<p><b>247 — </b>Localizada no coração da província de Yunnan, no sudoeste da China, a cidade de Kunming sempre esteve em uma posição estratégica. Conectada à Índia, ao Tibete e ao Sudeste Asiático por rotas comerciais como a do chá e dos cavalos, foi durante séculos ponto de encontro de mercadores, soldados, monges e filósofos.&nbsp;</p> <p>Nessa confluência, não circulavam apenas mercadorias, mas também símbolos, rituais e cosmologias, que se misturavam e se transformavam.</p> <p>Quando o budismo chegou da Índia, nos primeiros séculos de nossa era, encontrou na China uma tradição já consolidada: o taoismo, que pregava a harmonia com o fluxo natural da vida, o vazio criador e a simplicidade como sabedoria. O diálogo foi imediato.&nbsp;</p> <p>Monges budistas passaram a usar a linguagem taoista para explicar conceitos complexos como nirvana e śūnyatā, enquanto taoistas adotaram práticas de meditação e compaixão. Em cidades cosmopolitas como Kunming, esse sincretismo espiritual floresceu de forma intensa e criativa.</p>  <figure><img src="https://cdn.brasil247.com/pb-b247gcp/swp/jtjeq9/media/2025091705090_94ee66a943ef46b8b192c788bf8eef124fc8b5107ef534cdc6ea9fc17c78cfa2.jpg" data-media-id="editor_0" data-image-id="2025091705090_94ee66a943ef46b8b192c788bf8eef124fc8b5107ef534cdc6ea9fc17c78cfa2" data-rendition-name="original" width="1600" height="1200" loading="lazy" alt="Templo budista na cidade de Kunming"><figcaption>Templo budista na cidade de Kunming<span>(Photo: Brasil 247)</span></figcaption></figure>  <h2><b>O nascimento do Chan</b></h2> <p>Dessa fusão nasceu o Chan, versão chinesa do budismo que privilegiava a experiência direta e a iluminação no cotidiano. Era um budismo menos ritualista, mais intuitivo, profundamente marcado pela naturalidade taoista.&nbsp;</p> <p>O Chan rapidamente se espalhou pela China, e em sua essência já se delineava o que seria, séculos depois, o Zen japonês.</p>  <figure><img src="https://cdn.brasil247.com/pb-b247gcp/swp/jtjeq9/media/2025091705090_b7ca005a91be4abd1f7be32ef8fe53956fe80ab12c2552c28bbd599c93559edd.jpg" data-media-id="editor_1" data-image-id="2025091705090_b7ca005a91be4abd1f7be32ef8fe53956fe80ab12c2552c28bbd599c93559edd" data-rendition-name="original" width="1600" height="1200" loading="lazy" alt="Templo taoista na cidade de Kunming"><figcaption>Templo taoista na cidade de Kunming<span>(Photo: Brasil 247)</span></figcaption></figure>  <h2><b>Do Chan ao Zen japonês</b></h2> <p>Quando monges japoneses entraram em contato com o Chan, no século XII, levaram para o arquipélago não apenas uma doutrina, mas um espírito de simplicidade e disciplina meditativa.&nbsp;</p> <p>No Japão, o Chan se transformou no Zen, que moldaria a estética e a filosofia de todo um povo: dos jardins secos ao haicai, da cerimônia do chá ao Bushidō.&nbsp;</p> <p>O Zen se tornou uma das expressões espirituais mais influentes do planeta, hoje praticada e admirada em todo o mundo.</p> <h2><b>O legado que chega à modernidade</b></h2> <p>Mas o legado de Kunming não se encerra no Zen. A fusão de taoismo e budismo criou uma matriz espiritual que seguiu inspirando novas formas religiosas.&nbsp;</p> <p>No Japão do século XX, por exemplo, a Perfect Liberty Kyodan (PL) reinterpretou essa herança ao proclamar que “a vida é arte” e ao propor o “caminho do homem” (Hito no Michi) como via de libertação criativa.&nbsp;</p> <p>O termo michi (道) é o mesmo usado em Dao e em Zen-dō, revelando a continuidade de uma linhagem que remonta àqueles encontros culturais no sul da China.</p> <h2><b>Um laboratório espiritual global</b></h2> <p>Assim, Kunming, muitas vezes vista apenas como capital regional, foi em verdade um laboratório espiritual global. Ali, budismo e taoismo se entrelaçaram e deram origem a tradições que atravessaram fronteiras, moldaram o Japão e chegaram até doutrinas modernas como a Perfect Liberty.&nbsp;</p> <p>A “Cidade da Primavera” foi também uma cidade de semeadura espiritual, cujo fruto continua a florescer no imaginário religioso do mundo contemporâneo.</p>

