Celso Amorim: 'Não se pode confundir valores democráticos com subserviência'
Assessor especial responde a críticas sobre suposta "guinada autoritária"
O assessor especial da presidência da República, Celso Amorim, respondeu com veemência aos ataques do advogado no Brasil e na França, e responsável pela comissão franco-brasileira da Ordem dos Advogados de Paris, Rodrigo Loureiro, em artigo publicado no "Estadão", no sábado (13). O advogado dispara acusações contra a posição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de não se curvar às intromissões do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que sancionou o nosso país para defender Jair Bolsonaro, condenado em 11 de setembro, a 27 anos e três meses, no Supremo Tribunal Federal (STF), por tentativa de golpe de Estado e mais quatro crimes.
Em um momento delicado das relações entre os dois países, em que Trump, de forma unilateral, tomou medidas agressivas do ponto de vista econômico, impingindo um tarifaço de 50% para a importação de produtos brasileiros, em represália a um processo justo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, Loureiro se arrogou a acusar o governo brasileiro de:
“(...) De forma deliberada, promovendo um reposicionamento na cena geopolítica global”, ter “escolhido antagonizar os Estados Unidos, somada à aproximação com regimes autoritários do chamado 'eixo asiático'” — notadamente China, Rússia e Irã. Sugere uma reorientação estratégica que vai além de afinidades ideológicas. Segundo o advogado, “esses países, marcados pela ausência de imprensa livre, repressão a oposições políticas e falta de independência entre os Poderes, representam modelos de governança radicalmente opostos aos princípios que o Brasil, enquanto democracia, historicamente, possui”.
Em um trecho em que a sua crítica é ainda mais explícita, ele acusa: “Essa guinada, no entanto, não se limita à retórica presidencial. Ela se expressa em ações concretas: acordos comerciais e parcerias estratégicas com nações autoritárias têm ganhado prioridade, enquanto os laços com democracias ocidentais — especialmente os Estados Unidos — são negligenciados ou abertamente desafiados”.
Em sua resposta, concedida com exclusividade ao 247, Amorim reage: “É uma total inversão dos fatos. Nossas relações com os governos Bush, Obama e Biden foram as melhores possíveis, em que pese as diferenças pontuais”, disse.
O assessor destacou também que: “Não fomos nós que procuramos interferir em processos judiciais americanos ou iniciamos guerra tarifária”.
E, se dirigindo especificamente a Rodrigo Loureiro, protesta:
“O autor, que é advogado na França, deve saber de onde vêm as dificuldades para o acordo Mercosul-UE, que, apesar de tudo, esperamos assinar este ano. Não se pode confundir valores democráticos com subserviência a imposições e medidas unilaterais contrárias ao Direito Internacional e ao sistema multilateral, em cuja criação os EUA foram fundamentais e que o Brasil, sob o governo Lula, têm defendido com determinação e altivez”, concluiu Amorim.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.