247 - O sociólogo Boaventura de Sousa Santos esclareceu, em nota nesta terça-feira (17), os motivos que o levaram a pedir demissão do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra, em Portugal, instituição da qual é sócio-fundador.
Boaventura pediu demissão no mês passado, alegando que a direção do CES acumulou “ilegalidades” no processo de inquérito sobre as acusações de assédio sexual e moral, feitas por um coletivo de pesquisadoras que passaram pelo centro, as quais ele nega veementemente. Na semana passada, diversos pesquisadores anunciaram seu desligamento do CES em protesto contra o tratamento dado ao sociólogo.
Na nota, Boaventura critica a condução da investigação, afirmando que ela não foi realizada de forma justa e que ele se tornou “um alvo fácil” por ser um intelectual independente. “O objectivo sempre foi o de calar a minha voz”, declarou.
Caros e caras colegas e amigos/as,
Como é do vosso conhecimento nos últimos vinte meses tenho sido objecto de uma difamação que causou profundo dano à minha reputação e à minha saúde. Ao contrario de quem me difamou, pouco falei publicamente sobre este caso. Fundei e dirigi durante muitos anos um grande centro de investigação que em 2020 era responsável por 17% de todos os doutoramentos da Universidade de Coimbra. Confiei que a averiguação da difamação fosse feita no meu Centro de investigação de modo correcto e de acordo com os princípios do Estado de Direito e da justiça democrática. Como tal não aconteceu, decidi demitir-me de investigador e de director emérito do Centro. Sou, portanto a partir de agora um investigador sem filiação institucional e decidido a continuar os meus projectos e a escrever os meus livros. Está disponível uma pagina web <a href="http://www.supportboaventuradesousa.com/" target="_blank">www.supportboaventuradesousa.com</a> onde podem encontrar muita informação sobre a minha defesa contra a difamação. No seguimento da minha demissão cinco outros investigadores seniores decidiram demitir-se do CES.
Entretanto tive de recorrer aos tribunais para defender a minha honra dado que ninguém apresentou queixa alguma contra mim em alguma instância onde pudesse conhecer as acusações e defender-me delas. Tudo ocorreu na imprensa e nas redes sociais. As acções judiciais estão em curso.
Sou um intelectual crítico, independente, sem igreja nem partido e, por isso, um alvo fácil. O objectivo sempre foi o de calar a minha voz.
A liquidação da reputação (e da saúde) de uma pessoa sem provas e sem que essa pessoa se possa defender lembra-nos o tempo da ditadura, senão mesmo, o mais antigo, da Inquisição.
Um abraço,
Boaventura

Leonardo Sobreira

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Boaventura diz que objetivo das acusações sempre foi calar sua voz após se demitir de centro de pesquisa

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