Cúpula da CELAC desponta como um fórum contra Trump
Chefes de Estado e Governo reunidos em Honduras buscam outra forma de olhar para América Latina
247 - Nesta terça quarta-feira, 8 e 9 de abril, ocorrerá a 9ª Cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) em Honduras, para a qual os presidentes dos países da região foram convidados. O momento é de fortalecer os laços entre os países da região. O site Sputnik apresenta uma análise sobre o que isso significa e o que podemos esperar dessa reunião.
De acordo com o vice-ministro das Relações Exteriores hondurenho, Gerardo Torres, onze presidentes, assim como três primeiros-ministros da região, confirmaram presença na reunião que será realizada em Tegucigalpa, capital da nação centro-americana.
Dentre os chefes de Estado confirmados no encontro estão: a mexicana Claudia Sheinbaum, o brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, o colombiano Gustavo Petro e o cubano Miguel Díaz-Canel.
Os demais países que fazem parte da organização, que agrupa 33 nações da região latino-americana e foi criada pelo falecido presidente venezuelano Hugo Chávez em 2011, enviarão representantes.
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'Uma forma de enfrentar Trump'
Doutor em Estudos Latino-Americanos pela UNAM e membro do Observatório Lawfare, Aníbal García Fernández destacou, em entrevista à Sputnik, que a reunião da Cúpula da CELAC no atual contexto geopolítico reflete um interesse regional em fortalecer laços em todos os aspectos.
"[A cúpula] significa a recuperação da integração latino-americana e caribenha como forma de enfrentar uma administração conservadora como a de Donald Trump [presidente dos EUA]. Significa colocar sobre a mesa, pelo menos, outra forma de enxergar a América Latina e o Caribe a partir deste esquema de integração, no qual não estão nem o Canadá, nem os Estados Unidos", afirmou o analista.
O especialista ressaltou que o encontro também pode ser interpretado como "uma retomada do espaço geopolítico" por parte dos governos latino-americanos para abordar questões comuns, como a imposição de tarifas por Washington, a migração, as ameaças ao Canal do Panamá, entre outros.
A participação de Sheinbaum, acrescentou, dá apoio e sustentação muito maior à CELAC e "oportunidade para expandir os horizontes do país, cuja economia tem estado historicamente ancorada em Washington".
O que esperar do debate?
De acordo com autoridades diplomáticas hondurenhas, as atividades começarão em 8 de abril, com a reunião dos chanceleres de todos os países. No dia seguinte, a presidente Xiomara Castro fará o discurso de abertura e o chanceler Eduardo Enrique Reina detalhará as conquistas da gestão hondurenha à frente do bloco.
Em seguida, haverá as intervenções de cada delegação, culminando na assinatura e divulgação da "Declaração de Tegucigalpa", que trará as principais conclusões e anúncios do grupo.
Alguns participantes já adiantaram suas prioridades, como o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, que assumirá a presidência da CELAC para o próximo ano. Ele disse recentemente, em uma visita ao Panamá, que era necessário "iniciar uma nova fase de respeito ao Canal do Panamá".
Já Lula tem em mente promover, a partir do Sul Global, uma funcionária latino-americana para ser a próxima secretária-geral das Nações Unidas, como adiantou na semana passada a embaixadora Gisela Maria Figuereido.
O vice-ministro das Relações Exteriores hondurenho, Gerardo Torres, afirmou que a agenda da cúpula deve foca na "migração e mobilidade humana, segurança alimentar, comércio, investimento e financiamento de organismos internacionais", assim como outros assuntos como direitos das mulheres, agricultura, cooperação, desastres naturais e mudanças climáticas, acrescentou.
No entanto, analistas apontam que as tarifas impostas por Donald Trump às importações estrangeiras e como lidar com as consequências da política econômica protecionista da administração republicana serão um tema inevitável durante o encontro.
Samuel Losada, internacionalista formado pela Universidade de Belgrano, disse à Sputnik que, da mesma forma que as tarifas de Trump aproximaram China, Japão e Coreia do Sul, a cúpula da CELAC deveria ser o ponto de partida para que a região pense em como enfrentar conjuntamente a ameaça representada pela nova estratégia comercial dos EUA.
"Além do acompanhamento de outros temas que os participantes da reunião possam trazer e das agendas próprias de cada país, o impacto potencial das tarifas de Trump nas economias é tão grande que é inevitável que o tema seja central na reunião", afirmou o especialista, apesar de as nações latino-americanas não terem recebido tarifas tão altas quanto as asiáticas, por exemplo, e de o México não ter sido alvo de tarifas recíprocas, estando parcialmente protegido pelo T-MEC.
O especialista também alertou que, embora as decisões tomadas não sejam vinculativas às políticas e normas de cada país, é de "grande importância" mostrar uma frente unida e pensar em novas associações estratégicas cada vez mais diversas para evitar ser prejudicado pelas "estratégias hostis e erráticas" dos EUA em matéria econômica.
"É importante lembrar que o próprio presidente Petro, que enfrentou Trump em janeiro por causa dos voos de deportados, a ponto de pedir uma reunião de emergência da CELAC que acabou não acontecendo, disse recentemente que, diante do caos atual, a unidade do continente latino-americano é uma questão de vida ou morte. E não me ocorre um tema mais de vida ou morte agora do que garantir a prosperidade econômica dos países da região", disse.
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