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João Ricardo Dornelles

(Professor de Direito da PUC-Rio; Coordenador do Núcleo de Direitos Humanos da PUC-Rio; membro do Instituto Joaquín Herrera Flores/América Latina; membro do Coletivo Fernando Santa Cruz)

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De alma lavada. 21 de setembro, o dia da virada

Mobilização popular pode redefinir a correlação de forças e abrir caminho para um projeto anticapitalista no Brasil

São Paulo (SP), 21/09/2025 Manifestantes participam de ato contra a PEC da Anistia e da Blindagem, no MASP. Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil (Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil)

O dia 21 de setembro de 2025 pode marcar o ponto de virada na correlação de forças desfavorável às forças populares e progressistas no Brasil.

Pode ser o ponto de inflexão na estratégia do governo para garantir a sua governabilidade.

Povo na rua não tem sido o forte das esquerdas brasileiras e muito menos um objetivo do próprio governo Lula, que tem preferido a tática de jogar na retranca para garantir o zero a zero, tem preferido “não fazer marola” para tentar sensibilizar as forças de direita (os inimigos) para que se possa governar. Sempre o que se coloca é que a tal correlação de forças está desfavorável, o que tornaria impossível avançar nas políticas de reforma social com apoio efetivo de massas através da mobilização popular.

Ouso discordar da estratégia do governo Lula e de setores majoritários do PT que, para manter uma frente cada vez mais ampla, acabam priorizando a luta institucional e as negociações quase ilimitadas de acordos com as diferentes forças dos nossos inimigos para a ampliação da tal frente ampla como forma de garantir a governabilidade. E sempre vem a mesma ladainha: “não temos uma correlação de forças favorável”.

A correlação de forças não é um dado da natureza, não é uma fórmula matemática, a correlação de forças não cai do céu. Correlação de forças se constrói politicamente, podendo-se criar condições para a sua mudança. E, para isso, é necessária a ação coletiva dos sujeitos políticos do campo popular. Organizar e mobilizar um bloco histórico do campo popular e colocá-lo em ação. É necessária a ação organizada de massas. É a tal práxis como critério da verdade. É a prática social permanente.

E isso não ocorre espontaneamente, ao contrário do que pensam muitos dos nossos companheiros e companheiras do governo Lula e das forças de esquerda.

Não é algo como esperar o amadurecimento natural das condições objetivas para mudar a correlação de forças.

A luta política e a transformação social através da prática social se dão na conjugação dialética entre as condições objetivas e as condições subjetivas da realidade. E é aqui que se pode criar as condições necessárias para uma mudança radical de uma correlação de forças desfavorável. Com a ação das massas organizadas, dos partidos políticos de esquerda, das centrais sindicais, dos movimentos sociais, desse conjunto de forças que se unifica em um movimento de massas e com um projeto político preciso, ocupando os espaços públicos, as ruas, as praças, os espaços de comunicação disponíveis, pressionando como força política de massa as instituições do Estado e sendo um polo de atração e aglutinação de toda a sociedade. Ou seja, disputando corações e mentes do conjunto da sociedade. Deixando de falar apenas para os nossos e passando a falar para toda a sociedade. Tornando-se força política dirigente, construindo um bloco histórico do campo popular com um projeto claro de luta contra o neoliberalismo, contra o fascismo e que aponte para um objetivo estratégico anticapitalista.

E falar de luta contra as PECs da Blindagem-Bandidagem e da Anistia para golpistas é a dimensão da luta democrática de massas contra o fascismo bolsonarista e o centrão delinquente. Falar da luta contra a jornada 6 x 1, pela isenção do Imposto de Renda para trabalhadores até 5 mil reais e pela taxação dos super-ricos é, nas condições brasileiras de hoje, colocar o dedo na luta contra o capitalismo neoliberal e, de lambuja, contra a herança elitista, oligárquica, colonial e escravista das elites brasileiras, que nunca foi rompida. E essas pautas são pautas do povo, do conjunto dos trabalhadores, dos pequenos empresários, da imensa maioria da população que vive do seu trabalho diário.

A isso se junta a pauta da soberania nacional e da verdadeira independência do Brasil.

Esse é o eixo de construção de um bloco histórico popular, contra-hegemônico, que possa avançar de forma consequente para a realização das tarefas históricas de emancipação social do povo brasileiro.

O 21 de setembro pode significar esse ponto de virada. Pode ser o momento da conscientização popular de que a política não se faz apenas nos conchavos e conciliações dos salões do poder. Que política é uma ação nobre quando o povo organizado em suas inúmeras organizações sociais entra em cena, sai da plateia e sobe no palco real da política. Ocupa as ruas e praças e passa a ser o sujeito da história. O momento em que a noção abstrata de povo pode se tornar força constituinte e mudar os rumos da história de uma sociedade.

Temos uma oportunidade de ouro a partir do 21 de setembro de 2025. A possibilidade de mudar o rumo das coisas, mudar o rumo da política no Brasil, de levar o governo mais para a esquerda, de mostrar para muitos dos nossos políticos de esquerda que a prática da emancipação social se dá com a ação coletiva de massas.

Podemos dar o passo inicial para uma mudança significativa da tal “correlação de forças desfavorável”.

De colocar nas cordas não apenas o fascismo bolsonarista, mas o delinquente centrão, a Faria Lima, a Globo, Estadão, Folha e outros meios de comunicação, agentes do capital e dos interesses geopolíticos estadunidenses.

Temos uma chance de dar a virada. E isso foi demonstrado no dia 21 de setembro.

Foi um dia para lavar a alma do povo brasileiro.

Ousar lutar, ousar vencer.

A luta continua!

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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