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Mário Maurici

Jornalista, ex-vereador e ex-prefeito de Franco da Rocha, ex-vice-presidente da EBC e ex-presidente da Ceagesp. Atualmente, deputado estadual e primeiro secretário da Assembleia Legislativa de São Paulo.

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A fórmula falida da direita para a segurança pública

Segurança pública não se faz com bravatas, mas com seriedade, investimento e compromisso com a vida

PM de São Paulo (Foto: Alex Fernandes/Governo de São Paulo via ABr)

A repercussão em torno do assassinato do ex-delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo Ruy Ferraz Fontes trouxe novamente à tona um discurso antigo da direita: de que o mundo é dividido em dois grupos. De um lado, temos os mocinhos, obviamente representados por eles. No polo oposto, estamos nós, da esquerda, em defesa dos bandidos. 

Essa é uma narrativa deturpada, rasa, binária, que transforma a complexidade social brasileira em um roteiro maniqueísta. É como tentar empurrar nossa realidade, com todas as suas nuances, para dentro de um faroeste estrelado por John Wayne, com cowboys de chapéu branco enfrentando vilões. Pode até soar épico, mas não passa de ficção barata.

Tarcísio de Freitas é o retrato fiel desse discurso simplório. Representante legítimo da extrema direita, coleciona fracassos sucessivos na segurança pública paulista. Com a polícia sob seu comando, o crime organizado se fortaleceu, a sensação de insegurança explodiu e os indicadores de criminalidade dispararam.

O resultado está nas ruas: só em São Paulo, um celular é roubado a cada nove minutos. Foram 35 mil casos no primeiro semestre de 2025. Uma sensação que experimentei quando tive o vidro do meu carro estilhaçado por um homem que tentava levar meu celular na Baixada do Glicério, um ponto recorrente de furtos no município.

Quantas outras histórias semelhantes já nos foram contadas? O meu caso não foi exceção: em São Paulo, quase todo mundo conhece alguém que já foi vítima de violência. A insegurança virou rotina. E qual foi a resposta do governo? A insistência em fórmulas falidas. 

Com Tarcísio de Freitas no comando, a polícia de São Paulo se tornou mais violenta. Em 2024, 814 pessoas morreram pelas mãos de agentes a serviço do Estado, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública. O número representa uma alta de 61% do número de casos se comparado ao mesmo período de 2023, quando foram registradas 504 mortes.   

A política de segurança pública de Tarcísio de Freitas nos remete à Lei de Talião, que estabelecia punições equivalentes ao dano causado. Era o tal do “olho por olho, dente por dente”, usado ainda nos dias de hoje. Naquela época, acreditava-se que a vingança legalizada traria equilíbrio social. 

Não deu certo naquele passado distante, e não dá certo nos dias de hoje. O uso de violência policial perpetua o ciclo e nos mostra que a repressão pura e simples não resolve as causas estruturais do conflito. Séculos se passaram e a extrema direita ainda aposta nessa mesma receita fracassada.

Nesse fogo cruzado, a saúde mental dos policiais entrou em colapso. A PM de São Paulo registrou em 2024, em meio a casos ruidosos de violência policial no Estado, 653 pedidos de afastamento motivados por questões psicológicas, uma média de quase dois casos por dia. 

E, pela primeira vez na história, em 2023, o número de policiais que tiraram a própria vida superou o de agentes mortos em confronto, segundo dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Em São Paulo, os suicídios cresceram 80% em relação a 2022. Isso é mais do que falha de gestão: é abandono humano.

Esses são os fatos que permeiam a política pública de segurança de Tarcísio de Freitas em São Paulo, mas que não aparecem em suas entrevistas ou em seus discursos públicos. O governador fecha os olhos para seus fracassos e vende para a população uma realidade editada, recheada com frases de efeito. 

Assim é a direita brasileira. Eles apostam em discursos fáceis para agradar a sua base ideológica, a mesma que acredita que resolver o crime é apertar o gatilho. Tarcísio se equilibra entre diferentes papéis, como gestor “responsável” e articulador da anistia de Bolsonaro, enquanto mantém a política de segurança de São Paulo no piloto automático.

Falta investimento na qualificação das polícias, em tecnologia investigativa, em inteligência, em prevenção. Precisamos priorizar o bem-estar dos policiais, garantir remunerações condizentes aos riscos que enfrentam nas ruas e criar uma política permanente de modernização de equipamentos. 

São Paulo precisa de um debate sério sobre segurança pública. Isso inclui enfrentar a desigualdade social, investir em educação, gerar oportunidades, cuidar da saúde mental dos agentes de segurança, fortalecer a investigação criminal e romper com a lógica puramente repressiva. 

Segurança pública não se faz com bravatas, mas com seriedade, investimento e compromisso com a vida. 

Toda a minha solidariedade à família e aos amigos do delegado Ruy Ferraz Fontes. Que sua morte seja esclarecida e que os culpados respondam na Justiça por seus atos. E que esse triste episódio também sirva como alerta: a política de segurança da direita não protege vidas, ela multiplica tragédias.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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