainda cooperam, nos papéis de trabalhadores, com o desenvolvimento do Brasil e a sustentabilidade do Estado brasileiro por meio dos impostos diretos e indiretos.

A verdade é que os imigrantes brancos, inclusive os de Santa Catarina, onde vive tal prefeito sem noção, tiveram o beneplácito do acesso a animais de criação, à concessão de pequenos empréstimos ou oferta de sementes para plantio, além de provisões concedidas como as de alimentos por certo tempo, bem como os imigrantes receberam ferramentas agrícolas e material de construção, este último benefício não foi em grande escala, além do mais os colonos cooperavam entre si para levantar suas casas simples, mas dignas.

Chegaram ao Brasil com uma mão na frente e outra atrás, sem posses e na condição de pobres, alguns deles poder-se-ia dizer que viviam em situação de extrema pobreza, ou seja, eram miseráveis. Chegaram ao Brasil e foram direcionados para inúmeros estados brasileiros, como Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo, que foram as unidades da Federação que mais receberam esses estrangeiros. Os que foram trabalhar em lavouras de café se estabeleceram em São Paulo e os que foram morar no Sul do País receberam lotes de terra e se organizaram em colônias. Por isso, são chamados de colonos.

Sucessivos governos republicanos do final do século XIX e, principalmente, nas três primeiras décadas do século XX organizaram a imigração dos europeus pobres, que hoje são representados pelos seus descendentes “bem de vida”, brasileiros natos como qualquer brasileiro de qualquer região do País, independente da condição e realidade financeira, racial, religiosa, política e ideológica. Ou seja, todo mundo está submetido à Constituição de 1988, assim como falam o português, o idioma oficial, bem como fazem jus aos mesmos direitos e cumprem com seus deveres, de acordo com as leis do País.

Porém, de uns tempos para cá, especificamente de 2013 até este ano de 2025, a sociedade brasileira se dividiu e entrou em uma espiral de confrontos políticos, ideológicos e até religiosos, sendo que o povo que vota na direita ou na extrema direita perdeu a vergonha de agir contra a convivência entre os que pensam diferente, rompeu com o limite do que é civilizado e enveredou literalmente pelos caminhos da estupidez e da barbárie. São os autodenominados “conservadores”, pessoas de “direita”, além de “patriotas”.

Porém, vivem com as bandeiras dos Estados Unidos e de Israel em seus movimentos políticos de conotações golpistas e baseados francamente em fake news (mentiras). Apoiaram e realizaram uma tentativa de golpe de estado e desejam que o País “deles” e somente para eles, o Brasil, seja invadido por forças estadunidenses e dessa forma facilitar a ascensão de um político fascista para assumir a Presidência da República. Eles tiveram um déspota no poder central, mas tal sujeito está na cadeia com uma pena de 27 anos e três meses nas costas.

A partir daí, essas pessoas passaram a expressar seus piores sentimentos e pensamentos que, no decorrer de décadas de suas vidas vazias e sem importância política, estavam enterrados no fundo de suas almas. Os tais “patriotas” de mentes colonizadas e entreguistas saíram do limbo social e são, na verdade, poços de fúria, ressentimentos, rancores e mágoas.

O lúmpen da extrema direita explodiu efetivamente nos golpes de estado de 2016 (Dilma) e 2023 (Lula) sem qualquer sinal civilizatório, democrático e de empatia pelo próximo, principalmente dos que discordam do jeito como os fascistas enxergam a sociedade, porque pensar, definitivamente, essa gente não pensa. Mostraram seus verdadeiros desejos e mergulharam em um mar de chorume de cheiro nauseante e pútrido, em forma de preconceito, intolerância e violência. Definitivamente, perderam totalmente a vergonha na cara, sendo que nas ruas, no trabalho e nas redes sociais transpareceram para quem quisesse ver suas verdadeiras faces diabólicas. Revelaram-se!

