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      "Eles não vão nos dobrar", dizem trabalhadores panamenhos em luta

      Trabalhadores resistem a ataques do governo

      Yamir Córdoba e Gerardo Iglesias (Foto: Giorgio Trucchi)

      Por Giorgio Trucchi - O Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Indústria da Construção e Similares (Suntracs) está sob ataque do governo, assim como todos os setores e organizações sociais e sindicais que, no Panamá, ousaram sair às ruas contra a desastrosa Lei 462, a expansão da mineração e a vacilante soberania nacional

      "Um dos primeiros ataques que sofremos foi em novembro de 2023, durante o governo de Laurentino Cortizo, quando, sem motivo aparente, fecharam nossas contas bancárias", lembra Yamir Córdoba, secretário de organização do Suntracs.

      Dois meses depois, o histórico sindicato panamenho foi acusado de lavagem de dinheiro, algo que a organização conseguiu derrotar na Justiça.

      Apesar da decisão judicial favorável emitida em agosto de 2024, as contas permaneceram encerradas.

      Quando José Raúl Mulino assumiu a presidência, o Suntracs tentou abordá-lo para acabar com o assédio.

      "Finalmente fomos autorizados a abrir uma conta onde poderíamos depositar os fundos provenientes das contribuições sindicais, mas com restrições sobre as quantidades dos valores que poderíamos depositar e sacar", explicou Córdoba.

      Além disso, o governo ordenou que as empresas transferissem esses recursos por meio de cheques, entregando-os ao Ministério do Trabalho, que os encaminharia ao sindicato.

      Uma imposição totalmente absurda que faz parte do estrangulamento financeiro a que o Suntracs foi submetido.

      Mais repressão

      Mas o governo de Mulino foi além e, em fevereiro deste ano, depois que o Suntracs se juntou a outros setores da população para protestar contra a Lei 462, mais de 700 trabalhadores filiados foram reprimidos e presos.

      "Saímos para protestar pacificamente em frente ao canteiro de obras do Hospital Infantil e a polícia de choque caiu sobre nós. Os colegas saíram e voltaram ao trabalho, porém, a polícia cercou o perímetro", lembra Córdoba.

      O cerco durou várias horas, até que as forças repressivas decidiram invadir o local e prender todos os trabalhadores.

      "Vários companheiros denunciaram casos de tortura e tiros à queima-roupa com balas de chumbo. Mais de 400 trabalhadores foram encaminhados à justiça administrativa, multados e depois liberados. Outros foram presos", explicou.

      Um grupo de 86 trabalhadores, incluindo um trabalhador que relatou ter sofrido assédio sexual, ainda está em prisão preventiva.

      Decapitando a organização

      Em seguida, começou o ataque contra a direção histórica do Suntracs, com mandados de prisão para Genaro López, Saúl Méndez, Jaime Caballero e Erasmo Cerrud.

      Nesse caso, a acusação tem a ver com uma hipoteca de terreno, destinada ao pagamento de indenização a centenas de membros que trabalharam em um projeto em Bocas del Toro.

      A empresa proprietária da obra declarou falência e deixou vários lotes de terra como garantia. Com um acordo extrajudicial, o Suntracs concordou com a empresa em um desembolso de 3 milhões de dólares.

      Ao não pagar, em 2022, a assembleia convocada pelo sindicato autorizou a hipoteca a favor da Cooperativa de Serviços Múltiplos Suntracs, R.L. e o desembolso do dinheiro devido a cada trabalhador.

      "Isso foi votado por uma grande maioria, no entanto, um grupo de trabalhadores decidiu entrar com uma ação contra vários líderes por fraude agravada e outros crimes", disse Córdoba.

      Apesar de as investigações não terem levado a lugar nenhum, o caso nunca foi encerrado e foi reavivado apenas durante os protestos contra a Lei 462.

      Genaro López foi capturado, preso e atualmente, devido à sua idade, está em medidas alternativas à prisão. Jaime Caballero está preso, enquanto Saúl Méndez e Erasmo Cerrud solicitaram asilo nas embaixadas da Bolívia e da Nicarágua, respectivamente.

      Ambos estão esperando por salvo-conduto para deixar o país.

      Além disso, existem vários processos abertos contra trabalhadores comuns, líderes intermediários e gerentes.

      "Primeiro houve repressão financeira, depois houve perseguição judicial e agora prisão e isolamento. Apesar de tudo isso, eles não vão nos dobrar. Não sabemos quantos mais vamos cair ou ser presos, mas não temos medo", concluiu Córdoba.

      Publicado em português em Rel-UITA (https://www.rel-uita.org/panama/no-nos-van-a-doblegar)

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