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Tiago Barbosa

Jornalista, pós-graduado em História e Jornalismo, com passagem por jornais de Pernambuco

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A progressiva e necessária decomposição pública de um carrasco

A cada passo, um símbolo. O tirano vira derrota. O derrotado, suspeita. O suspeito, inquérito. Indiciado, denunciado, réu até a humilhação na tornozeleira

Ex-presidente Jair Bolsonaro durante entrevista exclusiva à Reuters em Brasília - 18/07/2025 (Foto: REUTERS/Mateus Bonomi)

A transformação é gradual. O declínio, sob etapas. Indiciamento. Denúncia. Julgamento. Agora, tornozeleira. E, aos poucos, o decrépito do golpe vira o presidiário ansiado pelo Brasil.

O curso arrastado incomoda. Lentidão desanima. E o Brasil tem pressa. De justiça e acerto. De revide e superação. A prisão do entulho desafoga o futuro, cura o passado. Desanuvia.

Mas a progressão seduz. Tempera. O sabor de cada revés, o infortúnio do cadafalso seguinte.

Degustemos.

A vergonha sentida ao ser acusado — chefe de quadrilha. O ódio de ver a casa revistada pela polícia. Móveis revirados, orgulho pisoteado, empáfia engolida.

Dinheiro recolhido. Celular apreendido. Sem redes ou zap, sem fake ou pirotecnia — um nulo calado, tangido, freado e encaixotado no medo.

A angústia da prisão a cada manhã, o deslocamento impedido, a valentia sem força de um vazio vencido. Toque de recolher — à insignificância.

A iminência do fim e do sumiço, entre celas e silêncios, penas e ostracismos.

O tempo despetala o fascista — política, social e historicamente.

Não apaga dores e sofrimentos. De pandemias, negacionismos, mentiras, retrocessos. Espirais de tragédias sob ódio, bravatas e mamatas. Sob vidas e sonhos diluídos em necropolítica e sociopatia.

Mas alivia.

A cada passo, um símbolo. O tirano vira derrota. O derrotado, suspeita. O suspeito, inquérito. Indiciado, denunciado, réu até a humilhação na tornozeleira.

Sem liberdade para o crime, sem voz para a violação, um cadáver político decomposto a cada dia.

E o próximo é de prisão — o tempo sentencia.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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