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      Moisés Mendes

      Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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      Bolsonaro quer ser preso

      “A extrema direita pode estar apostando que a antecipação da prisão irá produzir maior impacto político”, escreve o colunista Moisés Mendes

      Jair Bolsonaro à mesa (Foto: Carlos Moura / Ag. Senado)

      Duas conclusões sobre as quais inexistem controvérsias. Bolsonaro é um traste abandonado pela base bolsonarista e por líderes da velha e da nova direita. E não há mais nada a fazer para salvar a ambição de Eduardo de ser seu sucessor e candidato em 2026.

      Agora, as controvérsias que rendem todo tipo de especulação, com previsões para que alguns possam dizer depois: eu avisei.  Bolsonaro forçou a barra para ser preso, recuou e avançou de novo. Hoje, ele quer ser preso.

      No êxtase provocado pelo anúncio do tarifaço de Trump, quando a extrema direita ainda estava em transe, ele pode ter enxergado a chance de triplicar a aposta contra Moraes e até antecipar o espetáculo da prisão.

      Os bolsonaristas imaginaram que haveria uma reação nacional pró-extrema direita com o ataque do neonazista. Ocorreu o contrário. Moraes se sentiu forte para ordenar o uso de tornozeleira pelo sujeito e mandou um recado a todos: tomem cuidado porque vocês estão perdendo.

      A possibilidade de Bolsonaro estar forçando a prisão parece não ter, mas tem sentido. Uma prisão preventiva agora, antes do desfecho do processo no STF, poderia provocar confusão.

      Teria alto impacto político, com a criação de novos fatos na sequência, e poderia fazer com que a base bolsonarista se inquietasse de novo. Porque a condenação é esperada, está programada, mas nem tanto o encarceramento preventivo.

      Nessa segunda-feira, Bolsonaro recuou de uma entrevista coletiva que daria à tarde na Câmara, depois que Moraes o alertou: se suas falas forem disseminadas pelas redes, você vai preso.

      E o réu decidiu produzir algo de interpretação nebulosa. Fez um discurso, rodeado de deputados, que alguns viram como um minicomício e outros como uma entrevista. Foi quando se apresentou de novo como vítima, ergueu a perna e mostrou a tornozeleira preta.

      A determinação de Moraes diz o seguinte: “A medida cautelar de proibição de utilização de redes sociais, diretamente ou por intermédio de terceiros, imposta a Jair Messias Bolsonaro inclui, obviamente, as transmissões, retransmissões ou veiculação de áudios, vídeos ou transcrições de entrevistas em qualquer das plataformas das redes sociais de terceiros, não podendo o investigado se valer desses meios para burlar a medida, sob pena de imediata revogação e decretação da prisão”.

      E agora? Não há referência explícita a proibição de entrevistas. Mas um alerta de que qualquer fala disseminada, mesmo que reproduzida por terceiros, pode acionar a ordem de prisão.

      Ao promover a aglomeração na Câmara, discursar e fazer com que sua fala fosse divulgada, Bolsonaro burlou as medidas cautelares e o novo alerta?

      Hoje, ele teria força política para produzir comoção nacional, mesmo se saísse preso da Câmara rodeado de cúmplices? Moraes cairia na armadilha de mandar prendê-lo dentro do Congresso? 

      Claro que não. Mas a mais previsível das reações à ordem do ministro se confirma pelo que acontece desde o final da tarde nas redes sociais.

      Propaga-se a sua fala na Câmara, quando se apresentou de novo como vítima, apontou para a tornozeleira e disse que “isso aqui é um símbolo da máxima humilhação em nosso país”. 

      Se for preso, Bolsonaro se livra da humilhação no tornozelo, porque um presidiário não precisa de monitoramento eletrônico. Mas essa é uma escolha a cargo de Alexandre de Moraes. 

      Bolsonaro deseja antecipar a prisão e tudo o que possa considerar imprevisível, incluindo de novo uma aposta no caos político, com os ingredientes de um caos econômico provocado pelas chantagens de Trump.

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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