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Emir Sader

Colunista do 247, Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros

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Chega de guerras?

Enquanto o imperialismo norte-americano mantiver seu caráter agressivo, seguirão existindo guerras

O presidente dos EUA, Donald Trump - 24/09/2025 (Foto: REUTERS/Kevin Lamarque)

As guerras no capitalismo não são apenas um fenômeno bélico, de disputa de territórios entre potências. Elas são, também, um fenômeno econômico.

A indústria bélica, nos Estados Unidos, é um componente muito importante do processo de acumulação de capital. Afinal, o país, além de ter se envolvido nos principais conflitos bélicos do mundo contemporâneo, fornece armas para outros países envolvidos nos mesmos conflitos em que eles estão ou em outros.

Produzir armas é produzir uma mercadoria de muito valor em um mundo marcado por guerras, além da repressão de governos no plano interno, para chegarem ao poder ou para se manterem nele.

Os Estados Unidos seguem sendo o maior produtor de armas do mundo, para o uso próprio ou para abastecer seus aliados. Daí que a lógica das guerras tenha uma dimensão política e outra econômica. Fazer guerras vale a pena, assim, duplamente, para o maior imperialismo do mundo contemporâneo.

O imperialismo do século XXI mantém as características que teve ao longo do século XX, às quais se agregam novos aspectos. O que muda é o declínio dos Estados Unidos como potência: um declínio econômico, tecnológico e político, mesmo que mantenha sua superioridade no plano militar.

O século XXI terá no enfrentamento entre o bloco norte-americano — do qual fazem parte, sempre, a Europa e o Japão, ambos também em declínio — e os Brics, que reúnem, pela primeira vez, o poderio militar da Rússia, o poderio econômico da China, a capacidade de articulação política do Brasil e uma grande quantidade de países que já fazem parte dos Brics ou se propõem a integrá-lo.

O século XX já foi um século de guerras de caráter interimperialista, com dois blocos de países disputando territórios da periferia do sistema. Os Estados Unidos saíram vitoriosos, mas logo, assim que a URSS também conseguiu ter a bomba atômica, iniciou-se o período da Guerra Fria — um período em que o equilíbrio de forças se dava somente no plano militar: as duas maiores potências poderiam se destruir mutuamente. A partir dali, uma terceira guerra mundial deixou de ser possível.

O fim da Guerra Fria, com o fim da URSS, propiciou a ilusão aos Estados Unidos de que passariam a ser a única superpotência, como a Inglaterra havia sido durante setenta anos no século XIX. Mas logo se deram conta de que teriam de enfrentar a presença dos Brics.

Desta vez, a Guerra Fria não teria o caráter da anterior. Desta vez, o equilíbrio entre os dois blocos não se dá somente no plano militar. Os Brics são superiores tecnologicamente, possuem uma força de atração política que os Estados Unidos deixaram de ter, além do poderio econômico de seus membros.

Pelo menos por toda a primeira metade do século XXI, haverá esse cenário de enfrentamento entre os dois blocos. Do resultado desse enfrentamento dependerá o futuro do século.

Enquanto o imperialismo norte-americano mantiver seu caráter agressivo, seguirão existindo guerras, mas no marco de uma tendência declinante do poderio dos Estados Unidos.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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