A progressiva e necessária decomposição pública de um carrasco
A cada passo, um símbolo. O tirano vira derrota. O derrotado, suspeita. O suspeito, inquérito. Indiciado, denunciado, réu até a humilhação na tornozeleira
A transformação é gradual. O declínio, sob etapas. Indiciamento. Denúncia. Julgamento. Agora, tornozeleira. E, aos poucos, o decrépito do golpe vira o presidiário ansiado pelo Brasil.
O curso arrastado incomoda. Lentidão desanima. E o Brasil tem pressa. De justiça e acerto. De revide e superação. A prisão do entulho desafoga o futuro, cura o passado. Desanuvia.
Mas a progressão seduz. Tempera. O sabor de cada revés, o infortúnio do cadafalso seguinte.
Degustemos.
A vergonha sentida ao ser acusado — chefe de quadrilha. O ódio de ver a casa revistada pela polícia. Móveis revirados, orgulho pisoteado, empáfia engolida.
Dinheiro recolhido. Celular apreendido. Sem redes ou zap, sem fake ou pirotecnia — um nulo calado, tangido, freado e encaixotado no medo.
A angústia da prisão a cada manhã, o deslocamento impedido, a valentia sem força de um vazio vencido. Toque de recolher — à insignificância.
A iminência do fim e do sumiço, entre celas e silêncios, penas e ostracismos.
O tempo despetala o fascista — política, social e historicamente.
Não apaga dores e sofrimentos. De pandemias, negacionismos, mentiras, retrocessos. Espirais de tragédias sob ódio, bravatas e mamatas. Sob vidas e sonhos diluídos em necropolítica e sociopatia.
Mas alivia.
A cada passo, um símbolo. O tirano vira derrota. O derrotado, suspeita. O suspeito, inquérito. Indiciado, denunciado, réu até a humilhação na tornozeleira.
Sem liberdade para o crime, sem voz para a violação, um cadáver político decomposto a cada dia.
E o próximo é de prisão — o tempo sentencia.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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