Redação Brasil 247

A China foi palco de um intenso diálogo de civilizações ao longo da História

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Ideias

Como a cidade de Kunming, na China, foi decisiva para a gestação do zen-budismo

<p><b>Por Leonardo Attuch, de Kunming, Yunnan, China –</b> De 5 a 9 de setembro de 2025, cerca de 500 representantes de 260 veículos de comunicação, think tanks, governos e organizações internacionais de 110 países reuniram-se na cidade de Kunming, na província de Yunnan, na China, para o Fórum de Mídia e Think Tanks do Sul Global 2025.&nbsp;</p>
<p>O encontro resultou no chamado “Consenso de Yunnan”, documento que afirma a unidade do Sul Global diante de crises internacionais e reforça a defesa de uma ordem mundial mais justa e multipolar.</p>
<p>O fórum ocorreu sob o tema “Unir forças do Sul para enfrentar as transformações globais” e teve como foco o papel das mídias e dos centros de pesquisa na amplificação das vozes do Sul Global, na construção de consensos e na promoção de cooperação entre os países.</p>
<h2>Defesa da paz e crítica à hegemonia</h2>
<p>O Consenso destaca que os países do Sul Global, historicamente comprometidos com a paz e a segurança, devem intensificar sua presença na governança mundial. O texto rejeita o unilateralismo e a hegemonia, conclamando à união contra divisões artificiais e ao fortalecimento do verdadeiro multilateralismo.</p>
<p>Em uma mensagem clara contra o domínio das potências ocidentais, o documento defende que a ordem internacional seja reconstruída sobre bases “mais justas e equitativas”, pautadas em cooperação e não em confrontos.</p>
<h2>Modernização e desenvolvimento sustentável</h2>
<p>Outro ponto central é a modernização inclusiva como objetivo comum. O Consenso exorta os países a priorizarem a redução da pobreza, a industrialização, a modernização agrícola e o desenvolvimento verde e sustentável.&nbsp;</p>
<p>Os participantes também destacaram a importância de narrar experiências de integração econômica e prosperidade compartilhada como forma de romper com o discurso único imposto pelo Norte Global.</p>
<h2>Civilizações e inteligência artificial</h2>
<p>O documento ressalta ainda o papel das ricas tradições culturais do Sul Global no diálogo entre civilizações. Propõe iniciativas como o “Programa de Turismo em Patrimônios da Humanidade” e defende o respeito à diversidade cultural como antídoto contra a homogeneização imposta por modelos dominantes.</p>
<p>Por fim, aborda os riscos e oportunidades trazidos pela inteligência artificial, defendendo que o Sul Global utilize as novas tecnologias para reduzir desigualdades, sempre com base na ética jornalística e na transmissão de informações verdadeiras e justas.</p>
<h2>Força coletiva</h2>
<p>Ao concluir, o Consenso de Yunnan enfatiza que o Sul Global deve consolidar sua voz como força estável de paz, central no desenvolvimento aberto, construtiva na governança global e promotora do intercâmbio entre civilizações.</p>
<h2><u>Conheça a Íntegra do Consenso de Yunnan</u></h2>
<h2>Consenso de Yunnan do Fórum de Mídia e Think Tanks do Sul Global</h2>
<p><b>Setembro de 2025</b></p>
<p><i>De 5 a 9 de setembro de 2025, o Fórum de Mídia e Think Tanks do Sul Global 2025 foi realizado na província de Yunnan, na China, reunindo cerca de 500 representantes de mais de 260 veículos de comunicação, think tanks e instituições governamentais de 110 países e regiões, além de organizações internacionais e regionais.Sob o tema “Unir forças do Sul para enfrentar as transformações globais”, o Fórum promoveu amplos diálogos e discussões aprofundadas.&nbsp;</i></p>
<p><i>Os participantes exploraram formas de fortalecer o papel da mídia e dos think tanks na união do Sul Global, na amplificação de sua voz, no aprofundamento da cooperação, na promoção do intercâmbio entre civilizações e no avanço da construção de uma comunidade de futuro compartilhado para a humanidade.</i></p>
<h3><i>Defesa da paz e da segurança</i></h3>