Expressaram seus desejos sectários e sórdidos até então limitados aos espaços de suas casas e se disseram favoráveis à exclusão social, além de se mostrarem claramente racistas, xenófobos, misóginos, homofóbicos e abertamentes violentos com as pessoas que votam em políticos e partidos progressistas ou que simplesmente não compactuam com a forma fascista de ser de certos brasileiros que até então eram considerados “civilizados” e depois evidenciaram quem realmente são, principalmente no período do governo militarista e ultraneoliberal do fascista Jair Bolsonaro, mas desde o desgoverno do golpista e usurpador Michel Temer esse tipo de gente já colocava em prática sua selvageria nas ruas, em todo o lugar.

Trata-se de uma sociedade irrefragavelmente odienta, porque faz do ódio seu método de luta política, de maneira a emparedar todas as pessoas ou grupos que não rezam pela cartilha do autoritarismo, da mentira, da exclusão e dos preconceitos, que oprimem milhões de pessoas, porque a sensação que se tem é que esse lumpesinato direitista, intolerante e violento não vai ceder até que reconquistem o poder central e a partir daí retomar o processo de desmonte do Estado nacional e viabilizar a desconstrução da democracia e do estado democrático de direito, a fim de implementar um regime ditatorial, mesmo se o presidente eleito, mas de direita, passe pelo crivo eleitoral.

Ou seja, teve eleição, mas mesmo com o certame eleitoral o governo governará com autoritarismo, que permitirá mais exclusão, intolerância e preconceito. Já vimos esse filme real de terror antes. Sabemos o que é e como é. Afinal, Jair Bolsonaro, um político fascista, governou para poucos, entregou o estado nacional para os ricos e realizou, sistematicamente, ações ditatoriais e, evidentemente, a estabelecer a exclusão e opressão de inúmeros grupos sociais, além da retirada do estado como indutor do desenvolvimento econômico e mediador dos conflitos sociais. Uma verdadeira barbárie praticada por esses celerados que acham normal, por exemplo, barrar as pessoas nas entradas das cidades, como está fazendo o prefeito fascista de Florianópolis — atual cidade de Florianoreich.

O nome da figura autoritária é Topazio Neto, do PSD, mas o prefeito poderia ser do PL ou do União Brasil ou do PP ou do Novo e até mesmo do PSDB ou MDB, que foram os partidos precursores do golpe de estado de 2016. Agora a sociedade brasileira e catarinense se depara com um sujeito vocacionado para o autoritarismo e o preconceito, afinal o prefeito de Florianoreich está a controlar e a mandar embora os migrantes e até visitantes que não sejam bem-vindos e, com efeito, não estão incluídos como cidadãos conforme decide e considera o prefeito e seus aliados políticos. Exatamente isso: a administração de Topazio Neto decide qual o brasileiro ou catarinense poderá entrar na cidade de Florianópolis. É mole ou quer mais, meu camarada?!

Todo mundo sabe que os imigrantes estrangeiros, que vieram da Europa e que foram citados por mim neste artigo eram pobres e alguns chegaram nesses rincões na condição de miseráveis, porque não tinham onde cair mortos, pois seus países e respectivos governos os deixaram em petição de miséria e por isso tiveram de se mudar para outro país, no caso, o Brasil.

A maioria dos imigrantes brancos era composta por pessoas pobres, analfabetos ou semianalfabetos de parca instrução escolar. No Brasil, essas pessoas foram recebidas com relativa dignidade, e grande parte delas foi trabalhar no meio rural como empregada ou dona de pequenas porções de terra para desse modo se estabelecer e assim tocar a vida com mais oportunidades, porque em seus países e governos de origem se negaram a dar-lhes condições dignas de vida.

Eram italianos, portugueses, espanhóis, alemães, ucranianos, poloneses, suíços, belgas, dentre outras nacionalidades, sendo que os italianos (1,3 milhão de pessoas), os portugueses (1 milhão), os espanhóis (700 mil) e os alemães (250 mil) dominaram a paisagem entre os anos 1884 e 1933, sendo que continuaram a migrar para o Brasil até o início dos anos 1940, agora em uma condição melhor, porque seus parentes e amigos já tinham se estabelecido e a vida ficou melhor no decorrer do tempo.

