A surra que levou o Trump
'Terminou uma primeira fase do segundo mandato de Donald Trump. Ele sai enfraquecido no plano interno e internacional', escreve o sociólogo Emir Sader
Esse é o tom da mídia norte-americana em relação às derrotas sofridas ontem por Donald Trump. Que os Estados Unidos deram uma surra no Trump. Ele perdeu nas três eleições que ele mesmo considerava as mais importantes, as mais significativas e que projetam a perspectiva das próximas eleições parlamentares. Tudo coincide com a pior avaliação dele e de seu governo, que chegam a 37% de apoio e mais de 60% de rejeição.
Assim, as perspectivas não são boas para o que resta do segundo e último mandato de Donald Trump. Ao mesmo tempo que se elegeu, em Nova York, o jovem socialista e muçulmano Zohran Mamdani, com um discurso frontalmente contra Donald Trump.
As razões alegadas por Trump para tentar explicar sua fragorosa derrota, todas esfarrapadas, não dão conta dos reveses que ele sofreu. Como é do seu estilo fanfarrão, abusa das palavras e não diz nada.
O certo é que vai se configurando um Estados Unidos pós-Trump favorável aos democratas, quem quer que venha a ser seu candidato. Entre as razões que a mídia alega para a derrota, está inclusive a política externa de Trump, que desgastou a imagem do país no mundo.
Que consequências terá esse resultado, para Trump e para sua política interna e internacional?
Pode-se prever que começa o fim do Donald Trump. Assim, suas promessas perdem força, se acreditará cada vez menos nelas. Tanto a política de tarifas, quanto as ameaças contra a Venezuela e a Colômbia.
Como se costuma dizer, passa a ser um pato manco. Perde força, ainda mais suas ameaças verbais, suas promessas, suas declarações pomposas. O “America first”, antes de tudo. Os próprios norte-americanos afirmaram, com seus votos, que já não acreditam nele.
Um presidente norte-americano pato manco é mais um golpe no declínio da hegemonia do império dos Estados Unidos. Os efeitos sobre a América Latina?
Em primeiro lugar, as ameaças sobre a Venezuela e a Colômbia perdem força. Se alguém ainda achava que as tentativas de derrubar o governo da Venezuela.
Em segundo, nas relações com o Lula, Trump está mais pressionado a ceder nas tarifas e nas condenações a membros do Judiciário e do próprio governo.
Na Argentina, se debilita a força de Javier Milei, mesmo com sua vitória eleitoral. Porque o presidente argentino copia literalmente o estilo e a própria política externa de Donald Trump. Manter uma política internacional restrita às alianças apenas com os Estados Unidos e com Israel, isola ainda mais o país no mundo. Ainda mais com o governo norte-americano tão isolado.
Na política interna, o enfraquecimento de Donald Trump é ainda maior, pelo tamanho e a extensão da sua derrota eleitoral. Seu debilitamento se estende até o próprio Partido Republicano, onde vários parlamentares já tinham votado contra ele.
A projeção do prefeito de Nova York como novo grande personagem nacional de oposição, se torna um novo problema para Trump. A nova onda de vitórias do Partido Democrata lhe dá mais ânimo e perspectivas para as próximas eleições presidenciais.
Em suma, terminou uma primeira fase do segundo mandato de Donald Trump. Ele sai enfraquecido no plano interno e internacional. O declínio da hegemonia norte-americana, como um dos fenômenos mais marcantes deste século, passa a fase mais marcante. A segunda metade do governo Donald Trump só vai aprofundar essa tendência.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.



