Trump, o gangster global: os novos ataques ao Brasil e a urgência histórica da resistência democrática
Trump atua como chefe de facção global, ataca a soberania brasileira e transforma Bolsonaro em peça de um projeto autoritário transnacional
I. O eco da história: quando as sombras do autoritarismo cruzam o hemisfério - Em 14 de julho de 1789, o povo francês tomou a Bastilha — símbolo do absolutismo e da opressão monárquica. Aquele ato, que daria início à Revolução Francesa, não foi apenas a destruição de um cárcere físico, mas o desmantelamento de um sistema político fundado no privilégio, na mentira e no medo. Hoje, mais de dois séculos depois, a democracia brasileira vê-se desafiada por ameaças que, embora distintas na forma, repetem os fundamentos do autoritarismo travestido de populismo.
Donald Trump, figura central dessa nova onda reacionária, voltou recentemente suas armas contra o Brasil. Em 25 de junho de 2024, em comício no Texas, declarou que Lula "nunca teria vencido uma eleição limpa", acusando o sistema eleitoral brasileiro de fraude — sem apresentar qualquer prova. A fala, embora risível em sua pobreza argumentativa, representa um gesto gravíssimo de ingerência sobre a soberania de uma nação. Não é a primeira vez. Em 2022, ao lado de Jair Bolsonaro, Trump já ensaiava o mesmo discurso conspiratório, preparando terreno para a contestação de uma derrota que ainda nem havia ocorrido. Hoje, o que se apresenta é a consolidação de uma tática conhecida na história dos Estados Unidos: desestabilizar governos soberanos que não se alinham aos seus interesses. E agora, em episódios mais recentes, estabeleceu um “tarifaço”, justificado por uma suposta perseguição política do STF a Jair Bolsonaro, a suposta censura das redes sociais e a desbragada fake news de que a relação comercial Brasil/EUA é deficitária para aquele país. Algo parecido com a fábula “O Lobo e o Cordeiro”, em que o predador, mesmo tomando água no rio acima de sua vítima, reclamava que esta estava a turvar sua bebida. Mero pretexto para abocanhá-la.
II. O método Trump: colonialismo retórico, gangsterismo diplomático - As recentes declarações de Trump não são isoladas. Elas seguem um padrão estabelecido pela política externa norte-americana ao longo dos séculos XX e XXI: a instrumentalização da mentira para justificar intervenções ou deslegitimar governos. Do Irã de Mossadegh em 1953 ao Iraque de Saddam Hussein em 2003, passando pelo Chile (Allende, 1973), Nicarágua, Panamá, Haiti e tantos outros, a história é marcada pela repetição de um modelo imperialista de intervenção. Agora, porém, essa lógica assume uma nova forma: a desinformação como arma geopolítica.
Trump não precisa mais de mísseis nem de tropas. Sua artilharia é simbólica, mas devastadora: redes sociais, palanques repletos de slogans vazios e um exército de seguidores que replicam mentiras em escala global. O Brasil, ao ser apontado por ele como palco de "fraudes eleitorais", é alçado à condição de inimigo simbólico — tal qual os “Estados párias” nos tempos da Guerra Fria — apenas por ter exercido, soberanamente, seu direito à alternância de poder.
Essa prática, embora aparentemente pueril, é deliberada. Trump age como um chefe de facção global, emulando os velhos métodos do gangsterismo diplomático norte-americano, que alimentava milícias, financiava golpes e apoiava ditadores, desde que servissem aos seus interesses econômicos e geopolíticos. O Brasil, nesse cenário, aparece como o mais novo alvo da estratégia de desestabilização por retórica.
III. A subserviência bolsonarista: a ponte para o colapso institucional - Se Trump age como operador externo, Bolsonaro e seus filhos foram os operadores internos da tentativa de golpe. A visita secreta de Jair Bolsonaro a Mar-a-Lago, em dezembro de 2022, pouco antes de sua fuga do Brasil, não foi mera cortesia: foi reunião conspiratória. Relatórios de inteligência — hoje públicos — apontam que houve troca de informações sensíveis e articulação para contestação dos resultados eleitorais brasileiros, com o apoio de setores extremistas nos EUA.
Eduardo Bolsonaro, membro do chamado “The Movement” (iniciativa internacional da extrema-direita liderada por Steve Bannon), atuou como elo direto entre os sabotadores da democracia brasileira e o núcleo trumpista. As fake news de fraude eleitoral foram amplificadas por redes bolsonaristas com base em conteúdos norte-americanos. O 8 de janeiro de 2023, em Brasília, foi o equivalente tropical do 6 de janeiro em Washington: dois movimentos golpistas com um mesmo DNA ideológico, uma mesma matriz de financiamento, um mesmo objetivo — a anulação da soberania popular.
Essa simbiose revela o nível de corrosão institucional que o Brasil enfrentou — e enfrenta. Enquanto Trump ataca nossa soberania com palavras e acusações infundadas, os Bolsonaro agem como intermediários servis, cúmplices de um projeto global de extrema-direita que não hesita em destruir nações para manter-se no poder.