<p><i>Consideramos que os países do Sul Global têm defendido há muito tempo a paz e a segurança, tornando-se uma força construtiva indispensável na comunidade internacional.&nbsp;</i></p>
<p><i>Mídias e think tanks do Sul Global devem exercer plenamente seu papel de pontes, consolidar amplamente consensos, erguer a voz da justiça e contribuir com sabedoria e força para ampliar a representatividade e o poder de fala do Sul Global na governança mundial, bem como para promover a paz e a estabilidade globais.</i></p>
<h3><i>Verdadeiro multilateralismo</i></h3>
<p><i>Acreditamos que defender o verdadeiro multilateralismo e aperfeiçoar a governança global está de acordo com os interesses comuns dos países do Sul Global.&nbsp;</i></p>
<p><i>Mídias e think tanks devem promover os valores compartilhados da humanidade, apoiar uma visão de governança global baseada em ampla consulta, contribuição conjunta e benefícios compartilhados, e emitir o forte chamado de nossa era: unidade e não divisão, cooperação e não confronto, justiça e não hegemonia. Juntos, devemos impulsionar a ordem internacional rumo a uma direção mais justa e equitativa.</i></p>
<h3><i>Modernização como objetivo comum</i></h3>
<p><i>Acreditamos que a modernização é uma aspiração compartilhada pelos países do Sul Global. Diante de transformações sem precedentes em um século, mídias e think tanks — como forças importantes no desenvolvimento e revitalização — devem se concentrar em temas como redução da pobreza, industrialização, modernização agrícola e desenvolvimento verde e sustentável.</i></p>
<p><i>Devem também narrar de forma vívida as histórias de integração econômica, crescimento interconectado e prosperidade compartilhada, contribuindo para o desenvolvimento das nações e avançando juntos no caminho da modernização.</i></p>
<h3><i>Intercâmbio entre civilizações</i></h3>
<p><i>Consideramos que os países do Sul Global, com suas longas tradições históricas e rica herança cultural, oferecem vasto espaço para a troca e o aprendizado mútuo entre civilizações mundiais.&nbsp;</i></p>
<p><i>As mídias e os think tanks devem conjuntamente defender o respeito à diversidade civilizacional, cumprir melhor as responsabilidades de preservar a continuidade cultural, difundir valores e promover intercâmbios.&nbsp;</i></p>
<p><i>Devem apoiar iniciativas como o “Programa de Turismo em Patrimônios da Humanidade”, incentivar a coexistência inclusiva entre diferentes civilizações e fomentar maior compreensão e proximidade entre os povos.</i></p>
<h3><i>Inteligência artificial e inovação midiática</i></h3>
<p><i>Reconhecemos que o rápido desenvolvimento da inteligência artificial oferece novas oportunidades de progresso aos países do Sul Global, mas também traz riscos e desafios imprevisíveis.&nbsp;</i></p>
<p><i>As mídias e os think tanks devem utilizar de forma eficaz as novas tecnologias de informação para construir um modelo de desenvolvimento no qual humanos e tecnologia avancem juntos, impulsionando a transformação dos métodos de comunicação.</i></p>
<p><i>Devem contribuir para reduzir o fosso tecnológico global, ao mesmo tempo em que mantêm a ética jornalística e os padrões profissionais, transmitindo informações verdadeiras, objetivas, completas e justas. Assim, poderemos trilhar juntos um futuro inteligente para a inovação e o desenvolvimento da mídia.</i></p>
<h3><i>Missão do Fórum</i></h3>
<p><i>Acreditamos que esta edição do Fórum contribuirá para que os países do Sul Global consolidem ainda mais consensos, aprofundem a cooperação prática em áreas como capacitação de pessoal, reportagens conjuntas e aplicação da inteligência artificial, unindo vozes para amplificar o “som do Sul”, demonstrar a “responsabilidade do Sul” e fazer do Sul Global uma força estável na manutenção da paz, uma força central na promoção do desenvolvimento aberto, uma força construtiva na governança global e uma força promotora no intercâmbio de civilizações.</i></p>
<p><i><b>Este Fórum foi organizado conjuntamente pela Agência de Notícias Xinhua, pelo Comitê Provincial do Partido de Yunnan e pelo Governo Popular da Província de Yunnan.</b></i></p>

