Polícia Civil faz operação contra braço financeiro do Comando Vermelho
Operação cumpre mandados no Rio, Minas Gerais e Mato Grosso
247 - A Polícia Civil do Rio de Janeiro deflagrou, nesta terça-feira, uma nova fase de ações contra o Comando Vermelho (CV) com foco direto em sua engrenagem financeira. A ofensiva busca desarticular um sofisticado esquema de lavagem de dinheiro em larga escala, atribuído a Edgar Alves de Andrade, conhecido como “Doca”, apontado como um dos chefes da facção, e a Carlos da Costa Neves, o “Gardenal”, descrito como seu principal operador financeiro.
A operação inclui o cumprimento de mandados de busca e apreensão, além do bloqueio de contas bancárias pessoais e empresariais, sequestro de bens móveis e imóveis e o pedido judicial para o bloqueio de R$ 600 milhões. O montante corresponde à movimentação financeira considerada suspeita e identificada pelas investigações ao longo de aproximadamente dois anos.
A ação integra a chamada Operação Contenção, conduzida pela Polícia Civil, e ocorre simultaneamente em diferentes pontos do país. Além da capital fluminense, agentes atuam em municípios da Baixada Fluminense, em Silva Jardim, no interior do estado, em Juiz de Fora, em Minas Gerais, e em Pontes e Lacerda, no Mato Grosso. Nesse município mato-grossense, foi apreendida uma propriedade rural avaliada como incompatível com a renda declarada dos investigados.
De acordo com os investigadores, Pontes e Lacerda foi identificada como um dos principais polos de concentração financeira do esquema. A cidade funcionaria como base para o recebimento e a movimentação de recursos ilícitos, justamente por estar distante das áreas tradicionalmente associadas ao tráfico de drogas, o que reduziria a exposição dos líderes da organização criminosa.
As apurações apontam que Doca e Gardenal montaram uma estrutura complexa de lavagem de dinheiro, utilizando terceiros e empresas para ocultar a origem criminosa dos valores. No centro desse sistema, a polícia identificou um operador responsável por receber, concentrar e movimentar grandes quantias, tanto em contas bancárias pessoais quanto em contas de empresas sob seu controle. Essa dinâmica foi comprovada por meio de Relatórios de Inteligência Financeira (RIFs).
A investigação contou com o apoio do Comitê de Inteligência Financeira e Recuperação de Ativos (Cifra). Segundo a Polícia Civil, os dados reforçam que a sustentação do Comando Vermelho vai além da venda de drogas, dependendo fortemente de um mecanismo estruturado de lavagem de dinheiro, responsável por receber, ocultar, movimentar e reinserir recursos ilícitos no sistema financeiro formal.
O esquema também envolvia o uso das chamadas “mulas financeiras”. Pessoas ligadas ao tráfico, à extorsão de moradores e à exploração de serviços ilegais realizavam depósitos em dinheiro vivo, geralmente em valores elevados, distribuídos por diferentes agências bancárias e, muitas vezes, no mesmo dia. Esse padrão, segundo os investigadores, tinha como objetivo dificultar o rastreamento da origem dos recursos.
As autoridades destacam que as movimentações identificadas são totalmente incompatíveis com a renda declarada pelos titulares das contas, o que indica que elas funcionavam como verdadeiros cofres centrais da facção criminosa.
Participam da operação agentes da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais (Draco/IE), com apoio da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE). Também foram mobilizadas equipes da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), unidades do Departamento-Geral de Polícia Especializada (DGPE) e policiais civis de Minas Gerais e do Mato Grosso.
A Operação Contenção faz parte de uma série de iniciativas do Governo do Rio de Janeiro voltadas a conter e enfraquecer o avanço territorial do Comando Vermelho. Segundo as autoridades de segurança, o foco é atingir as estruturas financeira, logística e operacional da organização criminosa. Até o momento, as ações já resultaram na prisão de mais de 250 suspeitos, além da morte de outros 136 em confrontos, e na apreensão de cerca de 460 armas, entre elas 189 fuzis.



