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      Gustavo Tapioca

      Jornalista formado pela Universidade Federal da Bahia e MA pela Universidade de Wisconsin-Madison. Ex-diretor de redação do Jornal da Bahia, foi assessor de Comunicação Social da Telebrás, consultor em Comunicação do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e do (IICA/OEA). Autor de "Meninos do Rio Vermelho", publicado pela Fundação Casa de Jorge Amado.

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      Big techs vão à guerra como coronéis do Exército dos EUA

      Estamos assistindo ao nascimento de uma nova doutrina de guerra: a guerra cibernética

      (Foto: Divulgação)

      Pouco noticiado na grande imprensa, um movimento surpreendente do Exército dos EUA poderia ter passado despercebido se não fosse a matéria detalhada do jornalista Victor Bianchin, publicada no site Xataka Brasil. Foi ele quem reuniu as informações e contextualizou a criação do Destacamento 201, revelando o impacto estratégico e os dilemas éticos de se conceder patentes militares elevadas a executivos de gigantes da tecnologia. Em um cenário dominado por manchetes sobre inteligência artificial e geopolítica, o artigo se destaca por iluminar os bastidores de uma aliança silenciosa entre algoritmos e armamentos.

      Silício, farda e estrelas

      De acordo com Bianchin, o Exército dos Estados Unidos, tradicionalmente associado a tanques, fuzis e estratégias bélicas, agora dá as boas-vindas a um novo tipo de combatente: o tecnólogo. Em 13 de junho de 2025, executivos das empresas mais poderosas do Vale do Silício — incluindo Meta, OpenAI e Palantir — foram nomeados tenentes-coronéis da reserva militar.

      Nada de treinamento com fuzil ou marchas no barro ou lama. Os "recrutados" foram diretamente integrados ao recém-criado Destacamento 201, uma unidade experimental da Reserva do Exército, com sede simbólica em Washington e atuação híbrida. O grupo não vai para o front, mas atuará em uma trincheira igualmente crítica: a modernização tecnológica das Forças Armadas.

      Entre os novos oficiais estão nomes como Shyam Sankar, diretor de tecnologia da Palantir; Andrew “Boz” Bosworth, CTO da Meta (controladora do Facebook); Kevin Weil, executivo de produto da OpenAI; e Bob McGrew, ex-chefe de pesquisa da mesma empresa. Todos contratados diretamente, sem concurso, sem passar pela academia militar, e com autoridade equivalente a décadas de carreira institucional.

      Por dentro do Destacamento 201

      Batizado com uma alusão ao código HTTP 201, usado quando um novo recurso é criado com sucesso, o destacamento tem missão clara: fechar a lacuna entre o setor de defesa e as inovações de ponta da tecnologia civil, especialmente na área de inteligência artificial.

      A criação do grupo surge em meio à corrida global por supremacia tecnológica no campo militar, com ênfase em IA generativa, robótica, sistemas autônomos e guerra cibernética. Ao colocar especialistas civis de alto escalão dentro da hierarquia militar, o Pentágono tenta acelerar decisões, evitar a burocracia interna e adaptar-se mais rapidamente às mudanças de um mundo digitalizado — onde drones e algoritmos muitas vezes decidem o resultado de um confronto antes do primeiro tiro.

      O modelo não é inteiramente novo. Médicos, engenheiros e juristas civis já foram integrados ao Exército com comissionamentos diretos em outras épocas. A diferença está no nível hierárquico (tenente-coronel é patente elevada) e no setor envolvido: o Vale do Silício, com seu poder e influência descomunais, passa agora a atuar de dentro do coração das Forças Armadas.

      O grupo funcionará com carga leve de serviço (cerca de 120 horas por ano), em regime remoto ou híbrido. Mas seu peso político e simbólico é significativo: são figuras com acesso ao alto escalão do comando militar e influência sobre programas estratégicos do Departamento de Defesa.

      Entre estratégia e risco

      O plano do Exército não esconde sua ambição: tornar-se mais ágil, adaptável e tecnologicamente dominante. A presença desses executivos é vista como um atalho para isso. Mas a iniciativa levanta sérias dúvidas .

      Até onde o Estado deve se fundir com corporações privadas para fins militares? Se a Meta constrói as redes sociais, a Palantir analisa dados e a OpenAI desenvolve as máquinas pensantes, o que impede que essas ferramentas sejam usadas para vigiar, manipular ou neutralizar civis sob pretexto de segurança nacional?

      Bianchin, no artigo publicado no site Xataka Brasil, faz uma pergunta estratégica: a IA militarizada será realmente mais "humana", como prometem os entusiastas, ou apenas mais eficiente na destruição? O Destacamento 201 está apenas começando, mas seu surgimento é sintoma claro de uma nova fase da guerra em que as batalhas já não se travam só por terra, mar ou ar, mas também por códigos, sensores e decisões algorítmicas invisíveis.

      Resposta à China

      Por fim, Victor Bianchin, resalta que o Destacamenteo 201 é uma resposta direta dos EUA ao avanço tecnológico da China, que já integra inteligência artificial à sua estrutura militar. O Pentágono quer evitar que os EUA fiquem atrás, não apenas em poderio bélico, mas na capacidade de decisão baseada em dados e algoritmos. 

      Estamos assistindo ao nascimento de uma nova doutrina de guerra: a guerra cibernética -- o conflito que ocorre no espaço digital, onde ataques utilizados para desestabilizar ou danificar sistemas de computadores, redes e infraestruturas críticas. Os novos tenentes-coronéis e os generais do Exército da maior potencia militar do planeta ainda não revelaram quem são os inimigos dessa guerra.

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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