A longa fuga de Eduardo Bolsonaro
Eduardo Bolsonaro se tornou um parlamentar fantasma
Ninguém mais aguenta ouvir falar de Eduardo Bolsonaro. E, no entanto, ele insiste em reaparecer, como um fantasma de um país que tenta se livrar dos destroços do bolsonarismo. O deputado federal que prometia “liderar a resistência” contra o comunismo não resistiu nem ao dever de permanecer no país que o elegeu. Fugiu — com passaporte diplomático, malas e cuias —, e se instalou em Miami.
Eduardo continua fazendo o que sempre fez: nada. Refugiou-se nos Estados Unidos a partir de março de 2025, mantendo agenda internacional e discursando contra o que chama de “intromissão do Judiciário brasileiro” que levou seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro à prisão.
O autoexílio foi generosamente financiado pelo sobrenome. O pai, já condenado e cumprindo pena de 27 anos e três meses de prisão, garantiu o patrocínio político e o amparo financeiro. O filho, por sua vez, tratou de cuidar da própria imagem: fotos em academias, palestras improvisadas e discursos sobre liberdade de expressão. Enquanto isso, o país que o sustentava — com salário, verba de gabinete e assessores pagos pelo contribuinte — continuava perplexo, tentando entender o papel de um deputado que não aparece para trabalhar.
Um Arquivamento Absurdo
Agora, o relator do processo contra Eduardo Bolsonaro na Câmara dos Deputados pediu o arquivamento da ação disciplinar no Conselho de Ética.
O arquivamento da representação contra Eduardo Bolsonaro é um escândalo político. O relator, deputado Delegado Marcelo Freitas (União-MG), apresentou em 8 de outubro de 2025 um parecer pedindo o fim do processo — um gesto que afronta a moralidade pública e agride o bom senso.
Eduardo é acusado de incitar o golpe de Estado, espalhar fake news, atacar as instituições e abandonar suas funções parlamentares enquanto vivia confortavelmente nos Estados Unidos. Há vídeos, postagens e depoimentos que o situam no centro da engrenagem de desinformação que antecedeu o 8 de janeiro. Ainda assim, o relator considerou as provas “insuficientes” e se amparou na tese de “imunidade material” — como se o mandato parlamentar fosse uma licença para delinquir.
A imunidade material, prevista na Constituição, protege opiniões e votos proferidos no exercício do mandato. Mas não cobre conspiração, incitação à violência ou mentiras deliberadas contra a democracia. Usá-la como escudo para absolver um deputado que traiu o país é distorcer a própria essência da lei.
O parecer ainda será votado por 21 deputados no Conselho de Ética. Se aprovado, representará um divisor de águas: ou o Parlamento mostra que é capaz de se regenerar, ou assume de vez o papel de cúmplice do bolsonarismo decadente.
O Deputado Fantasma
Eduardo Bolsonaro se tornou um parlamentar ausente, sem projetos relevantes, sem presença em plenário e sem compromissos públicos consistentes. Vive de provocar, insultar e atacar — funções que executa com zelo nas redes sociais, mas que em nada contribuem para o país. Responde por faltas não justificadas à Câmara, estando próximo do limite que pode levar à cassação do mandato.
Durante seu mandato, seus maiores feitos foram insultar embaixadores, defender o AI-5, promover o armamentismo, o golpismo e se autoproclamar embaixador informal de Trump.
Aquele que um dia se apresentou como o “terceiro filho do mito” virou uma caricatura política: um turista do extremismo, que se alimenta de polêmicas para esconder a própria irrelevância.
Eduardo virou um trambolho político
A ironia é que o mesmo Eduardo que chegou a ser cotado pelo pai para o cargo de embaixador do Brasil em Washington, em 2019, hoje é persona non grata até entre seus antigos ídolos. A relação mais amistosa entre Lula e Donald Trump, reaberta em 2025, foi um baque profundo para ele.
Eduardo sempre se viu como o principal canal entre o bolsonarismo e o trumpismo — uma ponte ideológica feita de slogans, armas e fake news.
Mas o cenário mudou. Trump, de volta à Casa Branca, busca alianças pragmáticas com o Brasil de Lula, interessado em equilibrar tarifas, em fazer a América Grande Outra Vez (MAGA, na sigla em inglês), em conter a China e recuperar a hegemonia dos Estados Unidos no mundo, num momento de grandes transformações geopolíticas que desfavorecem os norte-americanos.
Nesse novo contexto, Eduardo virou um trambolho político, um resquício incômodo de um tempo em que o ódio era estratégia diplomática. Nem o presidente estadunidense quer ser associado ao radicalismo do “03”, cuja postura conspiratória perdeu espaço até dentro do Partido Republicano.
De mensageiro privilegiado, passou a estorvo — e Washington já não tem cadeira para ele.
O Fim de uma Farsa
O pedido de arquivamento da representação contra Eduardo Bolsonaro é um símbolo da degradação política e moral que ainda paira sobre parte do Congresso. Mas o tempo está se encarregando de varrer os destroços.
Hoje, Eduardo é uma figura ridícula, isolada e desacreditada, reduzido a conspirar junto ao neto do ex-ditador João Figueiredo, Paulo Figueiredo, na tentativa desesperada de articular um golpe militar que não vai acontecer. O país seguiu adiante — e deixou o bolsonarismo falando sozinho.
O bolsonarismo está morrendo, não pela força de seus adversários, mas pelo colapso interno da mentira que o sustentava. Morre porque não tem mais base social, nem narrativa, nem aliados internacionais dispostos a bancar sua insanidade.
E se o Brasil quiser, de fato, abrir um novo capítulo, basta fazer o que as ruas já fizeram: enterrar o mito, virar a página e deixar Eduardo Bolsonaro no lugar que conquistou — o rodapé da história.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.