Anistia nada, Centrão quer outras coisas
Centrão foca em PEC da Blindagem e viabilização de Tarcísio, enquanto anistia perde força no Congresso
O combinado entre lideranças de centro, há algumas semanas, foi, sim, pressionar pelo avanço do projeto da anistia. A promessa feita ao PL, partido de Jair Bolsonaro, estaria condicionada à tramitação ocorrer em paralelo a outro projeto, esse, sim, prioridade: a PEC da Blindagem. A matéria, se aprovada, vai permitir que deputados e senadores cometam crimes sem se importar com as investigações, já que serão eles mesmos que terão que autorizar qualquer apuração a respeito. E é esse tema que mais interessa aos congressistas, e não a anistia.
Além disso, o maior desejo dos partidos do Centrão não é tornar Jair Bolsonaro elegível — uma das exigências do PL no texto da anistia —, mas, sim, viabilizar Tarcísio de Freitas como candidato à presidência em 2026. Por isso, qualquer gesto que não venha do PL é puramente cenográfico e continuará a ser feito para mostrar lealdade a Bolsonaro e tentar, com isso, convencê-lo a apoiar o governador de São Paulo no pleito do ano que vem.
Isso significa que, mesmo que pareça, não é prioridade do Parlamento anistiar Bolsonaro, muito menos colocá-lo de novo no tabuleiro político. Tanto é que a pauta vem perdendo força, mais uma vez. Nesta semana, Hugo Motta avisou que não tem previsão nem de votar nem de indicar relator para a anistia. Decisão acertada, já que, do outro lado, no tapete azul, Davi Alcolumbre indica que não votará uma anistia ampla e irrestrita. Ou seja, estaria a Câmara disposta a assumir esse desgaste? Difícil de encarar. Até porque ambas as decisões — anistia e inelegibilidade — podem ser vetadas pelo presidente Lula e tornadas inconstitucionais pelo Supremo Tribunal Federal. Sem falar no esgarçamento com a Suprema Corte, que acumula dezenas de inquéritos que investigam parlamentares pelo uso irregular de emendas.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.