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      Heba Ayyad

      Jornalista internacional e escritora palestina-brasileira

      161 artigos

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      Como Israel se convencerá de que o projeto de eliminação dos palestinos fracassou?

      Israel vem tentando atrasar um acordo de cessar-fogo e minar todas as frentes de negociação

      Palestinos inspecionam os danos no local de um ataque aéreo israelense durante a noite contra uma tenda que abrigava deslocados, em Khan Younis, no sul da Faixa de Gaza (Foto: REUTERS/Hatem Khaled)

      As negociações de cessar-fogo em andamento em Gaza, realizadas na capital do Catar, Doha, fracassaram após a delegação israelense insistir na apresentação de um mapa de retirada que deixaria aproximadamente 40% da Faixa de Gaza sob controle militar de Israel.

      Após o Hamas negar relatos da mídia sobre declarações atribuídas ao seu líder no exterior, Khaled Meshaal — segundo as quais ele teria afirmado: “Não temos pressa pelos resultados dessas negociações” —, outro líder proeminente também desmentiu, em entrevista à BBC, as notícias que sugeriam que um acordo estaria iminente.

      Israel, como de costume, responsabilizou o movimento pelo atraso no anúncio da trégua, alegando que o Hamas mantinha “posições que impedem os mediadores de progredir”. No entanto, a verdade dos fatos, confirmada por fontes israelenses e palestinas, é que os negociadores israelenses entregaram uma mensagem escrita aos mediadores afirmando que Tel Aviv manteria uma “zona-tampão” restrita dentro de Gaza, com profundidade entre 1 e 1,5 km. O movimento considerou essa proposta um possível ponto de partida para alcançar um acordo.

      O Hamas então solicitou um mapa israelense detalhando as áreas propostas para retirada. Os negociadores palestinos, porém, foram surpreendidos por um mapa que indicava “zonas de proteção” abrangendo toda a cidade de Rafah, no sul; aproximadamente 85% da vila de Khuza’a; grande parte das cidades de Beit Lahia e Beit Hanoun; além de bairros a leste da Cidade de Gaza, como al-Tuffah, al-Shuja'iyya e al-Zaytoun.

      A rejeição palestina a esses mapas baseou-se no fato de que eles colocariam cerca de 40% da Faixa de Gaza sob controle israelense. O movimento também rejeitou a proposta de transferir os moradores de Gaza para uma “cidade humanitária” no sul, considerando-a uma forma de legalizar a reocupação de quase metade do território e sua fragmentação em áreas isoladas, sem travessias nem liberdade de movimento.

      Além disso, o Hamas rejeitou a proposta de que a entrada e a distribuição de ajuda humanitária fossem feitas exclusivamente por meio de agências da ONU e organizações internacionais, exigindo garantias firmes para o fim do genocídio. 

      Com base no conhecimento de longa data sobre o desempenho de Israel nas negociações, os palestinos concluíram que o país está utilizando essas rodadas para ganhar tempo e transmitir aos mediadores — e ao mundo — a impressão de que há progresso, enquanto simultaneamente trabalha para concluir sua estratégia de deslocamento forçado, mais recentemente representada por um plano que visa transferir os moradores de Gaza para um campo de detenção em massa denominado “Cidade Humanitária de Rafah”.

      O lado israelense, com apoio estadunidense e europeu, tem se concentrado na questão da libertação dos prisioneiros israelenses. No entanto, as negociações também refletem uma necessidade da ONU — e da comunidade internacional, regional e árabe — de resolver a questão palestina, não apenas como forma de pôr fim à tragédia em Gaza.

      Por sua vez, o governo de Benjamin Netanyahu e seus parceiros — extremistas racistas — vêm tentando atrasar o acordo e minar todas as frentes: desde seus planos de controle militar sobre a Faixa de Gaza até a proibição da ajuda humanitária, a exclusão da UNRWA, a entrega dos procedimentos a uma organização de reputação duvidosa (a chamada Fundação Humanitária de Gaza) e o adiamento da decisão de encerrar a guerra.

      Todas essas tentativas apontam para um processo que o governo Netanyahu ainda não compreendeu ser inviável: a eliminação do povo palestino. A insistência diária de Israel em matar palestinos representa, de certa forma, um reconhecimento passivo dessa impossibilidade. Isso ajuda a explicar o embate cada vez mais acentuado do Estado hebreu com o sistema internacional representado pelas Nações Unidas e suas instituições.

      Eliminar a Palestina, nesse contexto, equivale a tentar eliminar o próprio sistema internacional — e significa um retorno simbólico aos dias de Auschwitz e do Holocausto, desta vez direcionado aos palestinos. Este é o imenso desafio diante do qual o mundo se encontra.

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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