247 - As homenagens aos 40 anos de lançamento de "Fidel e a religião", clássico diálogo entre o líder da Revolução Cubana Fidel Castro e o frade dominicano brasileiro Frei Betto, começaram de forma simbólica e intensa em Havana. Em uma cerimônia marcada pela forte presença popular e por reflexões sobre espiritualidade e política, o Centro Fidel Castro Ruz deu início às comemorações que relembram a importância histórica do livro, publicado originalmente em 1985, conforme relato da Embaixada do Brasil em Havana publicado no X, antigo Twitter.
A celebração contou com a participação especial de Frei Betto, que revisitou os bastidores do longo diálogo que deu origem à obra. O livro, traduzido em 33 idiomas e com mais de 3 milhões de exemplares vendidos em diversos países, é considerado uma peça fundamental para o entendimento das transformações nas relações entre o Estado cubano e a Igreja Católica.
Foi a primeira vez que um chefe de Estado de um país socialista concedeu uma entrevista exclusiva sobre religião. A conversa durou 23 horas. O resultado foi uma abordagem inédita do tema em um contexto político marcado pela polarização entre fé e socialismo. A entrevista percorre a trajetória pessoal de Fidel, sua visão sobre a espiritualidade e o papel das religiões na luta social.
A relevância do livro se amplia ao se considerar o contexto da América Latina na época — décadas marcadas por ditaduras militares e perseguições a religiosos que se alinharam com os setores populares. As Comunidades Eclesiais de Base e a Teologia da Libertação surgem nesse cenário como forças vivas que articulam fé e justiça social, algo que o próprio Fidel reconheceu como aliado das lutas revolucionárias.
Um marco entre fé e revolução - Ao lançar luz sobre a relação entre marxismo e religiosidade, "Fidel e a religião" provocou debates dentro e fora de Cuba. Para muitos estudiosos, o diálogo entre Frei Betto e Fidel abriu caminho para uma reaproximação entre o governo cubano e os setores religiosos, culminando em momentos históricos como a visita do Papa João Paulo II à ilha em 1998.
A edição comemorativa do livro, revisada e ampliada por Frei Betto, reafirma a atualidade dos temas abordados. Quatro décadas depois, a obra continua sendo um documento-chave para compreender como a fé pode se aliar à luta por justiça social — e como o socialismo pode dialogar com as expressões religiosas populares.
Um centro dedicado à memória e ao pensamento - Fundado para estudar e divulgar o legado do líder cubano, o Centro Fidel Castro Ruz se localiza no bairro Vedado, em Havana, em um imóvel com elevado valor histórico e arquitetônico. Tombado com grau de proteção patrimonial II, o edifício passou por um criterioso processo de restauração, respeitando as normas definidas para o centro histórico da capital cubana.
A edificação principal, na rua 11, número 707, foi construída no final do século XIX e pertenceu, até a década de 1950, à família Conill, herdeiros da antiga fazenda Balzaín e de notória influência social e econômica antes da Revolução. Um dos seus proprietários, Enrique Conill Rafecas, além de figura da elite econômica, participou da Guerra de Independência de 1895 e chegou ao posto de capitão do Exército Libertador. Posteriormente, formou-se em Direito em Harvard, nos Estados Unidos.
Sua esposa, Lily Hidalgo, foi figura ativa no movimento juvenil católico cubano, presidindo a Liga de Damas Católicas e sendo condecorada pelo Vaticano. Sua atuação caritativa incluiu a fundação do hospital Lila Hidalgo, hoje Hospital Leonor Pérez, em Santiago de las Vegas. A história do edifício, portanto, entrelaça-se com as complexas relações entre a elite católica cubana e o processo revolucionário, contexto que o livro de Frei Betto e Fidel Castro ajuda a iluminar.

Redação Brasil 247

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Centro Fidel Castro inicia celebrações dos 40 anos de 'Fidel e a religião' com presença de Frei Betto

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