Fim de acordo automotivo com Colômbia irrita Lula e leva Itamaraty a endurecer tom
Setor teme avanço de chineses, americanos e coreanos no mercado colombiano. Planalto estuda revisão de agendas bilaterais como resposta diplomática
247 - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) determinou ao Itamaraty que adote uma postura mais dura nas conversas diplomáticas com a Colômbia, após o governo de Gustavo Petro deixar caducar, na última terça-feira (30), o acordo automotivo bilateral firmado desde 2017. A decisão do país vizinho surpreendeu o Planalto e gerou forte irritação em Lula, que havia tratado pessoalmente do tema com Petro durante encontros bilaterais, segundo a colunista Daniela Lima (UOL).
Com o fim do tratado, uma cota de 50 mil veículos brasileiros que entravam no mercado colombiano com tarifa zero perde o benefício e passa a ser taxada em 16,1%. A Colômbia é o terceiro maior destino das exportações de automóveis do Brasil, atrás apenas de Argentina e México. Em 2024, o valor exportado chegou a US$ 750 milhões.
Mal-estar diplomático
Ainda de acordo com a colunista do UOL, Lula pediu que o Ministério das Relações Exteriores deixe clara sua insatisfação, inclusive revisando agendas bilaterais que poderiam ser desmarcadas como forma de sinalizar o descontentamento brasileiro. Interlocutores do Planalto afirmam que o presidente se sentiu pessoalmente desrespeitado, uma vez que havia obtido de Petro o compromisso de prorrogar o acordo por mais um ano, até que houvesse uma negociação mais ampla.
Em reunião técnica em Brasília, os representantes colombianos apresentaram uma contraproposta considerada inviável: reduzir a cota para 20 mil veículos anuais e controlar unilateralmente a entrada no país. A informação sobre a contraproposta foi noticiada por Mariana Carneiro, no Estadão.
Setor automotivo em alerta
Sem o acordo, veículos brasileiros terão maior dificuldade para competir com montadoras de países que já possuem tratados de livre-comércio com a Colômbia, como Estados Unidos, Coreia do Sul e União Europeia. O país também mantém acordos de cooperação comercial com a China, outro grande produtor mundial.
A avaliação no setor privado é de que a Colômbia pode estar abrindo espaço para a entrada preferencial de veículos chineses, coreanos e americanos. Isso aumenta a dependência do Brasil em relação ao mercado argentino, responsável por cerca de 60% das exportações automotivas brasileiras.