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      Valéria Guerra Reiter

      Escritora, historiadora, atriz, diretora teatral, professora e colunista

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      Bolhas de poder no mar da invisibilidade popular

      Na vitrine do noticiário, as bolhas de poder ganham destaque enquanto a maioria da população segue invisível e afundada na precariedade cotidiana

      (Foto: Gerada por IA/DALL-E)

      O clima político nacional está fervendo. A prisão domiciliar do ex-presidente da República Jair Bolsonaro está estampada na mídia nacional e internacional:

      "Prisão domiciliar de Jair Bolsonaro repercute na imprensa internacional. Decreto de Alexandre de Moraes afirmou que ex-presidente desrespeitou medidas cautelares” (CNN, 04/08/25, às 19h17 | Atualizado em 04/08/25, às 2h).

      A notícia estava na primeira página do site em inglês da Al Jazeera, do Catar. O veículo ressaltou que a decisão de Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), foi tomada por violação de medidas cautelares.

      Em contrapartida, as notícias locais e regionais continuam pipocando nas páginas físicas e virtuais dos quatro cantos do país, em tabloides variados:

      “O empresário Álvaro Borges Ribeiro, de 70 anos, foi assassinado a facadas na manhã desta segunda-feira, num prédio comercial na Rua da Quitanda, no Centro do Rio. Uma câmera de segurança registrou o momento em que o suspeito do crime entrou e saiu do edifício, onde o idoso trabalhava. Ele tinha uma camisa enrolada na cabeça e usava máscara".
      (Fonte: Jornal Extra, 05/08/2025)

      “Polícia Militar prendeu 88 pessoas ao longo do mês de julho". (A Tribuna de Petrópolis)

      “No Acre, média salarial na hora da contratação é a segunda pior da região Norte". (Jornal do Acre)

      A população brasileira se levanta cedo, madruga, enfrenta filas imensas para se transportar e chegar aos seus locais de trabalho. O salário é mínimo e, de sol a sol, chuva a chuva, as empregadas domésticas, os assistentes administrativos, os professores, os assalariados em geral nadam no mar da indigência, da invisibilidade. As mulheres estão perdendo suas vidas pelo feminicídio; as filhas do Brasil tornam-se bisavós aos 40 anos. Isso é uma ferida social.

      As bolhas de poder estão na primeira página dos jornais, nas ondas da web; e a maioria desconhece a verdade, os bastidores, as filigranas do que a imprensa pode ou deve traduzir. As pessoas seguem seu roteiro comezinho, triste, sombrio, e avançam pela aventura de cada dia, atravessando ruas e avenidas, dentro de trens e metrôs lotados: elas são escravizadas.

      No coração de cada brasileiro há uma busca incessante por harmonia. O futebol é comentado por bocas inocentes daqueles que (ainda) perpetuam a lógica dos seus predecessores. Estatisticamente, a educação não é para todos — mas, se fosse, não teríamos tantas infelicidades expostas nos programas sensacionalistas.

      No trecho abaixo, verificamos o quanto o percentual de explorados se amontoa na esquina da invisibilidade. E só vemos tal bolha de conformismo ser furada quando entra em cena o jornalismo ético:

      “O nublado dos últimos dias deu lugar ao sol. Um domingo ensolarado. O colorido das faixas e a diversidade de siglas e de pessoas ocuparam mais uma vez a Praça Vladimir Herzog para celebrar o Dia Internacional em Memória das Vítimas de Acidentes e Doenças Relacionadas ao Trabalho. A segunda edição do Ato e Canto pela Vida reuniu 73 organizações na cidade de São Paulo, em 27 de abril de 2025.

      A redução da jornada de trabalho, o fortalecimento das Cipas (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes e de Assédio) e o trabalho integrado entre os órgãos públicos com ações voltadas para a segurança e saúde no trabalho (SST) foram pautas defendidas tanto no manifesto distribuído à população quanto nas falas proferidas durante o evento.

      “É importante que haja o direito contínuo e expresso de os trabalhadores estarem organizados em Cipas, porque a organização no interior dos locais de trabalho pode derrubar essa acidentalidade cruel que vitimou, no ano passado, cerca de 3 mil trabalhadores segurados — porque o restante, que está informal, também está morrendo e não é registrado”, afirma o diretor de Conhecimento e Tecnologia da Fundacentro, Remígio Todeschini.

      Segundo dados do AEAT 2023 (Anuário Estatístico de Acidentes do Trabalho da Previdência), elaborados pelo SEE-Fundacentro (Serviço de Epidemiologia e Estatística), 83,65 acidentes de trabalho ocorrem por hora no Brasil, e 2.007,54 por dia, totalizando 732.751 casos". (Fundacentro – gov.br)

      E a sua visibilidade, como está? Você já assistiu a algum noticiário diferente daquele que, costumeiramente, só o deseduca e aliena? Há um racha nas bolhas do poder, mas a ausência de jantar na mesa do brasileiro “médio”, atualmente, não é a notícia mais importante para a Casa Branca norte-americana — ou algo que o valha.

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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