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Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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Bolsonaristas, menos

Ao colocar Marco Rubio como interlocutor com o Brasil, Trump tirou os dois malfeitores da jogada

Marco Rubio e Donald Trump (Foto: REUTERS/Nathan Howard/)

Precipitados, ingênuos ou as duas coisas juntas, os radicais da ultradireita e os políticos desse núcleo – os integrantes do PL – entraram na tarde de hoje (06/10) comemorando o fato de o presidente dos Estados Unidos ter destacado seu secretário de Estado, Marco Rubio, para negociar com o vice-presidente do Brasil e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin. A escolha de Rubio para essa função significa que, oficialmente, o diálogo se desloca dos dois malfeitores que vêm tramando contra o próprio país, Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo, e fica centralizado nos canais oficiais de governo. Desse modo, ao que parece, Donald Trump deu um xeque-mate na dupla, interrompendo as calúnias contra o Brasil tecidas por eles até então.

O combinado foi estabelecido durante os 30 minutos de conversa entre Trump e o presidente Lula, por telefone, para dar sequência às negociações de redução do tarifaço de 40% imposto ao Brasil pelo presidente dos EUA, além da retirada das medidas restritivas às autoridades brasileiras que tiveram vistos cassados ou foram incluídas na Lei Magnitsky, caso do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, entre outros.

Além de Alckmin, também o chanceler Mauro Vieira e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ficaram incumbidos de dar continuidade às tratativas. Estiveram presentes à conversa o vice-presidente Geraldo Alckmin, os ministros Mauro Vieira, Fernando Haddad, Sidônio Palmeira e o assessor especial Celso Amorim.

As comemorações do lado do governo são altamente justificáveis. Afinal, desde o encontro fortuito que tiveram na ONU, no dia da abertura dos trabalhos da Assembleia Geral — quando tradicionalmente o Brasil discursa em primeiro lugar, seguido do presidente estadunidense —, no dia 23 de setembro, a conversa estava prometida. Isso ocorreu depois de Trump tomar a iniciativa de anunciar, no final de sua fala, que encontrou “o líder do Brasil” e gostou dele. “Houve uma química entre ambos”, descreveu.

O contato para que a conversa acontecesse foi articulado durante toda a semana pelas equipes dos dois presidentes e ocorreu hoje. O diálogo entre os dois líderes foi mantido em sigilo até mesmo de auxiliares mais próximos do petista no Palácio do Planalto (conforme apuração de O Globo). Apenas o chanceler Mauro Vieira, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o vice-presidente Geraldo Alckmin foram informados, a fim de que não houvesse nenhum vazamento.

As perspectivas agora são de um encontro presencial, previsto para a Cúpula da ASEAN, na Malásia, embora o presidente brasileiro tenha se colocado à disposição para ir até os Estados Unidos, se o encontro for marcado. Lula viajará para a Malásia neste mês. Ele confirmou em julho que aceitou o convite para participar da 47ª Cúpula da ASEAN, programada para 26 a 28 de outubro. O primeiro-ministro malaio, Anwar Ibrahim, afirmou, em 25 de setembro, que aguarda Trump para a reunião em Kuala Lumpur.

“Considero nosso contato direto como uma oportunidade para a restauração das relações amigáveis de 201 anos entre as duas maiores democracias do Ocidente. No telefonema, recordei que o Brasil é um dos três países do G20 com os quais os Estados Unidos mantêm superávit na balança de bens e serviços. Solicitei ao presidente Trump a retirada da sobretaxa de 40% imposta a produtos nacionais e das medidas restritivas aplicadas contra autoridades brasileiras”, fez constar Lula na nota oficial emitida pelo Palácio do Planalto.

Sabemos — e lemos a mensagem em “maiúsculas” — que o recado de Trump ao Brasil foi motivado por fofocas, informações deturpadas e teve natureza política. Porém, essa primeira conversa tomou o rumo da economia, a fim de manter o bom nível das negociações e limpar a área para o diálogo mais detalhado que se seguirá. Nesse primeiro contato, Trump já foi devidamente informado de que não existe superávit do Brasil sobre os Estados Unidos, e sim o inverso — o que já foi um grande avanço.

Dando demonstração de que engoliu a seco a notícia da abertura das negociações entre os dois países, Flávio Bolsonaro postou em suas redes sociais: “O saldo da ligação entre Trump e Lula é que acabou a desculpa de que não há diálogo com o governo americano. Agora, a conversa está aberta com Marco Rubio, alguém que conhece os males que o socialismo causa numa nação. No mais, Lula continua sendo quem mais taxa o povo brasileiro! Infelizmente, nada mudou!”, disse Flávio, via mensagem de texto.

O post de Donald Trump, em sua rede Truth Social, no entanto, tem outro tom. Após a ligação, o presidente dos Estados Unidos escreveu: “Esta manhã, tive uma ótima conversa telefônica com o presidente Lula, do Brasil. Discutimos muitos assuntos, mas o foco principal foi a economia e o comércio entre nossos dois países.”

E antecipou: “Teremos novas discussões e nos encontraremos em um futuro não muito distante, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos. Gostei da conversa — nossos países se darão muito bem juntos!”, afirmou.

De novo, Flávio Bolsonaro tenta emplacar mentiras e dar um tom de otimismo ao fato. A verdade nua e crua, porém, é que a manhã de hoje pode ter marcado o fim do “intercâmbio da infâmia”.

Ao colocar Marco Rubio como interlocutor com o Brasil, Trump tirou os dois malfeitores da jogada. Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo devem ficar falando sozinhos. O diálogo, a partir de agora, se dará em outro nível.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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