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      Maria Luiza Franco Busse

      Jornalista há 47 anos e Semiologa. Professora Universitária aposentada. Graduada em História, Mestre e Doutora em Semiologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, com dissertação sobre texto jornalístico e tese sobre a China. Pós-doutora em Comunicação e Cultura, também pela UFRJ,com trabalho sobre comunicação e política na China

      73 artigos

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      Agente Laranja

      Os EUA não aprendem com as derrotas e os vexames passa-moleque que, por exemplo, tiveram no Vietnã e no Afeganistão

      O presidente dos EUA, Donald Trump - 27/06/2025 (Foto: REUTERS/Ken Cedeno)

      Os acontecimentos recentes e em curso que vêm tomando o tempo de quem tem com o que se ocupar faz lembrar uma anedota dos anos de 1970, época em que as ditaduras assolavam os países da América Latina agora identificados como espaços geopolíticos do Sul Global. Consta que um presidente-ditador convidou chefes de Estado de diferentes regimes para que vissem o quanto era aceito, respeitado, amado, e apoiado pelo povo em todas as decisões que tomava. Para dissipar dúvidas, decidiu mostrar com fato o que dizia ser verdade. Na entrada do palácio, dirigiu-se ao guarda de plantão e ordenou que apontasse a arma para a própria cabeça. Assim foi feito. Em seguida, determinou que atirasse. Um momento de tensão e terror tomou conta dos visitantes. O soldado paralisado, distensionou, virou para o mandatário e mandou essa: “Que é isso, presidente, bêbado a essa hora da manhã?”. 

      É possível adaptar a piada para o aqui e agora. Ao mesmo tempo em que a semana terminou com a consolidação ainda mais efetiva do BRICS, bloco de onze países que se reuniu no 17ª encontro de Cúpula realizado no Rio de Janeiro, o presidente do Estados Unidos despachou cartas digitais para 25 países informando sobre aumento de tarifa comercial a partir do primeiro dia de agosto. A iniciativa é mais um round do vale tudo do império estadunidense para manter seu poder global unilateral diante do entendimento contemporâneo de que a hora é da ordem mundial multipolar e multilateral, fundamentada na soberania e não intervenção, princípios capazes de materializar a ideia de que desenvolvimento só é desenvolvimento se for para todos.

      A tributação varia de 50% a 10%, e o critério está no escopo das penalidades pelo que vem sendo considerado ousadia por perturbar o poder do país que se considera o ordenador do mundo. O Brasil recebeu a taxa mais alta, 50%, e chama atenção o ajuste de 40% nas transações com o Laos. É de se perguntar o que fez o pequeno e gracioso país do sudeste asiático para receber tal taxação. A República Democrática Popular do Laos, governada há 25 anos pelo partido nacional-comunista Pathet Lao, faz fronteira com a China e tem dentro de seu território 422 dos 1mil 35 quilômetros da ferrovia que liga os dois países integrando a infraestrutura da Iniciativa Cinturão e Rota. Desde 2021, os trens de grande velocidade aceleram a cooperação e a conectividade entre os demais países do sudeste asiático transportando mercadorias e passageiros. 

      O Laos é um país de sofisticada e graciosa cultura. Faz fronteira com o Vietnã, por isso foi alvo de duro bombardeio durante a guerra empreendida pelo Estados Unidos contra o vizinho porque por suas terras passava a Trilha Ho Chi Minh, caminho que permitia aos vietnamitas nacional-comunistas do Norte abastecer de tropas e alimentos os companheiros que lutavam no Sul contra o governo aliado do imperialismo estadunidense. Até hoje o Laos tem limitado potencial de produção de alimentos porque suas terras agricultáveis estão tomadas por minas terrestres e bombas não detonadas. 

      O Laos é um dos países mais pobres da região formada por Brunei, Camboja, Indonésia, Malásia, Muynmar, Filipinas, Singapura, Tailandia Timor Leste, além do Vietnã. É grande o empenho para o desenvolvimento, mas os laosianos não desprezam e usam com habilidade os recursos naturais que têm à mão. Na falta da máquina corta-grama, o búfalo é encarregado de deixar impecável o gramado do resort margeado pelo rio Mekong. Guiado pelo funcionário, ele se alimenta e trabalha, e no meio da tarde é recolhido para descansar. Nos centros urbanos as autoridades tomam medidas sanitárias contra a malária, embora o mosquito transmissor tenha sido erradicado das cidades e seja só encontrado nas montanhas. Mas na linha pragmática do ‘melhor prevenir do que remediar” os lagos que ornamentam os parques e jardins estão povoados de peixinhos que comem larvas de mosquitos, técnica de controle biológico BBB_boa, bonita e barata. 

      Então, as tarifas. Em meio a tantas guerras que os governos do Estados Unidos provocam para desestabilizar o sistema sempre que sentem ameaçado o autoconsiderado lugar de centro hegemônico do mundo, uma coisa todos têm em comum: não aprendem com as derrotas e os vexames passa-moleque que, por exemplo, tiveram no Vietnã e no Afeganistão.

      Falando em Vietnã, não é possível esquecer o herbicida ‘agente laranja’ usado como arma lançada pelo EUA sobre as aldeias causando danos e sequelas físicas e ambientais. Lembrança que remete ao atual mandatário das tarifas, um personificado agente laranja pela toxidade que espalha ornada pela cor do cabelo. Combinação perfeita de ética e estética. 

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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