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Paulo Henrique Arantes

Jornalista há quase quatro décadas, é autor do livro "Retratos da Destruição: Flashes dos Anos em que Jair Bolsonaro Tentou Acabar com o Brasil". Editor da newsletter "Noticiário Comentado" (paulohenriquearantes.substack.com)

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“Drácula” e “Mineirinho”, juntos com Paulinho da Força em mais um golpe

Não existe “saída” para as sentenças proferidas contra os golpistas pelo Supremo Tribunal Federal

Aécio Neves, Paulinho da Força e Michel Temer (Foto: Divulgação)

A piada de mau gosto e intenções antirrepublicanas que é a tal PL da Dosimetria, melhor denominada se fosse PL do Golpismo, está sendo contada por três das figuras mais nefastas da História recente do Brasil. Melífluos, não por acaso sempre desfrutaram da simpatia – mais que isso, da condescendência - da imprensa mainstream. Michel Temer, Aécio Neves e Paulinho da Força encarnam o pior tipo de política praticado no país, personificando os interesses de uma elite abraçada ao patrimonialismo e camuflados por um falso verniz de moderação e talento para o diálogo.

Não existe “saída” para as sentenças proferidas contra os golpistas pelo Supremo Tribunal Federal - não na Constituição. Eventuais reduções de penas ou outros benefícios aos réus condenados só podem advir de recursos judiciais – assim funciona nos países em que os Poderes são autônomos e soberanos em suas atribuições. Fora disso, é golpe. Mais um.

Por que Michel Temer e Aécio Neves surgem como “consultores” do relator Paulinho da Força nesta hora de negociar o inegociável? O que os credencia?  Por acaso, o passado deles carrega exemplos de conquistas democráticas? Ou de golpes, bem ou mal sucedidos? Lembre-se de que Aécio inaugurou a moda de questionamento de resultados eleitorais quando não aceitou a derrota para Dilma Rousseff. Sobre o golpismo de Michel Temer, desnecessário relembrá-lo, pois indelével na memória.

Um patético Aécio Neves surge na tela da televisão, em propaganda do moribundo PSDB, para exaltar-se como anti-PT e anti-Bolsonaro, sonegando do público conhecimento de aproximações políticas que já teve em relação a um e outro.

Em 21 de maio último, recuperamos neste espaço trechos da capivara de Aécio. Sua volta aos holofotes justifica a republicação.

Em 2017, o neto que envergonharia o avô Tancredo foi gravado pedindo 2 milhões de reais a Joesley Batista, dono da JBS. Um mero empréstimo, alegou, o que não impediu que fosse afastado temporariamente do posto de senador que ocupava e que se tornasse réu por corrupção. Acabou inocentado em julho de 2023 pelo Tribunal Regional Federal da 3ª Região. Pedir dinheiro não é crime, afinal.

Entre 2015 e 2017, Aécio Neves chegou a figurar em pelo menos oito inquéritos no Supremo Tribunal Federal por corrupção, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e obstrução da justiça, como parte da famigerada “Lista de Janot”. 

Num processo que ainda tramita, delatores da Odebrecht afirmaram que ele recebeu cerca de 50 milhões de reais (30 milhões da própria Odebrecht, 20 milhões da Andrade Gutierrez) em troca de favorecimento na construção da Usina Hidrelétrica de Santo Antônio, no Rio Madeira, Rondônia. Esses valores teriam sido repassados por meio de intermediários e contas no exterior, incluindo offshores em Cingapura. Nas planilhas da Odebrecht, era chamado de “Mineirinho”.

De Michel Temer tudo que se escrever será pouco diante das dimensões do seu golpismo e da desfaçatez com que, na Presidência da República, avacalhou os trabalhadores. Assim escrevemos neste espaço não faz muito tempo: Michel “Drácula” Temer é o modelo ideal de político para a elite brasileira, pois serve a ela sem perder a pose nem abdicar das mesóclises, cobrindo-se de um verniz jurídico que impressiona os incautos.   Na verdade, seu forte são os conchavos. Ele articulou a derrubada da presidenta da República e surrupiou-lhe o cargo. Na Presidência, foi instrumento perfeito do Brasil reacionário.