Leonardo Attuch

Consenso de Kunming é divulgado no Fórum de Mídia e Think Tanks de 2025

Mídia

Consenso de Yunnan une mídias do Sul Global contra hegemonias e por nova ordem mundial

<p><b>247 – </b>O Fórum de Mídia e Think Tanks do Sul Global 2025 foi aberto neste sábado (6) em Kunming, no sudoeste da China, reunindo mais de 500 representantes de 260 instituições de 110 países. Organizado pela agência Xinhua, o encontro tem como tema <b>“Empoderar o Sul Global, navegando as mudanças globais”</b> e busca fortalecer a cooperação entre veículos de comunicação e centros de pesquisa do mundo em desenvolvimento.</p>
<p>Em sua intervenção, o jornalista <b>Leonardo Attuch, editor-responsável do Brasil 247</b>, afirmou que a <b>cooperação midiática entre países do Sul Global é fundamental para garantir a paz mundial e a construção de uma ordem internacional mais justa e equilibrada</b>. Ele ressaltou que narrativas justas e plurais são sementes da paz em um mundo ameaçado pela desinformação e pelo unilateralismo.</p>
<h2>Kunming, símbolo do diálogo de civilizações</h2>
<p>Attuch destacou a escolha de Kunming como sede do encontro, lembrando que a cidade foi ponto central da rota da seda e palco de um extraordinário diálogo de civilizações:</p>
<blockquote>&nbsp;“Foi aqui que o budismo indiano se encontrou com o taoísmo chinês, dando origem ao Chan, tradição espiritual que mais tarde se transformou no Zen e chegou ao Brasil. Esse percurso mostra que, quando as civilizações se encontram, não apenas coexistem, mas geram algo novo e transformador.”</blockquote>
<p>O jornalista também lembrou que essa herança cultural compõe o mosaico da sociedade brasileira, marcada pela diversidade e pela convivência de tradições.</p>
<h3>O papel da mídia do Sul Global</h3>
<p>Diante das tensões internacionais, Attuch defendeu que a mídia do Sul Global assuma uma <b>responsabilidade histórica</b>:</p>
<blockquote>&nbsp;“Trata-se de garantir que as vozes dos nossos povos sejam ouvidas com dignidade. Ao fortalecer os laços entre nossos veículos de comunicação , estamos construindo a infraestrutura de uma narrativa global mais justa e equilibrada.”</blockquote>
<p>Ele estruturou sua proposta em três princípios fundamentais:</p>
<ol>
  <li>&nbsp;<b>O diálogo entre civilizações</b>, porque a diversidade é a maior riqueza da humanidade;</li>
  <li>&nbsp;<b>O desenvolvimento pacífico</b>, porque nenhuma prosperidade duradoura pode nascer da destruição;</li>
  <li>&nbsp;<b>A multipolaridade</b>, porque um mundo justo não pode girar em torno de um único centro de poder.</li>
</ol>
<p>Attuch lembrou que o Brasil, sob a liderança do presidente Lula, tem contribuído para essa construção, como ficou evidente na recente cúpula do BRICS, no Rio de Janeiro.</p>
<h3>Integração e futuro</h3>
<p>O fórum em Kunming sucede a primeira edição, realizada em São Paulo em 2024, que resultou na <b>Declaração de São Paulo</b>, em defesa dos interesses comuns do Sul Global. Nesta edição, além de debates sobre paz e desenvolvimento, foram lançados o <b>Consenso de Yunnan</b> e a <b>Rede de Parceria de Comunicação Conjunta do Sul Global</b>, que reúne mais de 1.000 instituições de 95 países.</p>
<p>Em suas palavras finais, Attuch enfatizou a necessidade de união em torno da paz:</p>
<blockquote>“Vamos trabalhar juntos para que o mundo escolha a paz em vez da guerra, a cooperação em vez da confrontação, a unidade em vez da divisão.”</blockquote>

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