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      Maria Luiza Falcão Silva

      PhD pela Heriot-Watt University, Escócia, Professora Aposentada da Universidade de Brasília e integra o Grupo Brasil-China de Economia das Mudanças do Clima (GBCMC) do Neasia/UnB. É autora de Modern Exchange Rate Regimes, Stabilisation Programmes and Co-ordination of Macroeconomic Policies, Ashgate, England.

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      China 2025: o mundo observa o poder do planejamento

      Plano Quinquenal chinês se encerra com avanços em tecnologia, transição ecológica e redução da desigualdade regional

      Xi Jinping (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

      À medida que se encerra o 14º Plano Quinquenal chinês, o mundo assiste ao desdobramento de uma estratégia de desenvolvimento que alia planejamento estatal, inovação tecnológica e redução da desigualdade regional. Em contraste com o improviso político e os ciclos de crise recorrentes no Ocidente, a China dá sinais claros de que a estabilidade e a previsibilidade são, sim, vantagens competitivas no século XXI.

      O ano de 2025 marca o fim do 14º Plano, iniciado em 2021. Em cinco anos, o país mais populoso do mundo dá sinais inequívocos de que sua aposta no planejamento estratégico continua rendendo frutos. Promoveu avanços expressivos em ciência, tecnologia, infraestrutura verde e redistribuição territorial do crescimento.

      Enquanto grande parte do Ocidente se debatia entre ciclos e crises, com pandemias políticas e tarifárias e populismos autoritários, a China seguia em frente com um projeto nacional de longo prazo, entregando crescimento com inovação, coesão social e protagonismo ambiental. Na visão de alguns analistas, o modelo chinês está moldando o século XXI.

      Ao contrário das economias neoliberais, em que as políticas econômicas oscilam ao sabor dos humores eleitorais, a China opera com planos de médio e longo prazo que orientam investimentos, inovação e transformação estrutural. O 14º Plano não foi diferente: estabeleceu metas de crescimento com qualidade, priorizou a transição energética, impulsionou a digitalização da economia e fortaleceu a segurança alimentar e energética. A inteligência artificial foi tratada como ativo estratégico, e a iniciativa “AI Plus”, recentemente aprovada, reforça esse protagonismo no campo da tecnologia de ponta.

      No setor da indústria verde, os resultados falam por si. A China responde hoje por mais de 60% da produção global de painéis solares e por mais da metade das vendas de veículos elétricos no mundo. A aposta na mobilidade elétrica, aliada à construção de cidades inteligentes e ao avanço da matriz energética limpa, posiciona o país como o maior laboratório vivo da transição ecológica global. E faz isso enquanto garante crescimento econômico superior a 5% ao ano — um feito notável em tempos de estagnação mundial.

      Outro ponto central foi a redução da disparidade entre as regiões litorâneas desenvolvidas e o interior historicamente negligenciado. A estratégia estimulou o desenvolvimento do interior do país, distante das metrópoles saturadas do litoral, em busca de reequilíbrio territorial. Novas ferrovias, cidades inteligentes, polos tecnológicos e zonas francas impulsionaram o crescimento de regiões antes marginalizadas. Isso reduziu desigualdades, levou à expansão da classe média, aumentou a segurança alimentar e fortaleceu o mercado interno — estratégia conhecida como “dupla circulação”: reforçar o consumo doméstico sem abdicar da liderança exportadora.

      Cidades médias no interior tornaram-se polos industriais e tecnológicos, com infraestrutura ferroviária e logística avançada — elementos que escasseiam em países latino-americanos como o Brasil, cuja política de infraestrutura é errática e marcada pela ausência de coordenação federal.

      O 14º Plano também reforçou a “autossuficiência tecnológica” como pilar estratégico diante das restrições impostas pelos Estados Unidos. A guerra comercial lançada por Trump contra a China, longe de conter seu avanço, acelerou a substituição de importações em setores-chave como semicondutores, robótica, defesa e big data. Em vez de sucumbir ao isolamento, a China ampliou seus laços com os BRICS e países do Sul Global, redefinindo o comércio internacional em torno da Iniciativa Cinturão e Rota (BRI, na sigla em inglês).

      O Brasil tem muito a aprender. Falta-nos um esforço coordenado de planejamento. Vivemos de reformas parciais, cortes erráticos, promessas não cumpridas. Enquanto a China mobiliza recursos públicos e privados sob diretrizes claras, o Brasil ainda depende das flutuações do mercado externo e da boa vontade do setor financeiro.

      Mesmo com desafios como o envelhecimento populacional e a tensão geopolítica com os Estados Unidos, a China chega a 2025 com uma economia mais diversificada, tecnologicamente robusta e socialmente mais equilibrada. Não é apenas o “motor do mundo” industrial. É um exemplo de como o planejamento pode ser a diferença entre desenvolvimento sustentado e sustentável e dependência crônica.

      Se a próxima década será asiática, como já antecipavam analistas como Kishore Mahbubani — mundialmente reconhecido como um dos principais intelectuais da Ásia —, é porque a China continua apostando em planos nacionais de longo prazo, enquanto o Ocidente, entre guerras e bolhas financeiras, parece ter abdicado da capacidade de sonhar e de planejar.

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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