247 - O ex-ministro das Relações Exteriores da Colômbia Álvaro Leyva articulou nos bastidores para que o governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, apoiasse uma operação – “armada ou não armada” – destinada a afastar do cargo o presidente colombiano Gustavo Petro. A denúncia veio à tona neste domingo (29), em reportagem do jornal espanhol El País, repercutida pelo <a href="https://valor.globo.com/mundo/noticia/2025/06/29/ex-chanceler-da-colmbia-buscou-apoio-de-trump-para-derrubar-petro-diz-jornal.ghtml">Valor Econômico</a>, que obteve e publicou os áudios das conversas que embasam a revelação.
Nos registros sonoros, Leyva – que chefiou a diplomacia colombiana até 2024 – tenta se aproximar do então recém-nomeado secretário de Estado, Marco Rubio, para que Washington exerça “pressão internacional” sobre Bogotá. “Temos que tirar esse cara de lá. Ele não pode presidir as eleições de 2026. A ordem pública se acabou. Isso não pode acontecer”, afirma o ex-chanceler em um dos trechos. Segundo ele, Petro seria “um homem errático” e “viciado em drogas” – acusações já repetidas publicamente e que o presidente nega.
Leyva argumentava que o mandatário colombiano se encontrava politicamente frágil e que bastaria o apoio norte-americano para substituí-lo pela vice-presidente, Francia Márquez. Ainda de acordo com o El País, o ex-chanceler sondou políticos republicanos da Flórida e chegou a propor “um grande acordo nacional” que unisse direita, esquerda e Estados Unidos em torno da troca de poder.
O plano, porém, não encontrou eco em Washington. Fontes citadas pela reportagem afirmam que o governo Trump não demonstrou disposição para embarcar na empreitada golpista. Leyva, hoje em Madri, não respondeu às perguntas dos repórteres.
Ao ser informado das conspirações, Gustavo Petro denunciou “o ato bárbaro e canalha de vingança” arquitetado por seu ex-aliado. A agência de inteligência colombiana teria apresentado as gravações ao presidente, que cobrou explicações da vice. Distanciada de Leyva desde fevereiro, quando uma tensa reunião ministerial expôs rachaduras internas no governo, Márquez reagiu publicamente: “não existe a possibilidade de que eu tenha participado de conspirações. Tenho a consciência tranquila, a mente clara e o coração firme”.
A relação entre Petro e Leyva deteriorou-se no início de 2024, quando o ministro foi afastado em meio a um escândalo de corrupção nos contratos de passaportes. Desde então, acusações mútuas se intensificaram. Nos áudios, Leyva insiste que Petro deveria “abandonar voluntariamente” o cargo para abrir caminho a um novo pacto político.
O caso lança luz sobre a instabilidade política colombiana e a disposição de atores conservadores em recorrer à ingerência estrangeira para enfraquecer um governo eleito. Se confirmada a veracidade das gravações, a tentativa de golpe revelará não apenas o isolamento de Petro, mas também a recusa de Washington em legitimar aventuras antidemocráticas no continente – ao menos por ora.

Guilherme Levorato

Presidente da Colômbia, Gustavo Petro
25/06/2025


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