Exército dos EUA faz operação CORE 25 com militares brasileiros na Caatinga e planeja se estabelecer até 2028
Operação contou com a participação de 513 militares nacionais
Circulou hoje (16/07), no portal intitulado “A Nova Democracia”, a notícia de uma operação conjunta entre o Exército Brasileiro, com a participação de 513 militares nacionais e zero informação sobre a quantidade de integrantes das fileiras estadunidenses, realizada no sertão nordestino entre os dias 7 e 11 de julho. O que chama a atenção é que no dia 9 de julho o governo dos Estados Unidos impôs ao Brasil uma tarifa de 50% dos seus produtos exportados para aquele país, numa linguagem de flagrante ataque político ao Brasil, onde se encontravam os oficiais e soldados estadunidenses. A operação recebeu o sugestivo nome de “Carcará”. Para os que se lembram da canção de João do Vale, “Carcará pega, mata e come”. Nada mais de acordo para o momento.
Esta é, na verdade, a 4ª edição da Operação Carcará, com atividades concentradas, desta vez, nos municípios de Carpina e Araçoiaba, em Pernambuco e integra o calendário de preparação para a Operação CORE 25 (Combined Operaciones and Rotation Exercises), marcada para ocorrer de 1º a 14 de novembro deste ano, nas regiões de Petrolina e Lagoa Grande, também em Pernambuco. A esta altura é o caso de nos perguntarmos: é conveniente que esse tipo de operação aconteça, levando-se em conta o nível de temperatura política a que estamos submetidos? Para os militares locais, a operação é descrita como “uma série de treinamentos voltados à capacitação de tropas brasileiras para atuação conjunta com o Exército dos Estados Unidos, em um processo de certificação e padronização operacional”. A definição é do comandante militar do Nordeste, Maurílio Ribeiro, que falou com o Diário de Pernambuco sobre a atuação dos estadunidenses em solo pátrio. “Esta integração é planejada para culminar no exercício militar bilateral CORE, que ocorre anualmente desde 2021 e deve continuar até 2028”, esclareceu.
“O exercício objetiva não apenas aprimorar o adestramento das tropas brasileiras e norte-americanas, mas também promover um intercâmbio cultural e logístico entre os dois países.” O general se refere ao tal “intercâmbio” que os nossos militares prezam muito. Para se ter uma ideia do quanto, alguns oficiais do Alto Comando – embora motivados -, deixaram de aderir ao golpe de 2022, para preservar essa relação com o Comando Sul, onde são “treinados” muitos dos nossos oficiais, e onde o Exército costuma adquirir armamentos de segunda mão, num histórico de aceitação e imposição da doutrina dos EUA.
“A operação na caatinga, por sua vez, representa uma oportunidade ímpar para que os militares americanos se familiarizem com as condições desafiadoras desse bioma, conhecido por seu clima árido e vegetação específica e que corresponde aproximadamente a 80% da área da jurisdição do Comando Militar do Nordeste”, explicou o general. E aí voltamos a perguntar: e por que diabos os soldados estadunidenses precisam se ambientar com o bioma nordestino? Essa, nem Sara Goes explica!
E o processo é longo. Conforme anunciado por autoridades militares, o programa CORE seguirá com edições anuais até pelo menos 2028, com planejamento já em andamento para exercícios em diferentes regiões do país, nos revela o portal já mencionado acima. A operação envolve a instalação temporária de bases, utilização de aparatos de guerra de última geração e intercâmbio direto entre oficiais dos dois países. Do tipo: eu te ensino a fazer renda e você me ensina a namorar...
Ainda dentro do espírito: porque me ufano dos states, a continuidade das operações também coincide com a formação da escola de sargentos em São Lourenço (PE), já denunciada por AND em suas irregularidades ambientais e contradições com a população local, sobre a qual o comandante Maurílio Ribeiro também comentou em sua entrevista ao Diário de Pernambuco:
“O Governo do estado tem colaborado ativamente com o Exército, especialmente em projetos de infraestrutura que fazem parte das contrapartidas do acordo de cooperação técnica. E o cronograma está bem alinhado e sincronizado com o nosso cronograma.” Como diriam os pernambucanos, “pronto”: se a felicidade é o bem maior que todos buscam e todos estão felizes, dane-se o meio ambiente.
Os exercícios “a futuro”, levantam novamente a discussão acerca da viabilidade de se manter a subjugação à pauta de um país que anda nos fustigando por causa de um ex-presidente a um passo da cadeia, a política das big techs e outras motivações que só Trump conhece.
Está contido no texto, mas não fica muito claro se é mais uma das explicações do general, a seguinte pérola: Esses exercícios buscam preparar militares para atuar sob diretrizes comuns ao exército norte-americano, o que envolve o uso de tecnologias de guerra avançadas e práticas de repressão ao povo, especificamente da Caatinga. What??? Foi isso mesmo o que vocês leram: “práticas de repressão ao povo”. É o que andam aprendendo os nossos soldadinhos.
E já foi mais grave: questionado durante as ações do CORE 23, realizada na Amazônia (sim, na Amazônia, onde jamais militares estranhos às nossas fileiras haviam pisado), sobre o risco de operações desse tipo para o nosso país, Robinson Farinazzo, oficial da reserva da Marinha, ouvido pelo portal Sputnik, opinou:
“tais exercícios não favorecem o País. As relações bilaterais militares precisam ter o mínimo de reciprocidade. As autoridades brasileiras deveriam explicar por que o país permite que os Estados Unidos realizem exercícios no nosso território sem pedir nada em troca. Tivemos recentemente voos de espionagem realizados pelos EUA sobrevoando o nosso litoral, duas vezes. Que aliado militar é esse que nos espiona?”, indagou o oficial à equipe do Sputnik, que o entrevistava. (Como assim? Sem nada em troca?... E, pior, em tempos duvidosos).
Eu acrescentaria: que aliado é esse que nos taxa em 50%, por um quase presidiário que quis nos transformar em uma ditadura? Até novembro podemos avaliar a conveniência dessa tal Operação CORE. Seja lá o que isso possa nos acarretar.
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