IV. A resistência brasileira: Bastilhas simbólicas, trincheiras democráticas - Mas como na Paris de 1789, também aqui as massas não se curvaram. O povo brasileiro — mesmo com um sistema corroído por desigualdades e polarizações — respondeu com votos, não com fuzis. A vitória de Lula em 2022 não foi apenas uma vitória eleitoral: foi um ato de resistência popular à tentativa de instaurar um regime autocrático no coração da América do Sul. A reação institucional ao 8 de janeiro, liderada pelo STF, mostrou que há ainda guardiões atentos ao pacto democrático.
A democracia brasileira, apesar de todos os seus limites, tem demonstrado uma maturidade que faltou em outros momentos da história. A leitura dos atos golpistas como crimes gravíssimos, e não como simples manifestações políticas, foi um divisor de águas. E essa reação se insere em um contexto maior, de resistência mundial ao avanço do neofascismo.
Do levante do povo chileno contra Piñera à resistência popular colombiana, da mobilização dos trabalhadores franceses contra Macron à recente vitória da centro-esquerda no Reino Unido, vê-se uma reversão progressiva da maré autoritária. O Brasil, nesse tabuleiro, cumpre um papel histórico: o de trincheira democrática do Sul Global.
V. O dever histórico da comunidade internacional e do povo americano - Não basta, no entanto, resistir. É preciso julgar, punir e reparar. Jair Bolsonaro já responde a processos e investigações que podem levá-lo à prisão. Mas não se pode isolar o problema. A engrenagem que permitiu a tentativa de golpe brasileiro foi montada além-mar. É indispensável que o povo estadunidense, em sua responsabilidade histórica, impeça os desatinos de Donald Trump no poder — seja por meio do voto, seja por mecanismos legais como o impeachment.
A presidência de Trump, retomada em 2025, já não é mais ameaça futura — é presente deletério. Nos últimos trinta dias, o presidente norte-americano reinstalado declarou guerra econômica ao Brasil por meio de um tarifaço unilateral que afeta diretamente nossas exportações agrícolas e siderúrgicas, em retaliação à posição soberana do Brasil no cenário internacional. Em pronunciamento no Rose Garden, Trump exigiu abertamente que o Supremo Tribunal Federal brasileiro “cesse a perseguição ao patriota Jair Bolsonaro” — interferência diplomática inédita e ultrajante à independência dos Poderes de uma nação estrangeira. Como se não bastasse, voltou a afirmar, em rede nacional, que “Lula não foi eleito de maneira legítima”, replicando a mentira golpista com aval da Casa Branca. E agora, cassa os passaportes dos ministros do STF, após a instituição judicial máxima brasileira determinar o monitoramento de Jair Bolsonaro por “tornozeleira eletrônica”, para impedir eventual fuga aos EUA — já claramente sinalizada por Trump como possível, como se este fosse um injustiçado e perseguido político.
Não se trata mais de retórica: trata-se de uma política externa imperial em sua versão 5.0 — moldada agora pelo caos informacional, por sanções comerciais como chantagem e por alianças com lideranças de extrema-direita ao redor do mundo. A soberania brasileira está sob ataque direto, e a democracia global assiste, entre perplexa e cúmplice, ao ressurgimento de um gangsterismo institucionalizado como método diplomático.
A luta, portanto, não é mais apenas comum — é urgente. E é histórica.
VI. Conclusão: a hora da justiça, a hora da história - A história julgará Donald Trump e Jair Bolsonaro não apenas como figuras grotescas, mas como arquitetos de um colapso que ainda pode ser evitado — se houver coragem. Trump age como o chefe de uma quadrilha ideológica transnacional, sabotando o princípio da autodeterminação dos povos, corroendo instituições e usando o poderio dos Estados Unidos para subjugar adversários políticos sob o disfarce de patriotismo.
Bolsonaro, seu espelho tropical, continua a evadir a Justiça brasileira com apoio explícito de Trump — que o trata como aliado estratégico, não como réu confesso. Ambos, ao promoverem golpes simbólicos e concretos contra a democracia, devem ser responsabilizados com o rigor que se espera diante de crimes contra a ordem internacional. O julgamento moral e político precisa ceder espaço ao julgamento penal.
O Brasil resistiu ao golpismo, mas não pode resistir sozinho. É hora de todas as nações comprometidas com a democracia — e, sobretudo, do povo estadunidense — compreenderem o perigo em curso. A tarefa de impedir a continuação desse desgoverno planetário passa pela pressão popular, pela mobilização política e, se necessário, pelo impeachment de um presidente que já demonstrou desprezo absoluto pelos limites do poder.
Como em 1789, a Bastilha de hoje não é um edifício de pedra, mas uma arquitetura de desinformação, chantagem econômica e corrosão institucional. Que ela seja tomada. Que os tambores da liberdade soem novamente — em Brasília, em Nova York, em Buenos Aires, em Kinshasa, em Gaza, em Teerã — para lembrar que o mundo não pertence aos tiranos.
O que está em jogo, mais uma vez, é a liberdade. E, com ela, a dignidade das nações.
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