Agora, o prefeito de Florianópolis, o tal de Topazio Neto, põe suas garras de fora e mostra para quem quiser ver, sem a mínima noção do que é justo e injusto, moral e imoral, civilizado e incivil, e começa a barrar as pessoas da forma mais tosca e intolerante, de modo que ao rasgar a Constituição de 1988 tal político continua a dar continuidade à selvageria que seu aliado político, o fascista Jair Bolsonaro, implantou no Brasil, a comprovar, obviamente, que com o fascismo não se dialoga, mas se combate sem piedade e tergiversação.

Já dizia, em 1936, o anarquista e revolucionário espanhol Buenaventura Durruti: "O fascismo não se discute, se destrói". O anarquista proferiu essa verdade durante a Guerra Civil Espanhola (1936/1939) em discurso pronunciado através do rádio aos trabalhadores. O prefeito de Florianoreich inventou mil argumentos para amenizar sua inenarrável covardia, quando decidiu instalar um posto na rodoviária da capital catarinense a fim de monitorar as pessoas que chegam na cidade.

A verdade é que esse sujeito é um prefeito direitista e alinhado ao bolsonarismo em um pequeno estado sulista de 8 milhões de habitantes em relação, por exemplo, ao Estado de São Paulo, que tem mais de 46 milhões de habitantes. Santa Catarina tem, proporcionalmente, mais ativistas neonazistas do que o estado bandeirante quando se trata do tamanho de suas populações. Em números absolutos, Santa Catarina só tem menos células neonazistas do que São Paulo.

Para disfarçar e não mandar a polícia prender ou dar porrada nas pessoas que pretendem entrar em Florianópolis, o tal prefeito Topazio tratou de colocar um posto avançado na rodoviária administrado pela Secretaria Municipal de Assistência Social. De acordo com o prefeito, a finalidade é “oferecer” passagem de volta para quem desembarcar sem emprego ou moradia. Ou seja, se um cidadão brasileiro estiver desempregado ou não tiver casa na cidade, ele simplesmente está proibido de ficar ou de se estabelecer ou procurar oportunidade de trabalho — de vida.

“Quem chega sem trabalho ou sem local para morar recebe passagem para a cidade de origem ou onde tenha um parente” — declarou o prefeito em vídeo publicado nas redes sociais. Por intermédio da medida arbitrária, mais de 500 pessoas tiveram de ir embora ao descer na rodoviária, sem chance de entrar em Florianoreich. Topazio, para amenizar a tamanha desfaçatez, afirma que o foco é o acolhimento das pessoas que se encontram em situação de vulnerabilidade, porque, segundo o prefeito, como todo autoritário e arbitrário afirma para fazer covardias, “Precisamos manter a ordem e as regras”.

Trata-se, na verdade, de limpeza social e outras “limpezas” como muito bem sabemos. Ele não quer pobres e necessitados na cidade de Florianoreich. Críticos, estudiosos e pessoas que têm o mínimo de inteligência e sensibilidade sabem que a iniciativa do prefeito Topazio rompe com o direito constitucional de ir e vir, bem como evidencia práticas de exclusão social e até mesmo racial.

Esse sujeito, na verdade, está a rasgar a Lei e simplesmente não quer pessoas “sem qualquer vínculo com a capital” de Santa Catarina. Ele disse isso, acredite, cara-pálida! Topazio encaminhou denúncia ao MP sobre um homem que supostamente foi enviado de um município catarinense para Florianoreich, quando asseverou: “Não vamos permitir que enviem pessoas para cá de forma irresponsável”.

O prefeito Topazio Neto deixou claro que a ação colocada em prática por ele e seus asseclas será intensificada especialmente no verão, época do ano em que o fluxo de turistas aumenta exponencialmente e entra muito dinheiro para o empresariado e os políticos ricos de Santa Catarina. Vê se pode, né prefeito Topázio, pobretões, necessitados e gente sem eira nem beira querer entrar em Florianoreich? Eles não se enxergam? A verdade é que o Ministério da Justiça, o MPF, o MP e a Justiça de Santa Catarina deveriam acabar com a farra do prefeito sem noção e pleno de preconceitos e sectarismo. É isso aí.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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