Michel Temer patrocinou uma reforma trabalhista que quase destroçou a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), levando a cabo uma “modernização” das relações de trabalho que respondeu por uma legião de trabalhadores informais, precarizados, sem direito a nada.

Os males que Michel “Drácula” Temer causou ao país ainda persistem. Abraçado a Henrique Meirelles, suas iniciativas no Planalto foram cirúrgicas contra as classes mais vulneráveis - o teratológico teto de gastos é o melhor exemplo disso, algo inédito mesmo nas piores praças neoliberais do mundo.

A reforma da Previdência que Jair Bolsonaro impingiu ao país, com ajuda do Congresso mais vil da História da República, salvo o atual, foi concebida pelo governo de “Drácula”, só não tendo emplacado naquele mandato porque o vampirão perdeu qualquer condição de negociar com os parlamentares, denunciado que fora por corrupção após o vazamento de uma conversa pouco republicana com Joesley “Friboi” Batista.

Michel “Drácula” Temer – o apelido advém de sua inacreditável semelhança física com o ator Christopher Lee, imortalizado no papel do conde-vampiro - encarna a elite do atraso, como bem definida pelo sociólogo Jessé Souza. Uma elite piegas, usuária de uma falsa oratória conciliadora, um discurso centrista hipócrita que mal disfarça a volúpia por privilégios, com um pé na academia e outro em regabofes com doleiros e congêneres.

Essas duas nefastas figuras – “Drácula” e “Mineirinho” - hoje são incensadas pela mídia como qualificadas para estabelecer “dosimetrias” e aliviar a punição a Bolsonaro e comparsas. Assessoram o relator do PL do Golpismo, Paulinho da Força, sobre quem também já escrevemos. 

Notório pelego, Paulinho foi fervoroso defensor do impeachment de Dilma Rousseff ao lado de entidades patronais, e da Lava Jato, até ser enredado por ela. 

Em 2007, o Ministério Público Federal relacionou-o a um esquema que teria desviado recursos de financiamentos do BNDES. Em setembro de 2015 a Segunda Turma do Supremo autorizou o recebimento de denúncia que transformou o caso em ação penal no STF.

Em 5 de junho de 2020, a Primeira Turma do STF condenou Paulinho da Força a 10 anos e dois meses de reclusão, além de multa e outras sanções, como perda de mandato e impedimento de exercer função pública. A votação foi apertada - três a dois. Votaram pela condenação os ministros Luís Roberto Barroso, Luiz Fux, em sua versão punitivista, e Rosa Weber. Alexandre de Moraes e Marco Aurélio Mello votaram pela absolvição de Paulinho. Também fixou-se ressarcimento ao BNDES de182 mil reais, com correção monetária.

A execução da pena foi sendo postergada pela interposição de recursos. Em 21 de novembro de 2023, o Plenário do STF decidiu reverter a condenação de Paulinho. Ou seja: a sentença de 2020 foi anulada e revista pelo Supremo.

A capivara de Paulinho de Força, contudo, é um pouco mais extensa. No âmbito da Lava Jato, investigações apontaram que o parlamentar teria recebido entregas de recursos por meio de caixa 2 da Odebrecht, totalizando, segundo a investigação, cerca de R$ 1,8 milhão — com relatos de quatro entregas ocorridas em 2014 na sede da Força Sindical.

A Polícia Federal indiciou Paulinho por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A acusação de que Paulinho da Força teria recebido a bolada foi arquivada pelo STF, por decisão do ministro Dias Toffoli, em fevereiro de 2025. A justificativa central foi que as provas principais - planilhas da Odebrecht - foram anuladas, restando apenas delações sem evidência corroborativa suficiente.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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