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      Arnóbio Rocha

      Advogado civilista, membro do Sindicato dos Advogados de SP, ex-vice-presidente da CDH da OAB-SP, autor do Blog arnobiorocha.com.br e do livro "Crise 2.0: A taxa de lucro reloaded".

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      A homologação de Terras Indígenas no Ceará e seus significados

      Por que lutamos? Essa pergunta é capital para entender a vida humana na Terra

      Lula e Sônia Guajajara (Foto: Ricardo Stuckert / PR)

      Lutamos porque, desde os primeiros tempos, a necessidade de sobrevivência sempre foi maior do que a possibilidade de uma vida tranquila. Quando a humanidade avançou para superar apenas a condição de lutar pela vida, ela já estava dividida entre senhores e escravos, depois entre senhores feudais e vassalos e, por fim, no estágio mais avançado, entre o Capital e o Proletariado. Transversal a tudo isso, temos aquelas comunidades de mulheres e homens livres que não se submeteram a nenhum Estado — muito menos aos governos de plantão — por sua longa história, assim como aqueles que resistiram à escravidão e construíram suas comunidades autônomas.

      Quando um Estado, um governo, reconhece o direito de existir, de forma digna, dentro dos valores dessas comunidades, sem que se imponha à lógica da época vigente, é uma mensagem poderosa ao mundo de que há espaço para múltiplas convivências e de que a modernidade disruptiva não é única, nem é o modelo único. A natureza humana vibra feliz e sorri no meio do caos em que vivemos.

      Ontem assisti, emocionado, a um momento histórico e simbólico para o Brasil: a homologação das terras indígenas do Ceará, pelo nosso presidente Lula, dos povos Jenipapo-Kanindé, Pitaguary e Tremembé de Queimadas. A Terra da Luz repetiu-se! E, em nossas veias e no encanto desse povo tão particular que é o Ceará, o coração bate mais forte — um misto de orgulho, saudade e sentimento histórico.

      Que coisa linda ver na foto Sonia Guajajara, a ministra dos Povos Indígenas e Originários, numa solenidade em que o presidente Lula é espectador e parte. Mas o protagonismo é do nosso povo, que sempre esteve aqui — nós somos os estrangeiros. É um gesto de retorno à terra do que é da Terra.

      A nota pública dá mais emoção:
      “Essas três demarcações (uma quarta terra, Tapeba, ainda está em andamento) — reivindicações de lutas históricas de nossos povos originários — só foram possíveis graças a uma potente parceria entre o nosso IDACE (Instituto do Desenvolvimento Agrário do Ceará), que realiza o trabalho em campo de demarcação, a Secretaria dos Povos Indígenas do Ceará e a FUNAI.
      Destaque-se que o Ceará — por decisão política do governador Elmano — é o único estado da federação que destina recursos e pessoal para demarcar terras indígenas. Para essas quatro áreas, foram destinados quase 3 milhões de reais do orçamento estadual.”

      Pessoalmente, sou tocado pela longa militância do amigo e companheiro João Alfredo Telles (que estava na solenidade), hoje presidente do IDACE, e pela amiga-irmã-camarada Ecila Meneses. Nós, brancos, aliados e com orgulho, podemos fazer algo pelos nossos irmãos da terra. Vocês, num governo de coalizão, sabem aproveitar os espaços para obter vitórias espetaculares pelo nosso povo — aqueles e aquelas que mais precisam e lutam pela terra e sua preservação.

      Reconhecer os direitos dos povos originários e quilombolas é algo revolucionário num país de latifundiários e assassinos no campo e na cidade — daqueles que lutam pela terra e pelo teto. Num mundo da modernidade líquida, das big techs, distópico, de uma realidade higiênica, olhar esse povo lindo, colorido, sendo a imagem marcante de que há tantos mundos possíveis, mesmo numa conjuntura destrutiva e robótica.

      Parece uma gota no oceano — e é. Mas as utopias são assim, nascem assim, vivem assim: desses belos instantes.
      É por isso que lutamos!

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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