Como a China traça o caminho na governança climática global
Plano apresentado por Xi Jinping prevê corte de emissões, expansão massiva de renováveis e liderança internacional no enfrentamento da crise climática
O presidente chinês Xi Jinping apresentou as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) de 2035 em um discurso em vídeo na Cúpula do Clima da ONU 2025, realizada em Nova York na quarta-feira (24). Ele detalhou as metas climáticas da China até 2035: reduzir em 7% a 10% as emissões líquidas de gases de efeito estufa em relação ao pico e elevar a participação de combustíveis não fósseis no consumo total de energia para mais de 30%.
O plano prevê expansão maciça de energia renovável, com meta de alcançar 3.600 gigawatts de capacidade instalada de energia solar e eólica, mais de seis vezes o nível de 2020. A China também pretende aumentar o volume de florestas para mais de 24 bilhões de metros cúbicos e tornar os veículos de novas energias o segmento dominante das vendas de carros novos. Além disso, o mercado nacional de comércio de carbono será ampliado para setores de altas emissões, enquanto novas políticas buscarão construir uma sociedade adaptada às mudanças climáticas.
Na véspera, em uma reunião de alto nível da ONU, o primeiro-ministro Li Qiang destacou o papel global da China, afirmando que o país já estabeleceu a maior e mais completa cadeia industrial de energia limpa do mundo e reiterou que continuará a promover a transição verde mundial, contribuindo para um mundo limpo, belo e sustentável.
As ações da China mostram que, guiada pela visão de uma comunidade com futuro compartilhado para a humanidade, Pequim assume papel cada vez mais importante na governança climática global. Sua estratégia combina ação doméstica abrangente, cooperação internacional pragmática e disposição para moldar as regras da governança global.
As raízes dessa lógica
- Da filosofia confucionista: já em 1988, em Paris, 75 laureados com o Nobel defenderam que a humanidade deveria beber da sabedoria confucionista para enfrentar a crise ecológica do século XXI. A ideia de harmonia entre o ser humano e a natureza é central no pensamento ecológico chinês e fornece uma solução própria para a crise global.
- Estabelecer antes de abolir: em vez do caminho “poluir primeiro, tratar depois”, a China prioriza criar setores limpos – solar, eólico, hidrelétrico – e então reduzir gradualmente carvão, petróleo e gás. O país já suspendeu a construção de novas usinas a carvão em países da Iniciativa do Cinturão e Rota (BRI) e promove uma versão verde do projeto.
- Passo a passo: enquanto países ricos impõem a meta de limitar o aquecimento a 1,5ºC como pressão política, a China desempenhou papel central no Acordo de Paris de 2015, que busca limitar o aumento da temperatura global em até 2ºC. Ao longo da última década, Pequim tem sustentado as negociações do IPCC e promovido ações graduais e factíveis.
- Da China para o mundo: a integração entre digitalização e novas energias mostra que desenvolvimento e proteção ambiental podem caminhar juntos. O conceito de que “águas límpidas e montanhas verdejantes são ativos inestimáveis”, testado na prática doméstica, agora é difundido globalmente via plataformas como a Coalizão Internacional para o Desenvolvimento Verde da BRI (BRIGC).
Conceitos centrais
- “Águas límpidas e montanhas verdejantes são ativos inestimáveis”: aponta a unidade entre desenvolvimento econômico e proteção ambiental, mostrando que proteger a natureza é proteger a produtividade.
- “Comunidade de vida entre o ser humano e a natureza”: destaca que a degradação ambiental prejudica a própria humanidade e exige coexistência harmônica.
- Responsabilidades comuns, porém diferenciadas: princípio que a China sempre defendeu, cobrando que países desenvolvidos assumam maior responsabilidade histórica no combate à mudança climática.
Caminhos de atuação da China
- Defesa do multilateralismo: apoio ao sistema internacional centrado na ONU e à UNFCCC como principal canal da governança climática.
- Cooperação Sul-Sul: criação de fundo de apoio, capacitação de técnicos e projetos de baixo carbono em mais de 120 países.
- Coordenação entre grandes potências: diálogo com economias centrais, inclusive com os EUA, foi essencial para a adoção e entrada em vigor do Acordo de Paris.
Contribuições concretas
- Transição energética verde: a China lidera em capacidade renovável instalada – que chegou a 1,889 bilhão de quilowatts até o fim de 2024 – e reduziu os custos globais de energia solar e eólica em mais de 60% e 80%, respectivamente.
- Inovação em mecanismos de mercado: criação do maior mercado de carbono do mundo, exemplo para precificação global de emissões.
- Conservação ecológica: reflorestamento em larga escala e projetos como “retorno da terra agrícola à floresta” contribuíram com cerca de um quarto das novas áreas verdes globais nos últimos 20 anos.
- Agenda ecológica global: protagonismo em compromissos como o Marco Global de Biodiversidade Kunming–Montreal, reforçando liderança na governança ecológica.
Valores e inspiração
- Cumprir a palavra: definição de metas ambiciosas acompanhadas de sistemas de políticas sólidas e ações concretas.
- Equilíbrio entre dimensões domésticas e internacionais: a transição de baixo carbono é tratada como estratégia nacional e exigência de desenvolvimento sustentável.
- Justiça e cooperação ganha-ganha: atenção às preocupações dos países em desenvolvimento, defesa de responsabilidades diferenciadas e busca de um sistema climático global justo e razoável.
Visão de futuro
A ideia de construir uma comunidade com futuro compartilhado para a humanidade não é um slogan abstrato. Significa reconhecer que o destino de nações e povos está interligado. A governança climática global defendida pela China expressa esse ideal: unir forças diante dos desafios e construir uma aldeia global harmoniosa em nosso planeta comum, transformando a aspiração por uma vida melhor em realidade compartilhada.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.