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“Maior solidariedade entre China e Índia beneficiará o mundo”, afirma embaixador chinês em Nova Délhi

Xu Feihong defende cooperação pragmática, critica barreiras comerciais e elogia juventude indiana

Bandeiras de China e Índia (Foto: GF)
Luis Mauro Filho avatar
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247 - O embaixador chinês em Nova Délhi, Xu Feihong, afirmou que o relacionamento bilateral entre Índia e China se encontra em um “estágio crucial” e convocou ambas as nações a “superarem obstáculos, removerem perturbações e tomarem medidas proativas” para manter o atual impulso positivo.

As declarações foram dadas em entrevista ao jornal Global Times, publicada por ocasião do 75º aniversário do estabelecimento de relações diplomáticas entre China e Índia.

“A história mostrou repetidamente que a importância das relações China-Índia vai muito além do nível bilateral, tendo implicações regionais e globais”, afirmou.

Xu cobrou de Nova Délhi um ambiente “justo e transparente” para empresas chinesas, destacando que Pequim está disposta a ampliar a importação de produtos indianos adaptados ao mercado chinês e a incentivar a atuação de empresas indianas na China.

“Estamos dispostos a trabalhar com o lado indiano para fortalecer a cooperação prática no comércio e em outras áreas”, disse. Ao mesmo tempo, advertiu: “Esperamos que a Índia crie um ambiente de negócios justo e transparente para as empresas chinesas, expandindo ainda mais a cooperação mutuamente benéfica”.

Para o embaixador, a Índia foi historicamente pioneira nas relações com a República Popular da China, sendo o primeiro país não socialista a estabelecer laços diplomáticos com Pequim.

Segundo ele, as sete décadas e meia de interação entre as duas civilizações foram marcadas majoritariamente por trocas amigáveis e cooperação prática. “Apesar de períodos de turbulência, o relacionamento geralmente manteve uma trajetória positiva”, observou Xu.

Ele destacou ainda que o presidente chinês Xi Jinping e o primeiro-ministro indiano Narendra Modi realizaram um encontro bilateral em outubro de 2024, durante a cúpula do Brics em Kazan, na Rússia.

A reunião teria estabelecido, segundo Xu, um novo tom para a superação de impasses e promovido avanços em diferentes níveis. Desde então, o diálogo foi reforçado, inclusive com o encontro entre os ministros das Relações Exteriores Wang Yi e Subrahmanyam Jaishankar em diversos fóruns multilaterais.

Um dos avanços práticos mais destacados foi o acordo para retomar voos diretos entre os dois países, suspensos desde a pandemia, além do esforço para facilitar a troca de jornalistas e vistos.

“Muitos amigos indianos e chineses reclamaram disso”, contou Xu. “A falta de voos diretos os obriga a fazer escalas em terceiros países, o que é caro e inconveniente”. A Embaixada da China emitiu, segundo ele, cerca de 280 mil vistos a indianos em 2024, número que já aumentou 15% no primeiro trimestre de 2025.

Reações positivas a fala de Modi

Xu também reagiu positivamente a declarações recentes de Modi, que em um podcast reconheceu que as diferenças entre vizinhos são naturais, mas não podem escalar para disputas.

“Isso reflete a importância que a liderança indiana atribui às relações China-Índia”, comentou. Ele lembrou que a resposta oficial chinesa incluiu a imagem de uma "dança entre o dragão e o elefante", metáfora que teve ampla repercussão na imprensa indiana.

Segundo Xu, a convergência entre os dois países passa pela busca comum da modernização. A China persegue a “grande revitalização da nação chinesa” por meio do projeto de modernização com características próprias, enquanto a Índia articula sua visão “Viksit Bharat”, que visa torná-la uma nação desenvolvida até 2047. “O desenvolvimento continua sendo nosso maior denominador comum”, declarou.

O diplomata também exaltou a juventude indiana como peça-chave no fortalecimento dos laços. Desde que assumiu o posto em maio de 2024, ele percorreu diversas regiões da Índia e promoveu encontros entre jovens dos dois países. “A partir da energia deles, vemos o futuro de nossas nações”, afirmou. “Espero sinceramente que mais jovens visitem os dois países, tornem-se embaixadores da amizade e aprofundem a compreensão mútua”.

Contexto histórico e os reflexos da guerra tarifária dos EUA

As relações diplomáticas entre China e Índia remontam a 1950, quando a Índia foi uma das primeiras nações a reconhecer a República Popular da China. Desde então, o vínculo bilateral alternou avanços e tensões, especialmente nas disputas fronteiriças no Himalaia, que resultaram em conflitos como a guerra de 1962 e choques mais recentes, como o de Galwan, em 2020.

Apesar das diferenças, os dois países reforçaram o diálogo nas últimas décadas, impulsionados pelo crescimento econômico e por interesses geopolíticos convergentes. Esse movimento se intensificou após a guerra tarifária iniciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que impôs barreiras comerciais tanto à China quanto à Índia.

A ofensiva norte-americana abriu espaço para uma reconfiguração das alianças econômicas na Ásia, aproximando Nova Délhi e Pequim em torno da ideia de um mundo multipolar. É nesse cenário que o embaixador chinês propõe um “tango entre o dragão e o elefante” — uma metáfora que resume a aposta em cooperação, apesar das fraturas históricas.

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